Os preços do arrendamento de casas nas principais cidades do país estão a subir de forma estonteante a ponto de inquilinos começarem a abandonar as zonas urbanas mais nobres para residir em bairros modestos.
O fortalecimento do dólar e o abrandamento dos investimentos estão na origem desta situação que está afligir arrendatários, intermediários e senhorios.
Arrendar casas nas cidades de Maputo, Tete ou Pemba já foi um bom negócio, sobretudo para imóveis localizados em áreas residenciais mais requintadas. No caso da cidade de Maputo, até há pouco, os bairros da Sommerschield, Polana, Triunfo e Coop estavam no topo.
Por seu turno, na cidade de Tete, o bairro Matema era exclusivo para uma minoria capaz de pagar em dólar ou até mesmo em gordos volumes de meticais que os senhorios cobravam sem regateios. Em Pemba, na província de Cabo Delgado, as famílias mais chiques optavam pelo centro da cidade ou pelo Bairro de Expansão.
Era assim um pouco por todo o país, mas com realce para as cidades onde empresas multinacionais investiam na pesquisa de recursos minerais, pois ao redor destas havia tantas outras grandes, médias e pequenas empresas que demandavam habitação como nunca se viu no país.
Maputo, por ser a capital nacional dos negócios, experimentou momentos em que as rendas de casa mínimas que eram cobradas por flats, apartamentos, vivendas e casas geminadas variavam de dois mil (2000) a sete mil dólares (7000) mensais e ao câmbio do dia, isto numa altura em que o câmbio do dólar era feito a 30 meticais.
Feitas as contas, naquela altura, isto é, a cerca de um ano, 2000 dólares correspondiam a 60 mil meticais e 7000 equivaliam a 210 mil meticais. A pressão era tanta que até as dependências foram convertidas em pólo de negócio, incluindo terraços.
Em Tete, durante o boom da instalação de empresas mineradoras de carvão, os senhorios não hesitavam em cobrar 3000 dólares (90 mil meticais) por uma casa tipo três (t3) no bairro Matema, o mais nobre daquela urbe. “Quem não quer, deixa” era o pensamento dos donos das casas. Como a procura era alta, uns franziam o sobrolho e outros nem por isso. Pagavam na mesma.
De igual modo, as casas existentes no centro da cidade de Pemba, que fossem de t3, num passado recente foram tão valorizadas a ponto de se cobrar o equivalente a 3000 dólares (90 mil meticais) e, na zona de expansão cobrava-se um mínimo de mil dólares (de 30 mil meticais).
Dados colhidos junto de intermediários deste negócio que operam nas cidades de Maputo e Matola indicam que este mercado funciona com base na localização do imóvel do que pelo tamanho. Assim sendo, por uma casa tipo 1 (t1) da Sommerschield era possível pagar 85 mil meticais, quando por uma residência similar do bairro do Alto-Maé pagava-se cerca de 10 mil meticais.
“Podes encontrar uma casa bonita com estacionamento, cozinha americana e espaçosa no Zimpeto a ser arrendada por 15 mil meticais, mas na Polana, por uma casa parecida paga-se, no mínimo, 70 mil meticais mensais”, garantiu Lúcio Mate, corrector de imóveis.
Conforme este operador do ramo imobiliário, os preços das rendas eram fixados em meticais, mas com a chegada massiva de trabalhadores estrangeiros, sobretudo de grandes projectos, os senhorios inflacionaram, como mandam as leis da procura e da oferta.
É que muitos destes recém-chegados pagavam em dólares, sem pestanejar e sem se importavam muito com o tamanho do imóvel, desde que este estivesse localizado em zonas classificadas como nobres, inclusive na Matola, em locais como Belo Horizonte, Tchumene, Malhampsene, entre outros.
Com o negócio a florescer a olhos vistos, pessoas singulares e empresas investiram na construção de condomínios e de edifícios destinados ao comércio e até mesmo propriedades industriais. Este fenómeno ocorreu com particular incidência na cidade de Tete onde a pressão era tão alta que todos os hotéis e pensões requeriam reservas prévias por se encontrarem permanentemente esgotados.
…E VEIO A CRISE
A partir de meados do ano passado, o mundo começou a registar um fortalecimento contínuo da moeda norte-americana, o dólar, fenómeno que foi acompanhado pela queda dos preços das principais matérias-primas, com destaque para o alumínio, carvão, gás e petróleo, com que o nosso país contava para se afirmar economicamente.
Este quadro conduziu a uma rápida alteração do rumo do negócio imobiliário uma vez que muitas empresas descontinuaram os seus investimentos e, por isso, se viram obrigadas a racionalizar a sua mão-de-obra e a implementar planos de contingência financeira.
Alguns dos trabalhadores estrangeiros que, no entanto, continuam no país vêem-se forçados a mudar de residência para casas modestas. No caso de Maputo, este fenómeno é visível nos bairros Central-A, Alto-Maé, Malhangalene, entre outros que estão a receber novos inquilinos deslocados de bairros distintos, e já começa a haver casas vazias um pouco por toda a parte.
Os senhorios das zonas suburbanas também estão a ter problemas para arranjar inquilinos mesmo tendo preços mais baixos em relação ao centro da cidade. Muitas dependências estão a espera de ocupantes e, segundo apuramos, algumas estão há mais de seis meses desabitadas.
Argentina Manhiça, proprietária de um imóvel no Museu contou à nossa Reportagem que o seu inquilino fez uma carta há seis meses a pedir para rever o valor da renda. “Vi-me obrigada a aceitar a proposta e baixamos o preço, mas, mesmo assim, há dias disse que só vai pagar por mais dois meses correspondentes ao aviso prévio e abandonar o imóvel”, lamentou.
O que lhe preocupa neste momento é que sem inquilino na sua casa terá dificuldades para ela mesma pagar a renda na casa onde reside. “Terei que recorrer a intermediários para encontrar outro inquilino”.
Em Tete, a nossa Reportagem apurou que muitos empreendedores construíram casas, lojas e armazéns convictos de que recuperariam o seu investimento em poucos anos, mas a realidade está a mostrar o contrário e começam a surgir complicações no pagamento de prestações de créditos bancários.
“A cidade de Tete tem lojas em shoppings cujos arrendatários abandonaram e alguns hotéis já oferecem quartos a 1500 meticais quando há cerca de um ano era impossível encontrar acomodação a menos de 3000 meticais, mesmo em pensões”, apurámos junto de residentes de Tete.
VIVER COM A
CALCULADORA EM PUNHO
Lúcio Mate entende que conjuntura económica está desesperar os proprietários das casas uma vez que estes insistem em contrariar as directivas do Banco de Moçambique que indicam que as transacções feitas em território nacional devem ser em Meticais.
“Ficou complicado actuar neste mercado porque os proprietários das casas fixam as rendas em dólar e querem que o pagamento seja feito ao câmbio do dia. Ora, isso complica a vida do inquilino que deve despender cada vez mais meticais todos os meses para adquirir a mesma quantidade de dólares”, lamentou.
É que até Junho do ano passado, dois mil dólares correspondiam a 60 mil meticais, mas actualmente, os mesmos 2000 dólares correspondem a cerca de 130 mil meticais, o que torna a vida do inquilino difícil, porque nunca sabe quanto lhe vai custar a renda (em meticais) e a negociação com o senhorio deixa de ser pacífica. Pior porque há cada vez menos dólares disponíveis no mercado.
Se entre os inquilinos e senhorios a conversa começa a amargar, os intermediários destes negócios também já fazem as contas à vida porque os seus rendimentos estão a baixar drasticamente. “Num mês era possível fechar até quatro contratos de arrendamento, mas agora é muito difícil. Com um contrato fechado já nos damos por satisfeitos”, disse Lúcio Mathe.
Por seu turno, Raul Mafuca, representante da PX Soluções, uma empresa correctora de imóveis, disse que actualmente as casas que estão a ser procuradas para arrendar estão localizadas nos bairros Central, Malhangalene, Alto Maé, entre outros de classe intermédia, cujos preços sempre são fixados em meticais.
Macufa aponta ainda que este mercado está a começar a registar uma mudança de paradigma, porque alguns senhorios, ainda que com muita resistência, começam a se render às evidências e a aceitar estabelecer as mensalidades em meticais, o que permite que o valor da renda seja fixo.
“Ainda assim, deparamo-nos com senhorios que preferem ficar com os seus imóveis vazios, do que a arrenda-los em meticais que permitem que o inquilino tenha uma melhor previsibilidade das suas despesas”, disse.
EM ALTA TAMBÉM
NOS SUBÚRBIOS
Para quem não tem posses que vão por aí alem, os subúrbios oferecem alternativas e, a cotação das residências varia igualmente em função da qualidade, tamanho e localização. A título de exemplo, no Bairro Mavalane-B, em Maputo, é possível encontrar casas simples com luz e água a preços que variam de três mil meticais até 8 mil meticais.
Entretanto, nos casos em que o senhorio dispensa apenas um quarto, este pode pagar ate 1500 meticais por uma área onde apenas cabe o inquilino e seus pertences que não podem ir para lá de uma cama casal, uma mesa, quatro cadeiras, um fogão e pouco menos.
Ainda em Maputo, observamos que no bairro de Malhazine, os preços das rendas partem de dois mil meticais, por uma dependência independente com água e luz e este cenário repete-se um pouco por toda a área suburbana de Maputo. Mas, também há casas cujas rendas são fixadas abaixo de mil meticais. Mas, como se pode imaginar, as condições “são aquelas”.
A nossa Reportagem visitou alguns bairros para comparar os preços das rendas e constatou que no Condomínio Nwatimbuti, o maior na zona de Mavalane, foram construídas 12 casas, das quais três estão desocupadas há mais de seis meses e as restantes tem os preços das rendas está desactualizados.
Adriano Cossa, proprietário destes imóveis, disse que naquele bairro quase todas as famílias têm dependências ou quartos para arrendar e isso faz com que se torne cada vez mais difícil conseguir inquilinos porque há uma forte concorrência.
Texto de Angelina Mahumane
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