Texto de Idnórcio Muchanga e Foto de Carlos Uqueio
Os gestores das Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME´s) enfrentam dificuldades de acesso ao crédito devido ao desconhecimento das oportunidades e programas de assistência e financiamento existentes e, por outro lado, à complexidade dos requisitos exigidos pelos bancos comerciais no que concerne às garantias dos empréstimos.
Estes dados foram revelados, na semana passada, em Maputo, pelos participantes da IV edição da conferência “Conheça e Use Financiamento PME”, subordinado ao lema “Solução de Financiamento PME com apoio externo”, promovida pelo Instituto para a Promoção das Pequenas e Médias Empresas (IPEME).
No final da conferência, os organizadores foram recomendados, pelos participantes, a terem em conta aspectos cruciais relacionados com a massificação de políticas e divulgação de programa de facilitação de acesso ao financiamento que o Banco de Moçambique (BM) tem vindo a implementar para o fortalecimento da capacidade competitiva das MPME´s.
Aquele evento constituiu uma oportunidade informativa integrada em relação ao acesso ao crédito financeiro e ao apoio externo. Participaram no encontro, para além dos bancos comerciais nacionais, o Fundo Empresarial de Cooperação Portuguesa e Holandesa que difundiram os seus programas de assistência financeira destinados às MPME´s.
Segundo o vice-ministro da Indústria e Comércio, Kenneth Marizane, o mercado financeiro moçambicano está a registar melhorias na oferta de produtos de investimento às MPME´s. Entretanto, não havendo uma partilha de experiência ou diálogo entre o financiador e o investidor, isso pode, de certa forma, minar o desenvolvimento deste grupo de empresas.
Aquele governante referiu ainda que algumas das dificuldades que as Micro, Pequenas e Médias Empresas têm enfrentado estão relacionadas com a gestão empresarial, apresentação de plano de negócio, transporte e a versão do risco para apresentação de garantias exigidos pela banca.
“São pressupostos que não só conferem relevância e pertinência a esta conferência, mas também, desafiam-nos a ter um mecanismo de solução prática a partir do qual estas empresas poderão assegurar assistência e fortalecer as suas actividades”.
Por seu turno, o director-geral do IPEME, Claire Zimba, disse que o encontro serviu para trazer ao público alguns pontos do programa de solução de financiamento para as MPME´s com apoio externo, eventualmente pouco conhecido.
Claire Zimba reconheceu o esforço do Governo Moçambicano na contribuição da busca de soluções de financiamento para as MPME´s, no entanto, por motivos diversos, nomeadamente, o desconhecimento ou fraco uso da informação, sobre os requisitos necessários para solicitação do crédito, acaba contribuindo negativamente para actividade dos pequenos empresários.
Dados em nosso poder indicam que as Pequenas e Médias Empresas (PME`s) são as mais representativas no país, com cerca de 99 por cento, do número total de empresas registadas, empregando pouco mais de 24 por cento da força de trabalho formal total do país. Entretanto, este grupo tem sido confrontado com problemas de financiamento externo.
Apesar de o seu reconhecido potencial como motor de crescimento, a contribuição das PME’s para o Produto Interno Bruto (PIB) é baixa, por conseguinte, tem níveis de produtividade ainda baixos. As micro empresas correspondem a cerca de 80 por cento, as pequenas, a dez por cento, e as médias empresas a nove por cento, sendo o volume de negócios de todas estas empresas corresponde a 33 por cento do total.
Aliás, estas empresas destacam-se a nível do comércio com mais de 55 por cento, na hotelaria com 21 por cento e manufactura com cerca de dez por cento. A agricultura fica com dois por cento, a construção civil com menos de um por cento e transporte e comunicações com pouco mais de um por cento.
“Este é o mecanismo de subsídios empresariais que foi implementado no âmbito do projecto de apoio financeiro sob a liderança do Ministério da Indústria e Comércio, a luz de uma solução orientada e desenhada com ajuda do Banco Mundial para criar capacidade competitiva para este grupo de empresas”, disse Claire Zimba.
O IPEME criou um projecto designado “solução primavera” que é um aplicativo de contabilidade básica para micro e pequenas empresas, que disponham dum valor até um milhão de meticais para a sustentabilidade do investimento e conta-se com cerca de 200 empresas que usam essa plataforma.
Enfrentamos dificuldades maiores
-afirma Luís Marcos Matana
Luís Marcos Matana, Administrador Executivo da Serigrafia Marcos e Nyeleti (M&N Serviços), disse que as MPME´s registam dificuldades em obter créditos de financiamento para o desenvolvimento do seu negócio. Segundo a fonte, para quem consegue esses créditos, as taxas de juros são elevadíssimas.
“Temos um mercado bastante inconstante e infelizmente o Governo moçambicano não defende adequadamente as empresas nacionais, daí que não temos facilidades mesmo na exportação de produtos nacionais para fora”.
“É com estas conferências que os dirigentes das instituições financeiras ficam apar das dificuldades que as MPME´s enfrentam, porque, às vezes, a informação é bloqueada e não chega com precisão a eles”, referiu Matana.
Há falta de informação
sobre crédito de financiamento
-afirma Paulo Lopes
Paulo Lopes, director-geral da Baker Tilly Moçambique, empresa especializada na produção de relatórios, face às dificuldades enfrentadas pelas MPME´s, avançou que muitos gestores, empresários e investidores não estão informados sobre as possibilidades de suportar o crescimento do seu negócio através de crédito de financiamento que pode ser obtido com financiamento externo.
Outro problema, na óptica do nosso interlocutor, é a falta de capacidade de gestão, com vista ao desenvolvimento e capacidade de exportação dos produtos.
“Neste caso, precisa-se, naturalmente, de algum apoio financeiro, mas com a elevada taxa de juro, 20 por cento, praticada pelos bancos comerciais, é impossível qualquer empresário solicitar esse financiamento”, rematou Paulo Lopes.