Os preparativos para as festas do Dia da Família (Natal) e de Fim de Ano na província e cidade de Maputo estão a ser marcados por uma invulgar estabilidade de preços, ausência de clientela nos principais mercados e por um abarrotar de produtos descomunal para a época.
A nossa equipa de Reportagem efectuou uma ronda pelos principais mercados da cidade de Maputo, nomeadamente, grossista do Zimpeto, Malanga, Fajardo, Xipamanine, e Janet, e por tantos outros localizados no município da Matola, nos quais constatou um cenário atípico de bancas inundadas de mercadoria diversa, quer importada, quer de manufactura local, mas, sem clientes a efectuarem compras.
Segundo apuramos nestes locais, um dos preços que registou alguma oscilação foi da batata-reno com um aumento que chega aos 50 meticais, mas muitos comerciantes preferiram manter os preços para não terem quebras por se tratar de produtos bastante perecíveis.
No mercado do Zimpeto, até ao fecho da nossa edição, o movimento era semi-morto. Um cliente aqui, outro acolá fazia compras e se dava ao luxo de regatear os preços, coisa que é simplesmente fora de série tendo em conta as quadras festivas anteriores em que “a faca e o queijo” estavam em poder dos vendedores.
Para este ano, o cenário está a ser contrariado pela mudança dos tempos e das vontades. É que, há uma tendência generalizada de refrear os ânimos perante a quadra festiva para se investir de forma mais cuidada nas necessidades que o mês de Janeiro impõe, nomeadamente o início do ano lectivo, entre outros compromissos de âmbito doméstico.
Amadeu Magaia, comerciante no mercado do Zimpeto, disse ao nosso jornal que na sua banca o único produto que oscilou foi a batata, mas não foi por causa das festas. “Quando chegamos nas farmas, encontramos que os preços aumentaram devido ao movimento existente nesta época do ano”.
Para este comerciante, a esperança é que as coisas melhorem nos próximos dias, pois acredita que muitos trabalhadores ainda não auferiram os seus salários. Disse ainda que um dos motivos que contribuiu para a manutenção dos preços é a existência de produtos nacionais em quantidade e qualidade.
“Alguns dos clientes que aparecem por aqui preferem comprar batata e cebola nacional. Timidamente, o movimento vai aumentando, mas está muito diferente dos anos passados, espero que melhore, senão vamos perder muito”, disse.
Ainda no Zimpeto, a nossa equipa de Reportagem encontrou Palmira António, residente no Bairro de Khongolote, que fazia o rancho mais reforçado. Ela garantiu-nos que os preços ainda estavam acessíveis e conseguiu encontrar tudo o que procurava.
“Este ano decidi passar as festas em casa com a minha família, não vamos sair, nem receber ninguém em casa. O dinheiro não chega para fazer grandes despesas com as festas. Também os últimos acontecimentos, designadamente os ataques de Muxúngue, sequestros e a queda do avião pioram a situação e deixaram-nos desanimados e sentimos que não é altura para dar largas à gula”.
No que concerne ao movimento de preparação da quadra festiva, Palmira disse que muita gente “não está com cabeça”, pois todos os dias são de festa e, no momento, é só brindar pelo facto de mais um ano ter terminado e rogar para que o próximo seja melhor.
Porque no Zimpeto o movimento era simplesmente calmo, típico de meio do mês, quando poucos chefes de família dispõem de recursos nas algibeiras para fazer compras, decidimos partir para o mercado da Malanga onde encontrámos Elisa Nassone a fazer compras. “Estou a fazer o meu rancho normal. Os preços estão muito bem comportados, mas, penso que não é tempo de gastar por gastar. Comprei o habitual. Não há clima para grandes festas, tanto mais que a ansiedade das pessoas por este período reduziu e muito”, disse.
Depois de algumas voltas por aquele mercado, chegamos à conclusão de que o ambiente que ali se vivia era literalmente igual ao do mercado do Zimpeto, onde alguns vendedores tinham o gozo de puxar por uma soneca, jogar cartas e de mergulhar em amenas cavaqueiras.
Os vendedores reclamaram a fraca procura que se regista e se queixaram do facto de alguns produtos estarem a deteriorar-se, o que faz com que alguns optem mesmo por reduzir os preços, para não perder tudo.
“O movimento está muito fraco e penso que piorou por estes dias. As vendas estão muito baixas, pois, em condições normais, já devíamos ter muitos clientes, mas, a esperança é a última a morrer. Vamos aguardar pelos próximos dias”, lamentou Domingos Armando, vendedor do mercado Malanga.
Movimento normal na Junta
Depois de percorrermos tantos outros mercados, rumamos até ao Terminal da Junta onde observamos que o maior afluxo de passageiros vai para as províncias de Gaza e Inhambane. Para as províncias da região Centro e Norte do país parece haver um tímido aumento de passageiros, mas, nada que se compare aos anos transactos.
Naquele terminal, espera-se que com o regresso dos moçambicanos que trabalham na vizinha África do Sul a afluência seja maior. Aliás, por causa da lentidão com que os viajantes se aproximam da Junta, até a especulação das tarifas não está a ganhar espaço. Os preços continuam intactos, tal como indicam as placas por ali afixadas.
Também é verdade que as autoridades policiais reforçaram a sua presença naquele local para evitar que bandidos se misturem com trabalhadores honestos e haja lágrimas e ranger de dentes entre os viajantes.
Segundo apuramos no local, só na quarta e quinta-feira, viajaram para as zonas Centro e Norte do país, uma média de dois mil e 700 passageiros, um número que é tido como reduzido, mesmo considerando os períodos normais. Enquanto isso, para as províncias do Sul, as viagens decorrem sem sobressaltos e com passageiros na fila de espera.
Para Gil Zunguze, supervisor da terminal e transportador, o movimento está normal, mas baixo se comparado com o ano passado. Sublinhou que o movimento de autocarros que se dirigem para as províncias que se localizam no Norte do rio Save é baixo, mas, não compromete o negócio na medida em que a maior parte consegue sair e muitas vezes regressar sem grandes transtornos.
O nosso interlocutor garantiu que quase todos os dias saem dois autocarros para todas as províncias do Centro e Norte. “Os passageiros compram bilhetes um dia antes e embarcam sem problemas”, disse.
Conversamos ainda com Salvador Xavier, cobrador do Expresso na rota Maputo-Beira. Este disse que por ser Dezembro, são muitos que querem regressar às suas origens, apesar da tensão politico-militar que se vive no país, sobretudo na zona de Muxúngue. “Temos tido um número razoável de passageiros. Em certos dias partem até quatro carros, mas muitos dos passageiros vem da África do Sul”, disse.
“A verdade é que esta incerteza está a deixar-nos preocupados. As vezes levámos mais tempo para chegar a Beira, porque dependemos da coluna e esta acontece uma vez por dia. Ninguém arrisca atravessar por sua conta e risco, porque os ataques acontecem quase que diariamente”, disse.
Por seu turno, Zito Cumbe, transportador na rota Maputo-Pemba-Nampula disse que o movimento estava normal, mas que existem dias em que o autocarro sai com apenas 50 passageiros e, só em raras ocasiões é que se consegue ter todos os lugares preenchidos.
“Nós não trabalhamos com reservas, quem quer viajar connosco compra o bilhete e no dia seguinte partimos. O problema reside no facto de sermos obrigados a esperar pela coluna que só circula uma vez por dia. Por vezes chegamos atrasados por contingências da viagem e somos forçados a esperar até ao dia seguinte. Rezamos para que a situação se normalize o mais rápido possível para que possamos viajar sem medo e com a certeza de que chegaremos aos nossos destinos”, referiu.
Angelina Mahumana
Fotos de Jerónimo Muianga