O projecto de interconexão eléctrica entre Malawi e Moçambique poderá estar concluído dentro de dois anos, revelou esta semana o ministro malawiano da energia, minas e recursos naturais Atupele Muluzi.
Falando à imprensa, Muluzi disse que a interconexão vai permitir ao Malawi o acesso ao Pool de energia da Africa Austral, vulgarmente conhecido por SAAP, uma rede que congrega Moçambique, Zimbabwe e África do Sul. Estes três países fazem-se representar pelas respectivas empresas de electricidade, nomeadamente, a ESKOM (da África do Sul), a ZASA (Zimbabwe) e a EDM (Moçambique).
O SAAP foi criado com o objectivo de fornecer energia qualitativa e economicamente fiável aos consumidores de cada Estado membro integrado no projecto, em consonância com o uso racional dos recursos naturais e seus efeitos sobre o ambiente.
A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) regista um crescimento de consumo de energia na ordem de três por cento ano e Moçambique possui o maior potencial de geração de energia hídrica da região, seguido da Zâmbia e da República Democrática do Congo.
A interligação entre Malawi e Moçambique vai implicar a construção de uma linha de transporte de energia desde Matambo, na província de Tete, até as proximidades de Blantyre, um projecto a ser financiado pelo Banco Mundial em cerca de duzentos milhões de dólares e que vai permitir que o Malawi passe a receber cerca de duzentos megawatts de energia a partir da Hidroeléctrica de Cahora-Bassa (HCB).
Moçambique ainda não definiu os valores que o Malawi deverá pagar pelo consumo da energia moçambicana, devendo os termos comerciais serem negociados pelas empresas dos dois países num futuro breve. Entretanto, as autoridades moçambicanas ligadas ao sector de Energia já anunciaram que o negócio com o Malawi não significa necessariamente mais uma janela de oportunidade, porque Moçambique consegue vender toda a energia de que dispõe, independentemente do interesse dos malawianos.
Recorde-se que Malawi e Moçambique assinaram em Lilongwe em Abril de 2013, o acordo de interconexão eléctrica entre os dois países, a partir da Hidroeléctrica de Cahora-Bassa e, pouco depois da sua assinatura, os dois países decidiram rever alguns aspectos do acordo para que este possa trazer vantagens recíprocas.
Sendo assim, caso haja algum excedente, o Malawi poderá exportar energia enquanto Moçambique poderá utilizar o território malawiano como corredor para o transporte deste recurso para a zona económica de Nacala, na província de Nampula.
Presentemente, a demanda de energia no Malawi é de cerca de trezentos megawatts para abastecer os seus cento e oitenta mil clientes e o parque industrial, mas a capacidade disponível é de apenas duzentos e sessenta e seis megawatts.
De acordo com as projecções do Millennium Challenge Account (MCA), Malawi vai precisar de 603 megawatts a partir do próximo ano e de 829 megawatts em 2020. Isto significa que o consumo de energia eléctrica no vizinho Malawi vai duplicar a partir de 2015, na sequência de investimentos previstos no plano de desenvolvimento nacional.
O aumento de consumo deve-se à exploração mineira no norte do Malawi e à irrigação agrícola, com um potencial ainda subaproveitado. Por outro lado, a exploração mineira tem vindo a ser objecto de renovado interesse nos últimos anos, e de acordo com as pesquisas, o país dispõe de carvão, fosfatos, bauxite, entre outros minérios.
Um oficial sénior do ministério de Energia disse que o seu sector deverá estar à altura de dar resposta aos investidores nacionais e estrangeiros, sob pena de afundar cada vez mais a débil economia do país.
Ele precisou que o governo do Malawi tem planos para aumentar a capacidade de produção de energia para fazer face a crescente procura e sobretudo para atrair o investimento estrangeiro e a interconexão eléctrica com Moçambique é um dos pontos de partida para a materialização deste objectivo a que se associa o projecto que conta com o apoio da China para a construção de uma central térmica que poderá produzir trezentos megawatts.
A estratégia de crescimento e desenvolvimento económico do Malawi assenta na criação da riqueza como forma de reduzir a extrema pobreza, e o sector energético foi identificado como prioritário.
Dados em nosso poder indicam que apenas oito por cento dos cerca de catorze milhões de malawianos têm acesso a energia eléctrica, um recurso que por enquanto constitui um luxo sobretudo devido as tarifas praticadas pela sul-africana ESCOM.
O último reajustamento da tarifa foi de trinta e sete por cento para consumo doméstico e industrial devido ao aumento dos custos operacionais. O agravamento está sendo aplicado em fases para atenuar o seu impacto social, num país onde o custo de vida é tido como insustentável.
O órgão regulador de energia alega que até agora as tarifas praticadas no Malawi eram relativamente baixas em comparação com outros países da África Austral.
Nos últimos meses, os cortes de energia reduziram no país, depois da reabilitação de uma das centrais hidroeléctricas, o que permitiu gerar mais sessenta e quatro megawatts.
Fontes a que tivemos acesso indicam que noventa por cento da energia produzida no Malawi provém de fontes hídricas mas Lilongwe equaciona outras alternativas para não depender apenas dos rios. Especialistas do sector energético advertem que no caso do Malawi, a dependência de fontes hídricas pode ser arriscada porque em caso de uma seca o país pode ficar às escuras por falta de energia eléctrica.
As estatísticas indicam que para além de desencorajar a atracção do investimento directo nacional e estrangeiro, a crise de energia chega a custar cerca de duzentos milhões de dólares anuais em prejuízos para a economia malawiana.
Avelino Mucavele, em Blyntire