Texto de Angelina Mahumane
O governador do Bando de Moçambique, Ernesto Gove afirma apesar de alguma perturbação que o mercado cambial está a registar, que resulta do fortalecimento do dólar em relação às principais moedas, nomeadamente o euro, iene, libra e rand, não há razões para qualquer tipo de pânico. Aponta que os bancos e mercados funcionam normalmente e que o país dispõe de reservas para ultrapassar as adversidades.
O fortalecimento do dólar é uma dor de cabeça para qualquer agente económico cuja actividade obriga a importar ou a exportar porque os ganhos resultantes das exportações reduzem e os custos das importações se agigantam.
Este fenómeno está a acontecer um pouco por toda a parte e afecta até como colossos económicos, nomeadamente a zona euro, Japão, Inglaterra e África do Sul, e também a países como o Brasil, China, entre outros rotulados de emergentes.
Como fazem os comandantes dos aviões comerciais, Ernesto Gove alerta que, por causa da robustez do dólar, a economia nacional está a atravessar “alguma turbulência”, mas pede para que todos se mantenham calmos porque estão a ser tomadas as devidas medidas para evitar o colapso.
“Trata-se de uma perturbação em relação a qual respondemos com as intervenções que são necessárias para que não se criem problemas significativos no funcionamento da nossa economia”, sublinhou Ernesto Gove.
Numa avaliação do comportamento da taxa de câmbio no ano passado, sobretudo no último trimestre e parte deste ano, o Banco de Moçambique constatou que sentiu-se uma forte depreciação do metical em relação ao dólar. “Se olharmos para a variação do metical em relação ao dólar de Março para Dezembro de 2014 notamos que há uma apreciação de cerca de cinco por cento”.
Este quadro terá prevalecido até ao mês de Março deste ano pois, o mercado cambial esteve sob forte pressão devido à apreciação do dólar que chegou a ser cotado em quase 35 meticais por dólar, correspondente a uma depreciação mensal (do metical) de cerca de oito por cento.
Enquanto isso, nos bancos comerciais a taxa de câmbio média foi de quase 39 meticais por dólar, traduzindo uma depreciação mensal do metical de pouco mais de 12 por cento. Tudo isto, segundo a análise do Banco de Moçambique resulta do fortalecimento do dólar no mercado internacional.
Porém, esta não é a única justificação para o fenómeno. Segundo Ernesto Gove houve uma grande demanda por divisas para importação de bens e serviços no contexto da reconstrução pós-cheias e uma redução das receitas de exportação face à queda generalizada dos preços da grande maioria dos produtos tradicionais de exportação.
Entretanto, dados mais recentes apontam um afrouxamento da pressão no mercado cambial doméstico em resultados das medidas adoptadas pelo Banco de Moçambique. A taxa de câmbio média das transacções dos bancos comerciais com o público recuou de 39 para cerca de 36 meticais, representado uma apreciação de cerca de seis por cento, se comparado com finais de Março.
“Exortamos o povo moçambicano, as empresas e cada um de nós para que continue a fazer o que pode para protegermos a nossa moeda e continuarmos no trilho que nos coloca como um dos países com crescimento elevado”, disse Gove.
O Banco de Moçambique considera que proteger a moeda e manter o crescimento económico alto não é missão impossível porque as condições para tal estão criadas. “Não há razão para qualquer tipo de pânico. Os bancos funcionam, os mercados funcionam normalmente e temos reservas para ultrapassar as adversidades que os mercados nos impõem”.
QUEDA DE PREÇOS
Segundo o Governador do Banco de Moçambique, Ernesto Gove, a instituição que dirige tem acompanhado a queda significativa de preços de certas mercadorias que o país importa, como é o caso do preço do petróleo no mercado internacional, ao mesmo tempo que acompanha a queda de preços de produtos que Moçambique exporta, nomeadamente tabaco, açúcar e carvão.
Gove defendeu que isto significa que, na conjuntura actual, se a queda de preços dos produtos importados beneficia a economia nacional, ao mesmo tempo, a queda dos preços dos produtos que país exporta faz com que a balança de contas correntes moçambicana continue deficitária.
Aliás, tendo em conta aquilo que foi em 2014, a queda das importações não foi no mesmo ritmo da queda das exportações, quer dizer que a balança comercial esteve negativa por ter registado a queda mais significativa das exportações em relação às importações.
Dados divulgados pelo BM relativamente a balança de pagamentos indicam que no quarto trimestre de 2014 as receitas das exportações reduziram em cerca de cinco por cento, associado a queda generalizada dos preços das mercadorias no mercado internacional, com destaque para os preços do carvão, algodão e açúcar.
No entanto, o impacto desta redução na conta corrente foi, de algum modo, compensado pela redução das importações de bens e serviços, o que reflecte a queda de importações dos projectos de investimento directo estrangeiro.
Este fenómeno terá contribuído para a redução do défice da conta corrente em cerca de 456 milhões de dólares americanos, o equivalente a 36 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), após um registo de 41 por cento do PIB em 2013.
DESAFIOS MAIS EXIGENTES
Ernesto Gove garantiu que o Banco de Moçambique tem estado atento, como sua responsabilidade, ao desenvolvimento da economia moçambicana, pois a cada ano que passa surgem desafios cada vez mais exigentes, como consequência das condições económicas e sociais que se vão alterando.
“Este ano iniciamos com inundações em partes significativas do nosso país que destruíram infra-estruturas diversas e pessoas ficaram desalojadas, mas acreditamos que com o esforço de todos moçambicanos e com o sistema bancário, como alavanca na dinamização da economia, tudo será feito para repor a situação que todos desejamos”, frisou.
Em relação à crise internacional que afectou vários países do mundo, Ernesto Gove disse que estamos num período em que devemos dizer que é o rescaldo da grande crise, ainda não esteja totalmente debelada, pois ainda é possível encontrar economias lutando pela sua recuperação. “Há países emergentes que cresciam entre 8 e 8.5 por cento e por isso puxavam outras economias pequenas para frente, mas nos últimos tempos notamos um certo abrandamento”.
Quarenta anos
celebrados com dignidade
O Banco de Moçambique assinala em breve a passagem dos 40 anos de existência e 35 da criação da moeda nacional, o metical, efemérides que o governador daquela instituição disse que seriam celebradas com toda a dignidade e solenidade.
“Queremos celebrar com toda essa dignidade, orgulhando aos trabalhadores e à sociedade em geral, mas acima de tudo queremos aproveitar o momento para que recebamos lições destes que regaram os pilares da nossa instituição com seu suor e as suas lágrimas, criando todas as condições para que tivéssemos um banco central no país”.
Ernesto Gove referiu ainda que aquando da celebração dos 35 anos de existência do BM foi feito o mesmo exercício, mas há sempre um fluxo de trabalhadores que entram e os que vão à reforma. A ideia é trazer a voz dos dirigentes e dos trabalhadores que, sobretudo, são os responsáveis do sucesso que hoje registamos.
Tais trabalhadores, segundo Gove, “deverão explicar à nação qual foi o percurso histórico do país, quanto custou a Bandeira de Moçambique, quanto custou sermos independentes e como é que nesse processo tiveram a clarividência de prever a existência de uma instituição tão importante como a nossa”, concluiu
Texto de Angelina Mahumane