O Banco de Moçambique (BM) mostra-se preocupado com a actual depreciação metical face ao dólar, pois no fecho do primeiro trimestre de 2015, a moeda nacional observou uma acentuada desvalorização mensal em todos os seguimentos do mercado cambial, face ao dólar americano.
Ainda no mesmo período, as operações realizadas entre os bancos comerciais e o público foram caracterizadas por um metical transaccionado a quase 39 meticais por dólar, correspondendo a uma depreciação mensal acima de 12 por cento, o que acelerou a depreciação acumulada e anual para cerca de 14 e 24 por cento, respectivamente.
As principais razões apontadas pelo Banco de Moçambique para a depreciação da moeda nacional face ao dólar americano estão relacionadas ao fortalecimento do dólar no mercado internacional aliado à pressão sobre a procura de divisas para pagamento de importações.
A referida pressão está a ocorrer num quadro em que as receitas de exportações moçambicanas reduziram devido à queda generalizada dos preços das matérias-primas no mercado internacional.
Outro factor que contribuiu para o fortalecimento do dólar, segundo a mesma fonte, esteve ligado ao contexto da reconstrução do país após as cheias que se verificaram no começo deste ano e perante a queda generalizada dos preços da grande maioria dos produtos tradicionais de exportação.
Dados em nosso poder indicam que o diferencial entre a taxa de câmbio do metical face ao dólar, no Mercado Cambial Interbancário (MCI), e a taxa de câmbio praticada pelos bancos comerciais nas transacções com a sua clientela aumentou para pouco mais de 11 por cento no fecho do primeiro trimestre de 2015, após registar cerca de oito por cento e três por cento, no final do quarto e primeiro trimestre de 2014, respectivamente.
Por seu turno, a taxa média dos bancos comerciais ultrapassou a das casas de câmbio, no fim de Março de 2015, o que resultou num diferencial de cerca de quatro por cento a favor das instituições de crédito.
Dados mais recentes mostram uma desaceleração da depreciação acumulada do metical face ao dólar, no MCI, que passou de mais de nove por cento em Março para perto de seis por cento em Abril e nos bancos comerciais de 14 por cento para cerca de sete por cento.
O Banco de Moçambique interveio no mercado cambial até o mês de Abril no sentido de vender divisas em face das necessidades do mercado, que resultou na emissão de divisas no valor de 481 milhões de dólares norte-americanos, equivalentes a 479 milhões de dólares no primeiro trimestre, contra 423 milhões de dólares vendidos em igual período do ano passado.
“Estamos a seguir um regime cambial flexível daquilo que é o andamento do dólar no mercado internacional que deve reflectir o comportamento no nosso mercado doméstico. Assim sendo, o fortalecimento do dólar no mercado internacional gera impactos adversos sobre o andamento da taxa de câmbio local”, sublinhou Waldemar de Sousa, administrador do BM.Para conter a depreciação do metical, o banco central reforçou as suas obrigações no Mercado Interbancário, seja no mercado monetário actuando por via de enxugamento de liquidez excessiva que o mercado apresentasse, como também através de uma maior oferta divisas em face das necessidades que o mercado cambial apresentasse.
AMECOM PREOCUPADA
A Associação Moçambicana de Economistas (AMECOM) solicitou a apreciação da actual conjuntura ao professor da Faculdade de Economia, Eduardo Neves, que é igualmente administrador da Bolsa de Mercadorias, o qual afirmou que as principais recomendações são de que é necessário adoptar políticas fiscais e monetárias prudentes.
“Tem que haver uma certa previsibilidade na economia. Por outro lado, deve haver uma estabilidade política. Tem que haver todo um conjunto de elementos que tanto alteram os fundamentos como também a formação das expectativas”, disse.
Com efeito, na análise deste economista, parte da pressão que ocorre no mercado resulta do facto do país ter registado violentas cheias no início deste ano o que gera grandes expectativas em torno das necessidades de importações.
Mais adiante, Eduardo Neves disse que os factores que explicam a depreciação são vários e incluem a divulgação de informações que indicam que vai haver um défice orçamental porque quanto maiores são os gastos, maior será a pressão inflacionária.
“Sei que para fechar aquele défice vai ser difícil. Não acredito muito que os nossos parceiros internacionais vão dar tanto dinheiro como nós pensamos. A probabilidade de haver mais endividamento público é maior e isso vai criar uma pressão altíssima nas taxas de juro”, reforçou.
Por outro lado, Neves acredita que o negócio de câmbio informal também contribui bastante para o reforço da pressão cambial uma vez que movimenta avultadas somas e esse dinheiro movimentado acaba impactando de certa forma o mercado cambial.
“Li num jornal que o nível de Reservas Líquidas Internacionais está baixo, por exemplo. Uma informação destas num agente económico também cria muita expectativa. A conjugação destes factores não podem ser ignorados”, sublinhou.
Também se referiu a muitas notícias que alimentam expectativas e que também acabam influenciando os fundamentos económicos, como são os casos de despedimentos em grandes empresas ligadas ao ramo da exploração de recursos minerais, queda de preços de produtos de exportação e adiamento de investimentos.
“Lemos há dias que o tesouro tem um buraco muito grande, pensava-se que havia muito dinheiro e agora dizem que não está lá. Que implicações isso tem? Algumas pessoas prestam atenção nisso”, referiu.
Entre outros factores internos que concorrem para a derrapagem da moeda nacional, Eduardo Neves enumerou os discursos políticos e os raptos. “Os raptos também influenciam e quando se ouvem notícias de mais um rapto os investidores recuam. Nos momentos em que há esses fenómenos a taxa cambial fica perturbada”.
FACTORES DE PRODUÇÃO AFECTADOS
Entre outras reacções ao cenário actual em que a moeda nacional parece estar em queda livre, a Confederação das Associações Económicas (CTA), pela voz de Luís Magaço, que responde pelo pelouro financeiro desta agremiação, disse que “a desvalorização do metical tem impacto nos factores de produção a começar peça subida do preço dos insumos”.
Segundo Magaço, a CTA tem uma posição sobre o assunto na qual consta que a queda da moeda nacional implica um aumento geral de preços de bens e da taxa de inflação e que com a desvalorização há problemas de poupar menos meticais porque existe o medo de que o dinheiro se pode perder. “Quando se tem divisas não se troca em meticais”.
Por outro lado, a leitura da CTA indica que a meta do equilíbrio da taxa de câmbio obriga o Banco de Moçambique a usar as Reservas Liquidas Internacionais para poder manter a taxa de câmbio estável, o que tem as suas consequências.
Outra dura consequência vista pela CTA é que a flutuação do metical está a obrigar a uma reconfiguração contabilística nas empresas que possuem activos em dólares.