TEXTO DE JOCA ESTÊVÃO
JOCA.ESTEVAO@SNOTICIAS.CO.MZ
O “magriço” Hilário da Conceição, filho de pai português e mãe moçambicana, cresceu na Mafalala, que, como é sabido, é um bairro de várias estrelas em artes diversas. Uma delas é Eusébio, com quem jogou na selecção portuguesa. José Craveirinha é outra incontornável figura na literatura moçambicana, até na política, como no desporto. Há muito mais. Samora Machel, primeiro presidente de Moçambique independente, que, não nascendo naquela região da então cidade de Lourenço Marques, desenvolveu-se por lá antes de partir à luta de libertação nacional.
Mafalala é tida como zona de confluência de culturas e hábitos que caracterizavam, sobremaneira, a periferia como, por exemplo, confrontos de meninos, até homens, sobretudo em tempos idos, para mostrar mais respeito ou superioridade de uns pelos outros. Hilário viveu isso. “Sempre que voltasse à casa a chorar por ter sido agredido, apanhava, de novo, da minha mãe. Sentia revolta e, ao mesmo tempo, injustiça por ser espancado fora e em casa. A resposta é que eu devia ter-me defendido. Foi aí que resolvi treinar boxe para aprender a defender-me e resultou. A partir daí ninguém mais chateava-me. Conheceram a dor do meu punho e habilidade para defender-me”, confessou Hilário da Conceição, que também lembrou que nos jogos do bairro “andávamos, de vez em quando, aos socos. Não havia problema porque ninguém nos castigava por isso. Até tomávamos gosto por isso”.
Era notável a nostalgia no antigo jogador do Sporting de Lourenço Marques, Sporting de Portugal e da selecção portuguesa, que mais adiante trouxe mais um retrato dos jogos do bairro. “Jogávamos sem camisolas. Entrávamos em campo 11 contra 11, mas tudo fazíamos para não perder a bola e nem passá-la ao adversário. Conhecíamos a posição dos nossos colegas e dos movimentos que faziam”, acrescentando que “jogávamos descalços. Não havia dinheiro para comprar sapatilhas, nem botas e, como andávamos sempre descalços, a planta do pé endurecia e não sentíamos dor ao pisar os picos. Quando enfrentássemos rapazes com melhores condições (com botas), fazíamos a bola rolar na parte dos picos. Eles não iam para lá. O 4x3x3, 4x4x2, ou qualquer outra disposição táctica não era a mais importante nesses jogos. A nossa táctica era passar a bola pela zona dos picos”, revelou. Leia mais…