Recorro ao dito do meu prestigiado colega e amigo Belmiro Adamugy – Sem cultura somos nada – para descrever o triste cenário que testemunhei na vila da Ponta do Ouro, onde estive há dias, a trabalho. Éramos três, eu, o fotógrafo Carlos Uqueio e o senhor Custódio, que amavelmente nos conduziu até aquela ponta do país que é uma maravilha.
A nossa viagem tinha um objectivo, o de entrevistar uma senhora que por lá reside. Terminada a entrevista, o Carlos, com o seu olhar de lince, sugeriu que nos aproximássemos da paisagem por forma a fazer o registo fotográfico. Aceitámos e lá fomos. Entretanto, antes de chegarmos ao local da fotografia, olhei para os lados e vi rostos sem esperança, olhar de desconforto, presença de miséria. Pedi ao senhor Custódio para parar o carro. Obedeceu.
Depois desci para conversar com os jovens cuja vida é ou era feita através da venda de bijuterias, esculturas, pulseiras, calções e camisas de praia, bikinis, capulanas e uma variedade de coisas coloridas, muitas das quais os turistas e os demais que para lá vão levam como lembrança.
A nossa conversa tinha uma direcção – clemência. Clemência pela fome, clemência por nada ter, clemência por não saber sobre o amanhã e clamor por melhores dias. Leia mais…
TEXTO DE FREDERICO JAMISSE
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