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Teria sido dos melhores futebolistas do mundo!

Por admin

Morreu na terça-feira, 20 de Maio, o ex-futebolista do Desportivo de Maputo Manuel Muchama Júnior, vítima de doença. Seus restos mortais foram a enterrar na quinta-feira, 22 de Maio, no Cemitério de Lhanguene, na cidade de Maputo.

Manuel, enquanto jogador, soube tratar a bola de futebol como muitos não o conseguem fazer. Tinha os pés apontados para a baliza, tendo sido um dos melhores rematadores e marcadores de golos da geração de oitenta. Já na década de setenta se destacava nos relvados. Nesse período, quando ainda juvenil, rumou para Portugal, onde representou o FC do Porto e Portugal.

Aqui no país fez dupla de avançados bastante temida com Calton Banze. Juntos deram muita alegria ao futebol de então. E é mesmo Calton quem nos contou um pouco da carreira de Manuel que nasceu a 10 de Outubro de 1958.

Aos 12 anos de idade Manuel chega ao Desportivo de Maputo, mas não pôde ser inscrito por ser menor de idade. Seu amigo, Calton, que tinha 13 anos, foi inscrito.

Mesmo sem ser inscrito pelo Desportivo, Manuel ia aos treinos todos os dias. Fernando Perdigão, ex-jogador de Portugal, que viera terminar a sua carreira no Desportivo de Maputo, quando já treinador “alvi-negro” via no “puto” Manuel muito potencial futebolístico. Perdigão passava informações ao FC do Porto sobre as qualidades de Manuel e Calton.

Em 1972 o FC do Porto veio a Lourenço Marques (Maputo) para um jogo amigável com uma equipa moçambicana. Desportivo apresentou valores elevados para "venda" do seu jogador Calton, que o Porto não os aceitou.

Perdigão levou Manuel para o treino do FC do Porto, onde se equipou e fez a peladinha com os portugueses. O puto simplesmente “partiu a loiça”! Resultado: em pouco menos de 24 horas toda a documentação de Manuel estava pronta para seguir com o FC do Porto a Portugal. Facto consumado. Já na Europa, Manuel passou a fazer parte da selecção nacional de Portugal, em juvenis.

Tudo corria bem para Manuel em Portugal. Já tinha apartamento próprio. Mas…mas, de Moçambique chega-lhe a notícia de que o seu pai estava muito doente e o queria de perto. Tinha de regressar!

Dirigentes do FC do Porto disseram a Manuel que melhor não seria ele voltar a Moçambique. Prometeram mandar dinheiro para o seu pai ou este seguir para Portugal para tratamento médico. Entretanto, o pai se recusou. Manuel regressou em 1976, quando ainda júnior.

Já em Lourenço Marques, Manuel ingressa na equipa sénior do Desportivo, de onde depois saiu para a Romos e mais tarde para o Desportivo da Beira. Terminou sua carreira no Desportivo, apoquentado por lesão.

“Sobre a lesão que lhe fez parar de jogar nada se soube. Só ele sabia em que circunstâncias aconteceu. Manuel era uma pessoa espectacular, activo dentro e fora dos campos, mas nunca quis falar da sua lesão. Morreu com esse segredo. Gostava de cantar no balneário e durante os treinos. Punha a malta bem-disposta para os treinos e para os jogos. Deixou viúva e sete filhos. Creio que teve só um rapaz”, disse Calton Banze.

Calton contou-nos ainda que mesmo fora do Desportivo (trabalhava na Padaria Aziz) Manuel ia ao seu clube de coração ver os miúdos a jogarem.

“Fomos colegas e amigos. Quando a minha mulher faleceu ele sempre me aconselhava que voltasse a casar. Sempre dizia: Calton, volta a casar. Quando há dois meses me casei, ele ficou muito feliz”, contou Calton, comovido e com os olhos embaciados.

Por vezes se comentava que Calton e Manuel não se entendiam. Nada disso. Acontecia que as pessoas confundiam os dois, quer no campo quer fora das quatro linhas.

“Às vezes me chamavam Manuel e a ele Calton. Outras vezes chamavam Chababe de Manuel ou Calton. Isso não nos incomodava. A bola é que nos unia”, recorda-se Calton.

Calton disse que quando jogador do Sporting, no Estádio de Alvalade, em Lisboa, ouviu Fernando Gomes, ex-jogador do FC do Porto, a tecer elogios a Manuel e a questionar porque regressara a Moçambique de vez. Ambos jogaram juntos na selecção portuguesa de juvenis.

“…o balneário do Sporting, onde Fernando Gomes veio terminar sua carreira, parou para ouvi-lo a elogiar Manuel, que para ele, e para nós, passou ao lado de uma grande carreira de futebol.”

Calton recorda que “ Manuel marcou golos de todo tipo e feitio. Uma vez na disputa da bola com um guarda-redes, este ficou com o esférico. Manuel ficou de costas à baliza. Quando o guarda-redes bateu com a bola ao chão, eis que ele vira, rouba-lhe o esférico e remata fortíssimo para golo que ninguém esperava ver. Foi o golo mais esquisito da sua carreira e do Desportivo, resultado da ratice e malandrice. Durante anos falamos desse golo. Noutras ocasiões ele aparecia a emendar a bola quando percebia que do meu remate ou do Sitói o esférico não iria directo à baliza. Faro. Tinha muito faro. Era um ponta-de-lança nato. De raiz.” 

Manuel Meque

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