Valentim Munguambe é Secretário-geral da Matola Servitrade e “respira” o futebol feminino há anos. Recebeu com tristeza a informação da suspensão internacional da selecção nacional, sobretudo porque os clubes não foram devidamente informados e ignoram a agenda dos próximos dois anos.
– Que planos há? É para reorganizar-se o quê? Suspender para não fazer nada? Será que precisamos de dois anos para perceber que a federação nunca se interessou pelo futebol feminino?
São questões colocadas por Munguambe e ainda sem resposta por parte da direcção da FMF. O entrevistado entende que jogadoras com talento estão à disposição da federação.
Por isso, para o dirigente, a principal lacuna reside na indicação de pessoas certas para dirigirem as selecções nacionais. Questiona por que razões a federação nunca aceitou indicar técnicos do futebol feminino para as selecções nacionais.
Explica que ao longo de anos foram solicitados técnicos do futebol masculino sem conhecimento da realidade feminina, facto que limita o desenvolvimento das selecções nacionais.
– Se perguntar a Aquimo Rachid, actual seleccionador nacional, o nome de cinco equipas do futebol feminino, vai gaguejar porque provavelmente não conhece. E se não conhece as equipas, o que dizer das atletas? A selecção humilhada na Tanzania não representa o melhor que temos no país.
Acrescenta que “nós no clube recebemos um telefonema da federação a dizer para mandarmos jogadoras com 20 anos para o campo do 1° de Maio para a selecção nacional. Perguntamos que jogadoras e disseram-nos basta ter abaixo de 20 anos, a selecção será feita lá. Porque não concordamos com esta desorganização, não mandamos ninguém”.
Por isso tudo, Munguambe argumenta que há falta de vontade da FMF em desenvolver o futebol feminino. “O próprio Feizal Sidat não está interessado em desenvolver o futebol feminino”.
Perguntámos-lhe por que culpa Feizal Sidat do estágio da modalidade, tendo argumentado que “é um dirigente ausente e desinformado, para além de ditador”.
– Desde que o vimos no primeiro ano do primeiro mandato a distribuir bolas no fim de um torneio, nunca mais reuniu com os actores do futebol feminino. Até os excluiu da Conferência Nacional. É ditador porque tomou esta decisão sem sequer reunir com os clubes para discutir o assunto, saber por dentro o que se passa. Na verdade, o que falta é estratégia, e essa está com pessoas que vivem o futebol feminino.
Insiste que “Feizal Sidat nunca se sentou com os clubes para discutir o futebol feminino, como se faz e em que meio. Nos nossos clubes as jogadoras têm dinheiro para transporte e direito a lanches e equipamentos, na selecção nacional isso não existe. Uma atleta da Matola pode receber 15 meticais de transporte diário para ir treinar no 1° de Maio sem botas”.
Sintetizou a sua argumentação vincando que “só vimos Feizal Sidat a distribuir bolas de papelão, que não valem nada, a dizer que é para desenvolver o futebol feminino. Aquelas bolas não usamos porque são papelões. Sidat nem sequer sabe que bola usamos, por isso, escreva aí, para ele saber, que no futebol feminino usa-se a bola oficial, não papelões. Nunca distribuiu bolas verdadeiras”.
– Esperamos que nestes dois anos o presidente da FMF aprenda a distribuir bolas de verdade. Aí talvez a suspensão da selecção ganhe sentido,rematou.