Multiplicam-se discussões sobre a incompatibilidade do exercício, em simultâneo, das funções de Agente FIFA e de presidente de direcção da Federação Moçambicana de Atletismo (FMA) por Shafee Sidat. O próprio sabe disso e sente-se preparado para deixar o cargo de dirigente da federação.
A descoberta dessa incompatibilidade terá sido dentro da própria federação, onde uma facção está descontente com o estilo de “governação” de Shafee, uma das caras mais visíveis do clã Sidat, que tem Feizal na presidência da Federação Moçambicana de Futebol (FMF), Rafik Sidat na presidência da Li
ga Muçulmana de Maputo, e Zuneid Sidat, Agente FIFA.
Em caso de perca de mandato de Shafee Sidat, está desenhado que o seu lugar deverá ser ocupado pelo vice-presidente de direcção da área de administração e finanças, Abdul Remane Zubaida. Não se admite nenhuma assembleia-geral extraordinária.
“É mais uma obra de Paulo Sunia”, ouve-se dizer no seio do atletismo. Pensa-se que seja Sunia a orquestrar o afastamento compulsivo de Shafee Sidat. Mas ele desmente dizendo que “ainda merece nossa total confiança”.
Sunia é acusado de estar contra Shafee Sidat por este não estar a distribuir dinheiro aos seus colaboradores, os mesmos que o convenceram a aceitar a candidatar-se para as eleições de 25 de Fevereiro de 2013.
Mas também aventa-se a hipótese de Paulo Sunia, que nos últimos anos se tornou “dono” da FMA, esteja ao serviço doutras pessoas que não encontram no actual presidente do atletismo nacional um discurso de yes man, mas de discreta confrontação, tornando-se num personagem a abater.
Lembrem-se que os primeiros discursos de Shafee Sidat deixaram perplexas as chefias do desporto nacional, como quando disse “jogos olímpicos não são prioridade de momento”.
Verifica-se que até hoje a maior preocupação de Shafee Sidat é satisfazer aqueles que o elegeram, que são os presidentes das associações provinciais. Tem vindo a albergar as associações em sedes dignas, equipadas de material informático.
Sua convivência com os elementos do seu elenco é tida de deficiente. É acusado de por vezes não atender a telefonemas desses seus colegas de trabalho ou de tomar posições sem consultar a eles. Aliás, o seu estilo de trabalho é comparado com o dum patrão que diz “ aqui eu mando, eu decido”.
Shafee tem um trunfo importante na manga que o pode usar na devida altura. É só lembrar que depois de tomar posse afirmara: se o meu elenco não cumprir, saio eu ou eles em três meses.
Já passaram três meses, nem ele saiu nem outra pessoa saiu, apesar de haver reclamações de que o atleta que dirige ainda não começou a beneficiar-se directamente da sua liderança.
Não é verdade
que eu seja traidor
– Paulo Sunia, SG da FMA
Paulo Sunia, Secretário-geral da FMA, quando contactado pela nossa reportagem, disse não haver nenhum plano de derrubar Shafee Sidat.
Consta que o senhor está a fazer circular um documento com o qual pretende convencer a todos influentes na tomada de decisões na FMA da incompatibilidade do exercício das funções de presidente federativo e de Agente FIFA. É verdade?
“Não constitui verdade. Fomos nós que buscamo-lo para impulsionar o desenvolvimento do atletismo no país. Há maus entendidos. Não temos nenhuma intenção de afastá-lo, mas sim de encorajá-lo a continuar a fazer o que de bom está a fazer para a modalidade. Se tivesse havido incompatibilidade, teria sido o Conselho Nacional do Desporto a impedir a sua eleição ou a evitar que tomasse posse”, Sunia respondia telefonicamente do Aeroporto de Nampula, de trânsito para Niassa.
“Sei que há pessoas que alimentam esse boato da incompatibilidade, mas isso não nos alarma. Ele (Shafee) me disse que já não era Agente FIFA, que não tinha renovado o seu exercício. Se quiser mais comentários meus, aguarde pela minha chegada ai em Maputo. Contacto-lhe”. Sunia nunca mais nos contactou.
O país tem certificados nove Agentes FIFA
O país tem neste momento nove agentes FIFA, dos quais, conforme o presidente da FMF, Feizal Sidat, apenas um, que não citou, tem mostrado serviço na facilitação de contratação de jogadores nacionais e internacionais pelos clubes.
No entender de Feizal Sidat, os agentes FIFA moçambicanos não podem ficar com os braços cruzados e com os certificados guardados na gaveta.
“Os agentes FIFA devem entrar nos mercados nacional e internacional para a facilitação de contratação de jogadores de Moçambique para fora e vice-versa. Não devem apenas orgulharem-se por terem certificado. Se os facilitamos a serem empresários de jogadores é porque julgávamos que ajudariam o futebol a desenvolver, mas eu pessoalmente estou preocupado com a sua inoperância. Neste momento apenas um tem estado a usar o seu certificado para o bem do futebol nacional”, Feizal Sidat.
Eis a lista dos agentes FIFA fornecida pessoalmente pelo presidente de direcção da FMF: César Issau, Nuro Americano, Belmiro Lambas (Quelimane), Bruno Morgado, Amílcar Jossubo, Nadimo Mahomed, Shafee Sidat, Zuneid Sidat, Martins Zacarias Garrine (Inhambane). Qual destes trabalha? Só Feizal Sidat o conhece.
A Lei é clara e esclarecedora
A Lei do Desporto em Moçambique diz que o exercício de funções nos órgãos sociais das várias associações desportivas (entenda-se clubes, associações e federações) é incompatível com: a acumulação de cargos na mesma associação desportiva; o exercício simultâneo de cargos directivos em diferentes associações desportivas; e outras situações contrárias à ética desportiva.
Com base no referido acima, nada impede que Shafee Sidat continue a exercer as funções de Agente FIFA e de presidente da Federação Moçambicana de Atletismo.
Mas vejamos o que diz a ética desportiva na óptica da Lei do Desporto: os praticantes, técnicos, e dirigentes desportivos, as pessoas singulares ou colectivas envolvidas directamente na actividade desportiva, bem como o público em geral que assista às competições desportivas, estão obrigados a pautar a sua atitude e comportamento de acordo com os princípios elementares de ética e disciplina.
Também fica claro que na observância da ética desportiva que nada impede que Shafee Sidat continue a exercer as funções de agente FIFA e presidente da FMA.
Então, o que impede Shafee Sidat ser agente FIFA (empresário desportivo, no âmbito da Lei do Desportivo), vulgo empresário de jogadores, e presidente da FMA?
Primeiro, vamos saber como se exerce a actividade de empresário desportivo. A Lei (Regulamento do Trabalho Desportivo) diz: só podem exercer a actividade de empresário desportivo as pessoas singulares ou colectivas devidamente autorizadas pelas entidades desportivas, nacionais ou internacionais, competentes; as pessoas que exerçam actividade de empresário desportivo só podem agir em nome e por conta de uma das partes da relação contratual.
Agora sim, vamos ao articulado que impede Shafee Sidat do exercício simultâneo das funções de empresário desportivo e das de presidente da FMA.
O Regulamento do Trabalho Desportivo, aprovado pelo Conselho de Ministros, aos 14 de Fevereiro de 2011, e publicado no Boletim da República de 9 de Junho de 2011, I série – número 23, no seu capítulo V, artigo 26, esclarece o seguinte:
– Sem prejuízo de outras limitações estabelecidas em regulamentos federativos nacionais ou internacionais, ficam inibidas de exercer a actividade de empresários desportivos as seguintes entidades: as sociedades desportivas; os clubes; os dirigentes desportivos; os titulares de cargos em órgãos das sociedades desportivas e os agentes desportivos.
Sendo Shafee Sidat dirigente desportivo (é presidente da Federação Moçambicana de Atletismo) fica inibido de exercer a actividade de empresário desportivo, neste caso empresário de jogadores de futebol ou seja Agente FIFA.
Por isso, caberá a ele decidir se deixa de ser presidente da FMA ou se pára de ser empresário desportivo.
Minha eleição foi aprovada pelo CND
-Shafee Sidat, presidente da FMA
Shafee Sidat reage dizendo que a sua eleição foi aprovada pelo Conselho Nacional do Desporto (CND) em plena Assembleia- Geral quando a questão da incompatibilidade do exercício da actividade de empresário desportivo com a de dirigente desportivo foi levantada por um dos candidatos a presidente da Federação Moçambicana de Atletismo (FMA).
Defende que neste país só se levantam problemas para as pessoas que trabalham em prol do desenvolvimento, seja em que sector for. Porém, mostra-se disposto a abandonar o cargo para o qual foi eleito.
“Olha, o grande problema neste país é de perseguição aos que trabalham bem. Há sempre gente pronta para abater aqueles que trabalham e têm dinheiro para ajudar a alavancar de qualquer coisa. Essa gente acha que já pus muito dinheiro no atletismo e querem-me tirar para vir busca-lo para os seus bolsos. Mas não sabem como é que se produz esse dinheiro que ganho e quando acabarem de comer não saberão como voltar a tê-lo”, a primeira reacção de Shafee Sidat quando contactado pela nossa reportagem.
Afirma que o assunto da incompatibilidade do exercício da actividade de Agente FIFA com o de dirigente desportivo havia sido levantado na Assembleia-geral de 25 de Fevereiro pelo candidato José Cucheza e que foi minimizado pelo Conselho Nacional do Desporto, representando no encontro pelo seu presidente, Eugénio Chongo.
“Esse caso foi levantado em plena Assembleia Geral pelo candidato José Cucheza, que teve do Conselho Nacional do Desporto a resposta de que nada impedia a minha candidatura e posterior eleição. Cabia ao Conselho Nacional do Desporto a retirada da minha candidatura. Já que agora se levanta esse problema, eu não quero que o Estado deixe atropelada a lei. No dia que se achar que estou a mais no atletismo, me informem para eu sair e continuar com outras actividades que venho exercendo igualmente em prol do país”, garante Shafee Sidat.
Mesmo que venha a deixar a presidência da FMA, Shafee Sidat considera que as suas relações com o Ministério da Juventude e Desporto “vão continuar excelentes, em termos institucionais e pessoais. Ninguém conseguirá estragar essa relação, porque eu reconheço o trabalho deles e eles reconhecem o meu, tudo em prol do desenvolvimento desporto nacional”.
Corrida da Juventude em Pemba
e “São Silvestre” em Maputo
A Cidade de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, acolhe dia 13 de Dezembro uma prova de atletismo denominada “Corrida da Juventude”, organizada pela Federação Moçambicana de Atletismo (FMA), em parceria com o Conselho Nacional da Juventude (CNJ).
Quinhentos corredores de todas as províncias participarão na corrida que terá a distância de 10 (dez) quilómetros, informou-nos o presidente da FMA, Shafee Sidat.
Da mesma fonte soubemos que a corrida São Silvestre deste ano realiza-se dia 28 de Dezembro, pelas 16,30 horas, na cidade de Maputo, num percurso de 5 (cinco) quilómetros.
Calcula-se que na Corrida São Silvestre participem 1500 a 2000 corredores de várias nacionalidades, com destaque para os quenianos e etíopes que já confirmaram a presença em Maputo. A premiação está garantida e é convidativa, conforme nos disse Shafee Sidat.
Manuel Meque