Já é do passado a alegação de que o nosso atletismo não evolui por falta de treinadores com reconhecida formação. De 11 a 21 de Abril foram formados 23, em representação de todas as províncias, dos quais três não obtiveram certificado de aprovação da Federação Internacional de Atletismo (IAAF).
O curso do 1º nível havido no Complexo Desportivo do Zimpeto teve a particularidade de, também, ter contado com activistas da modalidade trazidos de alguns distritos, à escolha das associações provinciais, que se orgulham de já terem a certificação internacional para o exercício da actividade de formação de atletas que tanto estimam.
Se por um lado se procura ter técnicos formados, por outro fica a necessidade de pistas para o atletismo de qualidade que se pretende em todo país.
É uma acção que veio juntar-se a de construção ou reabilitação e apetrechamento das sedes das associações provinciais para o melhor funcionamento destas.
No final da formação do Zimpeto, o presidente da FMA, Shafee Sidat, deu a conhecer que até Novembro, mês que termina seu primeiro mandato (e, talvez, o único), poderá ter lugar no país o curso de treinadores do 2º nível, notícia que encheu de alegria os formados, estes que se dizem já prontos para o fabrico de Lurdes Mutolas.
JÁ ESTAMOS MUNICIADOS
Para Nerio Artur Duarte, do distrito de Mutarara, província de Tete, esta formação lhe conferiu autoridade e competência “por ser a primeira desde que me aventurei em ser treinador de atletismo.”
Nerio Duarte é treinador de um núcleo de atletismo de Mutarara, onde tem vinte crianças, e do Clube Atlético da cidade de Tete. É professor de Educação Física na Escola Primária Completa Dona Ana de Mutarara.
“Temos participado em eventos nacionais. Temos recebido apoio dos Serviços Distritais da Educação, Tecnologia e Juventude e da Associação Provincial de Atletismo de Tete. Acho que os distritos, tal como Mutarara, deviam ter pistas de atletismo para melhor visibilidade da modalidade, o que permitiria ter mais parceiros”, referiu Nerio Duarte.
Alberto Mandinde Armando é treinador do núcleo de atletismo da Escola Secundária Paulo Samuel Nkamkomba de Chimoio, na província de Manica. Em 2014 participou num kid atlético (curso para orientação de crianças), em Nampula. É professor de Educação Física.
“Achei positivo este curso do primeiro nível. Daqui em diante vou trabalhar para os meus pupilos subirem mais vezes ao pódio, a partir dos jogos escolares. Treinamos na pista do campo municipal. Pessoalmente endereço agradecimento ao presidente da federação pela vontade de nos querer ver bem formados. Fica registado que já estive na capital do país a participar num curso de certificação internacional”, disse Alberto Armando.
“Nunca me formei como treinador. Valeu a pena. Aprendi muito. A Zambézia ganhou um treinador de atletismo formado, com o qual pode obter medalhas nos campeonatos nacionais e nos jogos escolares”, Eusébio Cordeiro, seleccionador de atletismo dos jogos escolares e membro da Associação Provincial de Atletismo, instituição pela qual é candidato a presidente de direcção nas eleições agendadas para o fim deste mês.
“Agora o que a província deve lutar para ter é uma pista condigna. É imperioso que a Zambézia tenha pista de atletismo. É complicado correr na rua de lado a lado com carros, motos e bicicletas. Temos talento que se perde por falta de pista e incentivos”, frisou.
Sara Manjate foi uma das beneficiarias do primeiro curso do 1º nível de atletismo realizado em Moçambique. É professora de Educação Física na Escola Primária Completa de Massinga sede, província de Inhambane.
“Este é o ponto mais alto da minha carreira de treinadora de atletismo. Juntei o útil ao agradável, uma vez que as regras mudam e não podemos ficar parados no tempo. Já me sinto mais treinadora e firme para servir o desporto. Já posso formar Lurdes Mutolas. Levo para Inhambane uma bíblia de atletismo. A modalidade precisa de incentivos para motivação das crianças, que precisam de lanches e equipamentos”, afirma Sara Manjate, que nos confessou gostar muito de falar “ por ser professora.”
De Mueda, lá ao Norte, província de Cabo Delgado, veio participar no curso de Zimpeto Ângelo José Maria.
“É em Mueda onde despontam os melhores do atletismo de Cabo Delgado. Corre-se no campo de futebol. Esta é a minha primeira formação. Vinha dando treinos sem noção de treinamento técnico. Não sabia ensinar salto em altura, salto em comprimento nem salto-barreira. Temos muito talento em Cabo Delgado” contou.
Ângelo Maria José, em 2002, nos “Nacionais” da Beira, conquistou ouro na prova de meio fundo. Terminou a carreira de atleta o ano passado. Agora é somente treinador.
“Gosto muito do atletismo. Sou mestre de aparelhos, ocupação que me dá dinheiro que gasto para ver o atletismo a andar em Mueda”, garantiu-nos.