Depois de mais uma participação no Campeonato do Mundo de Tang Soo Do, nos Estados Unidos de América, nos dias 15 e 16 de Julho passado, onde Moçambique conquistou trinta e duas medalhas, o atleta Dilermando Quive (35 anos), não tem dúvidas de que os atletas nacionais tornaram-se num alvo a abater em competições internacionais.
Foram 17 atletas, 11 da seleção nacional e seis a nível individual que combateram com delegações de 11 países, tendo conquistado a terceira posição. Além de medalhas, os representantes moçambicanos conquistaram uma taça de reconhecimento de criatividade.
“Moçambique é um alvo a abater, outras delegações vem com mais de 100 atletas, nós sempre somos poucos, mas devido a nossa qualidade técnica, somos encarados como uma grande barreira”.
Duro e persistente, Quive arrecadou duas medalhas, uma de ouro na forma de mão aberta e outra de bronze no combate. Professor de educação física numa das escolas da Cidade de Maputo, o atleta enfrentou 18 adversários em cada uma das três categorias, nomeadamente, forma de combate, mão aberta e armas, no escalão que varia de 28 a 45 anos de idade em Cinturões Negros Duas Barras (DAN, sigla em inglês).
A fonte conta que teve dificuldades para participar neste último campeonato, devido a falta de financiamento. A sua conta do Facebook lhe valeu algumas críticas por parte dos seus seguidores, alguns chegaram a lhe chamar de pedinte, mas o atleta nacional narra que desistir está fora da questão.
Revelou ainda que não participou da fase do apuramento para o “Mundial” da modalidade devido a uma lesão e, por conta disso, não podia fazer parte da lista da delegação moçambicana, com os custos suportados pelo Estado. Embora tenha conhecimento disso, aponta o dedo indicador aos culpados pelo seu endividamento.
– Desta vez viajei com ajuda de amigos, contribuíram para completar o valor da passagem e tive que contrair algumas dívidas. Durante a viagem e o campeonato, paguei a alimentação e hospedagem durante os 10 dias que lá fiquei. Só há fundos para a associação, o Ministério do Desporto também não nos assume como prioritários.
Participar neste tipo de prova a nível mundial é sempre uma experiência boa, conta o entrevistado, que chama a necessidade de mudança das políticas de financiamento às modalidades. Preocupado, diz que vai continuar a competir e a buscar soluções de forma que as gerações vindouras não passem dificuldades.
Na conversa com o domingo, Quive revelou que sabe que conta com o carinho das pessoas que apoiam a modalidade. “Entro no Google e vejo o que dizem sobre nós, é gratificante”, diz. A onda das reclamações continua e ele revela que, apesar de classificar a sua participação de forma positiva, a recepção não foi das melhores.
Na sociedade, conta Quive, são vistos como aqueles que vivem de socos e pontapés, mas ele desdramatiza. Tang Soo Do existe porque é uma modalidade pertinente, a partir do momento que adequa a postura das pessoas.
“Podemos moldar os líderes do amanhã, temos regras. Há pessoas que quando entram querem aprender a bater, mas depois ganham outra ideia do Tang Soo Do e aprendem a ser pessoas melhores”, diz acrescentando que“os atletas vão aprender a ser únicos com a natureza, a não fazer mal a ninguém”.
Confiante, daqui a dois anos promete voltar ao Campeonato do Mundo e desta vez trazer mais medalhas ao país. Moçambique tem cerca de 300 atletas de Tang Soo Do. Quive reclama espaços para treinos. Sonhador, quer contribuir na expansão da modalidade que já existe um pouco por todo o país. “Temos um projecto escolar na Escola Primária de Malhangalene, queremos que a modalidade seja curricular”, conclui.
Pretilério Matsinhe