Este ano, o técnico Euroflin Maria da Graça, ou simplesmente Flin, completou 66 anos de idade. Considera-se hoje um homem feliz por ter dedicado a maior parte da sua vida ao futebol. “Fui sempre um apaixonado pelo futebol. Tudo o que consegui na vida foi graças a esta modalidade desportiva, onde conquistei amigos de todas as idades. Fiz amizades por todos os cantos por onde passei, como jogador e como treinador, do norte ao sul do país”, começou por dizer a velha glória do futebol nacional.
Contou que iniciou como futebolista na equipa da Caju Industrial, um clube do Chamanculo, sua zona de meninice. “A empresa tinha um clube com o mesmo nome”, explicou, referindo que “eu e o falecido Cabral, juntamente com alguns meninos do bairro de Chamanculo, entrávamos ilegalmente na empresa para roubar castanha (deu-se uma gargalha enorme). Era um hábito de meninos da periferia, que praticavam aquela ilicitude na ingenuidade própria de crianças. Crescemos e, como a Caju Industrial tinha uma equipa de futebol, passámos a entrar e ver os craques que evoluíam na equipa deles”, lembrou, contando que “um dia decidimos lá jogar. Depois, um pouco mais tarde, transferi-me para o Atlético, onde encontrei Miguel dos Santos, o seu irmão, Arnaldo dos Santos, Doença e muitos outros bons jogadores. Quero realçar que fomos a primeira equipa a viajar para o estrangeiro, após a Independência, em 1975. Fomos jogar na Tanzânia”, revelou. A Académica foi o passo a seguir na carreira de Flin, em 1978, altura em que se iniciou como treinador. “Os meus treinadores viam em mim elevada capacidade táctica e decidiu-se que devia treinar os juvenis, mas sem deixar de jogar. Nos juvenis treinei o Januário, Jerry, Pelembe, João Lucas, entre outros, que, mais tarde, foram meus colegas na equipa sénior”, disse e, auto-classificando-se, frisou que “eu não era de grandes correrias, nem muitos dribles, mas era muito regular. Jogava em quase todas as posições que me fossem confiadas”, sublinhou o antigo craque que jogou em três gerações, citando “a dos Baltazar, Nélson Mafambane, Mombaça, Sérgio Albasine, Naldo, Joaquim João; depois a dos Calton, Gil, Luís, Ramos, Fernandel, Artur, Cremildo, Sergito até com aqueles que acabei treinando nos seniores como Nacir, por exemplo”, disse.
Cremildo Gonçalves descreveu o seu antigo colega, usando as seguintes palavras: “raramente jogava mal. Era disciplinado e tacticamente evoluído. Pelos clubes por onde passou foi sempre titular indiscutível”.
Até hoje, Flin não se esqueceu da Académica, apesar de ter representado outros clubes. Geralmente, os jogadores não se guiam pelas cores clubísticas que tiveram antes de abraçar o futebol federado. Vários factores concorrem para o sentimento que nutrem pelo clube que lhes cativa até o fim dos seus dias. “Quando era miúdo era adepto do Ferroviário, como muitos meninos do Chamanculo. Entrei para o federado e passei a gostar dos clubes que fui representando, mas identifico-me com a Académica. O ambiente que se criou no clube colocou-o no meu coração. Lá, considerávamo-nos irmãos e amigos”, disse. Leia mais…
Texto de Joca Estêvão