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Hóquei no gelo desponta na Matola

Por admin

Incrível! É a palavra que sumariza o cenário instalado no espaço Tio Manel, também conhecido por campo de Tiro, no Município da Matola. Uma pista de gelo proporciona delícias e manutenção física a crianças, jovens e adultos. Coisa doutro mundo.

Neste verão, com os termómetros a atingirem 40 graus, na Matola é possível patinar sobre o gelo numa pista que começa a ser destino preferencial de meninos e meninas, senhoras e senhores, idosos e idosas.

A ideia, naturalmente, foi transportada de países mais frescos da Europa e em Moçambique foi ensaiada pela primeira vez ano passado, 2015, na Feira Internacional de Maputo (FACIM).

O público moçambicano deu indicações de vontade de embarcar nesse sonho e os promotores da iniciativa decidiram instalar-se na Matola, onde estão a espalhar alegria e saúde através do projecto denominado “Matola Fun Ice”.

De tal sorte que diariamente as portas da pista de gelo abrem-se para receber mirones e debutantes praticantes desta especialidade, que, à partida, não era crível acontecer num país quente.

O público está a aderir à iniciativa, com vantagem de a pista estar instalada num espaço que também oferece outro tipo de serviços, o que permite aos menos ousados ocuparem-se doutras actividades enquanto seus acompanhantes praticam esta nova modalidade desportiva.

João Pereira, gestor da pista, está satisfeito com a intimidade que os moçambicanos estão a estabelecer com o hóquei no gelo, admitindo, futuramente, promover torneios competitivos.

Para patinar o utente deve pagar 100 meticais por meia hora e assinar uma declaração de compromisso de assumir todos os riscos inerentes à sua segurança. O controlo do tempo não é rigoroso, pelo que, querendo, o praticante permanece na pista por mais tempo.

Pereira explicou que o valor de 100 meticais visa abranger as massas e permitir que toda gente possa patinar no gelo pelo menos uma vez na vida.

As condições de segurança são impecáveis. Depois de assinar a declaração retromencionada, o utente calça os patins, cotoveleiras, joalheiras e capacete. É quase obrigatório porque as quedas são muito frequentes, sobretudo para os aprendizes.

Uma equipa de monitores devidamente capacitada está disponível para apoiar os principiantes e introduzi-los no mundo do hóquei no gelo. A patinar também há espaço para beijos e abraços.

ENERGIA BICO-DE-OBRA

A pista de gelo tem dimensões dum campo para modalidades de salão. Funciona na base dum congelador externo e um equipamento que permite reduzir a temperatura até cerca de -20 graus. É um equipamento que consome elevadas quantidades de energia.

Ficamos a saber que a energia consumida por aquela pista chega a comparar-se a dum centro comercial com cerca de 30 lojas. Por isso, dificilmente o projecto será expandido a outras províncias por ainda receberem quantidades reduzidas de corrente elétrica.

Aliás, mesmo na Matola foi necessário instalar-se um Posto de Transformação (PT) específico para garantir o funcionamento de toda máquina. “Quando há um corte de energia por duas ou quatro horas voltamos a estaca zero, o gelo derrete-se todo”.

– Temos tido algumas dificuldades mas decidimos insistir com este projecto, que ainda é único no país. Queremos que todos tenham oportunidade de patinar.

Conforme constatamos, pessoas de todas idades podem patinar, havendo maior aderência de crianças e jovens. João Pereira afiançou-nos que a pista de gelo da Matola não deve a qualquer outra do mundo. É top, igual a que se pode encontrar na Rússia, Portugal ou Espanha.

Perguntamos-lhe como os principiantes reagem no primeiro contacto com o gelo e respondeu-nos que os adultos têm tido algum receio, ao contrário das crianças, mais ousadas para o risco.

“Quando entram pela primeira vez muitos têm medo de cair. Depois da primeira queda ganham coragem. É mais fácil aprender a patinar quando pequeno. Tem sido divertido porque na pista os mais habilidosos ajudam os inexperientes mesmo sem intervenção dos nossos monitores. Reina um ambiente familiar no interior da pista”, explicou.

Referiu que muitas pessoas que não praticam qualquer desporto têm curiosidade de experimentar esta modalidade que, para além de proporcionar uma manutenção física, também diverte os praticantes.

No entender do nosso interlocutor, a pista de gelo da Matola demonstra que é possível fazer-se em Moçambique o que acontece noutros países do mundo. “Aqui resulta, as pessoas precisam e tem o direito de ter o que veem lá fora. Estamos a patinar em pleno verão, até com 42 graus lá fora”.

PRATICANTES EMPOLGADOS

Entre quedas e gozos, os praticantes de hóquei no gelo falaram ao domingo sobre suas experiências naquela pista. José Dias confessa que nunca antes tinha calçado patins.

“Nunca tinha praticado qualquer tipo de desporto. Comecei aqui e estou a gostar, é uma experiência única que às vezes nem acredito que está a acontecer aqui na Matola”, referiu.

José ajuntou que a pista está sempre em condições, excepto quando há corte no fornecimento de energia eléctrica. Nessa situação o gelo tende a derreter e a pista fica escorregadia.

“Em apenas um dia já conseguia movimentar-me sozinho. Penso que qualquer um com vontade, em dois dias, pode patinar sem muitas dificuldades”, anotou.

Ancha da Silva patinou quando criança e agora está a rever esses momentos noutro tipo de palco. Frequenta regularmente o local na companhia dos filhos, que lhe seguem as peugadas.

– Está a ser bom, é como voltar a ser criança, sobretudo porque venho com os meus filhos. Assim tiro eles dos telefones e televisão e passamos o tempo a fazer desporto. A grande vantagem é que podemos fazer esta modalidade em família.

Tal como referiu, o importante é a manutenção física num lugar seguro, devidamente equipado. “É uma iniciativa positiva, África é terra de calor, não temos neve e já podemos patinar no gelo. É uma oportunidade única que estou a desfrutar com os meus filhos”.

Julião Chisseve ainda está admirado com a forma como os moçambicanos rapidamente estão a envolver-se com a modalidade, admitindo um dia a introdução de torneios competitivos.

– É notável que os moçambicanos adiram a esta especialidade quando no nosso país não temos neve. Não foi preciso irmos a Rússia para patinar no gelo. É incrível.

Congratulou-se com as condições oferecidas na pista e os equipamentos disponíveis, afirmando que tal favoreceu a sua rápida adaptação àquele palco.

Custódio Mugabe
custódio.mugabe@yahoo.com.br

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