Não passa de hoje! No final do desafio entre os Ferroviários de Maputo e da Beira, com início marcado para as 19 horas no pavilhão do Maxaquene, teremos o campeão nacional de 2014 de basquetebol sénior masculino.
Está a chegar a noite de decisão do título nacional, depois dos “locomotivas” de Maputo forçarem na sexta-feira passada o terceiro jogo, ao vencer a segunda partida da final, por 74-61.
No primeiro desafio, os beirenses ganharam por dez pontos de diferença (72-62), pelo que uma vitória na segunda partida significava automaticamente a revalidação do título.
Se no primeiro desafio a maturidade e poder físico da turma da Beira foram determinantes para arrefecer a técnica e ousadia dos pupilos de Horácio Martins, na sexta-feira assistiu-se a um Ferroviário de Maputo potente e relativamente tranquilo, ganhando a partida praticamente desde a primeira parte.
Tal como noutros desafios, o Ferroviário da Beira voltou a ressentir-se das limitações do seu plantel, com o técnico espanhol Luís Hernandez a apostar invariavelmente no mesmo cinco.
Assim, a quebra física de jogadores como Ismael Nurmamad e o americano Kejuan Johson influenciaram consideravelmente no desempenho global dos actuais campeões nacionais.
Do lado contrário, Horácio Martins teve nos dois jogos possibilidades de refrescar seu plantel mesmo em situações de expulsão de seus jogadores mais importantes, como sucedeu na segunda partida, quando no último período viu-se privado de Custódio Muchate e Edson Monjane, após ambos cometerem a quinta falta.
Na quadra, os gémeos Orlando e Ermelindo Novela juntaram-se a Luís Barros “Lúlú” no desequilíbrio do jogo que empatou a final, enquanto o triplista Francisco Macarringue “Chiquinho” teve uma noite razoável.
Note-se que mesmo privado dum banco à altura dum candidato ao título, o Ferroviário da Beira demonstra uma capacidade física anormal para um conjunto que passa o ano praticamente sem competição.
Octávio Magoliço e o americano Jeffrey Fahnbuller formam uma dupla invariavelmente ferida quando o assunto é disputar ressaltos, ganhando por aí muitos pontos e também faltas.
Por tudo isso, advinha-se uma negra repleta de emoções, até porque ambos finalistas têm argumentos suficientes para conquistar o troféu em disputa.
Estamos motivados
– Ivan Cossa, Ferroviário de Maputo
Ivan Cossa, do Ferroviário de Maputo, revela que sua equipa fez um “bom” trabalho de casa para reverter a final, e espera agora terminar no primeiro lugar.
– Para o segundo jogo tivemos que fazer um bom trabalho de casa, conversamos muito com o nosso treinador e transmitiu-nos como abordar a partida e melhorar a prestação que tivemos no primeiro desafio, que foi muito aquém do que podemos.
No derradeiro despique, Ivan Cossa promete “fazer melhor do que fizemos hoje. Jogar mais em equipa do que individualmente. Estamos motivados e esperamos uma vitória”.
Vamos fazer o nosso jogo
– Ismael Nurmamad, Ferroviário da Beira
Ismael Nurmamad é um estremo demolidor dos “locomotivas” da Beira. Por inúmeras vezes levantou o pavilhão do Maxaquene para festejar seus exuberantes triplos. Espera um jogo difícil hoje.
– Há que dizer que o Ferroviário de Maputo é uma grande equipa, eu pessoalmente respeito muito toda a equipa, entrega-se muito bem aos jogos, vamos fazer o nosso jogo, pouco a pouco estamos a melhorar, há uma fadiga na equipa, mas vamos melhorar para levar a taça.
Entende que “no segundo jogo houve um pouco de cansaço da nossa parte, somos uma equipa sem muita rodagem, não temos muita competição, estamos a ganhar a forma pouco a pouco. Não vou criticar minha equipa porque temos dado o nosso máximo”.
Eles são melhor equipa
– Luís Hernández, treinador do Ferroviário da Beira
Luís Hernandéz, técnico principal do Ferroviário da Beira, reconhece o poderio do adversário, mas continua a acreditar também na qualidade e dedicação de seus jogadores.
– O segundo jogo foi muito disputado, tal como o primeiro. O Ferroviário de Maputo fez um grande jogo e nós não os conseguimos parar, acredito que são a melhor equipa de Moçambique, o que temos de fazer é sermos competitivos. Vamos dar o nosso máximo para ganhar.
O técnico espanhol observa que “queremos competir a alto nível, dar o nosso máximo, há muita coisa para ganhar ou perder um jogo, a atenção dos jogadores, acerto nas jogadas, não podemos falar de ganhar ou perder, mas de dar o nosso máximo, se ganhar muito bem, se não ganharmos estaremos orgulhosos de dar esse máximo”.
Podemos ganhar
– Octávio Magoliço
Octávio Magoliço é um dos esteios do Ferroviário da Beira. Jogou os 80 minutos dos dois desafios da final. Sexta-feira, saiu da quadra desgostoso com o resultado
– Vamos tentar rectificar o que não fizemos bem hoje, para no domingo conquistarmos o título. Falhamos muito, na defesa, no contra-ataque, não estivemos concentrados nas bolas paradas e o Ferroviário fez o seu básquete. Podemos ganhar o titulo.
Afasta qualquer sinal de quebra física nos beirenses, argumentando que “não há problema de físico, é questão de entrega, era o nosso último jogo. mas complicamos as coisas, espero melhorias no domingo”.
Precisamos jogar como equipa
– Gerson Novela, técnico-adjunto do Ferroviário de Maputo
Gerson Novela é o porta-voz da equipa técnica do Ferroviário de Maputo. Espalhava sorrisos no final do segundo jogo da final, afinal, acabava de adiar a decisão do título para hoje,
– Parabéns a minha equipa que conseguiu empatar a final. Melhoramos muito em termos ofensivos e defensivos. No primeiro jogo pecamos na concentração e no segundo jogamos mais como equipa. Se continuarmos assim acredito que podemos ganhar o campeonato.
O treinador insiste que “é importante jogar como equipa. É preciso rectificar algumas coisas e apresentarmo-nos bem fisicamente no domingo”.
Espero uma vitória
– Ermelindo Novela
Reina confiança no balneário do Ferroviário de Maputo. Ermelindo Novela não disfarça esse ambiente interno e exterioriza o momento consequente da vitória no segundo jogo da final.
– Esperem por um bom jogo, e que o público apareça, acredito na vitória da minha equipa. Tivemos mais atitude, fomos mais aguerridos. Levar a final para o terceiro jogo é fruto do nosso trabalho.
Não assume o favoritismo teórico atribuído pela crítica ao Ferroviário de Maputo. Defende que “se somos mais fortes devemos provar no campo”.
Devem treinar mais
– Belmiro Simango, ex-basquetebolista
Belmiro Simango, veterano campeão pelo Maxaquene, tem sido espectador atento das partidas que tem lugar no pavilhão dos “tricolores”. Abordado pelo domingo acerca da prova, defendeu que se nota pouco treino nalgumas equipas.
– Noto que algumas equipas vieram para esta competição com um propósito claro. Quero chamar atenção para se treinar mais, e fazer algo para aquilo que gostamos, começou por apontar.
Detalhou que “o que está a acontecer nesta competição, em termos gerais, é que não somos muitos dedicados, e quando acontece isso temos muitas incertezas”.
Chora pelo seu Maxaquene que ficou pelo caminho das meias-finais, “facto desgostoso, sobretudo porque em Moçambique quando se fala de basquetebol o Maxaquene e o Desportivo são incontornáveis, então quando uma dessas equipas fica pelo caminho, é sinal de que algo não está bem”.
Insiste que se treina pouco no país, todavia, “devo dar meus parabéns ao Ferroviário da Beira, que sem competição está a fazer um grande campeonato. Isso significa que se a direcção do clube estiver atenta, criar melhores condições para esta equipa, pode tirar melhores dividendos”.
Belmiro Simango está entusiasmado pelo nível técnico dos jogadores das equipas participantes.
– Estou a ver um basquetebol moderno, é bom para a competição, há maior velocidade, estão a aparecer bons lançadores, há maior percentagem de lançamentos interiores e exteriores, maior competência em termos de ressaltos ofensivos e defensivos, isso significa que os treinadores estão a ter competência e estão dedicados a melhorar o basquetebol.
No entender do nosso entrevistado, a competição veio demonstrar que os treinadores estão num bom caminho, daí que “desejo a eles as maiores felicidades e que continuem a trabalhar assim”.
Belmiro Simango não aponta nomes de atletas em evidência. Prefere dizer que “vi muitos bons. São jovens com futuro promissor, se se dedicarem podemos ter brilharetes à frente”
– Podemos voltar aos velhos tempos, está demonstrado aqui, é pena que o público do basquetebol não está aqui. O público não aparece por causa dos maus resultados. Se os resultados regressarem, o público virá em força. O basquetebol tem seu público.
Sustenta que “para o nível de basquetebol que estamos a ver, era bom o público estar aqui. Com o carinho do público os jogadores podiam estar a produzir mais”.
No entanto, corrobora a opinião da maioria dos intervenientes na competição, de que a falta de rodagem condiciona o desempenho das equipas.
– Temos que saber o que andamos a fazer, ficamos três meses sem competição para depois chegarmos aqui e disputarmos uma competição deste nível. Para jogadores que não estão preparados, isto é desgastante e perigoso, tem de haver uma calendarização, os clubes saberem o que estão a fazer, o que não acontece na maneira de gestão da modalidade pela federação.
Irmãos Novela e Matos dão cartas
Duas famílias distinguiram-se na Liga Nacional de Basquetebol, em representação do Ferroviário de Maputo, Desportivo e Soprotecção de Quelimane.
Os “locomotivas” de Maputo exibiram-se no seu cinco com os gémeos Orlando e Ermelindo Novela, nados na Matola, com Ermelindo a ser mais determinante no percurso daquela equipa.
A estes, junta-se o mais velho Gerson Novela, um precoce veterano agora a desempenhar funções técnicas na equipa comandada por Horácio Martins.
Os Matos são o esteio do Desportivo, através de Augusto e Pio Matos Jr. Duas peças influentes no melhor e pior dos “alvi-negros”.
O mais velho dos Matos ainda faz das suas, agora na equipa da cidade natal, Soprotecção de Quelimane. Foi interessante vê-lo torturado e a perder duelos individuais com Pio Matos Jr. no jogo entre ambos.
Certamente que as contas foram cobradas em família.
Desportivo em terceiro
O Desportivo assegurou a terceira posição da Liga Nacional de Basquetebol ao vencer no derradeiro desafio o Costa do Sol, por 79-78, numa das partidas mais emocionantes da competição.
Os “alvi-negros” controlaram a partida até aos instantes finais, altura que a turma de Milagre Macome despertou e acelerou os movimentos ofensivos, ameaçando a reviravolta.
Aliás, o pior só não aconteceu aos “alvi-negros” por causa da inspiração de Pio Matos Jr., num lançamento magistral que fixou o resultado final.
Para além dos finalistas e dos protagonistas da luta pelo terceiro lugar, tomaram parte no torneio as equipas do Maxaquene, Soprotecção de Quelimane, Universidade Pedagógica de Maputo e Universidade Pedagógica de Nampula.
Custódio Mugabe