De repente, o atletismo, a modalidade mãe do desporto, apareceu na vila sede de Morrumbala, pelas mãos do presidente da Federação Moçambicana de Atletismo (FMA), Shafee Sidat. Era sexta-feira, 4 de Dezembro de 2015, dia muito quente.
O nome da primeira prova, que marcaria o inicio oficial da prática de atletismo em Morrumbala, só era conhecido pelos organizadores da mesma que acabavam de chegar de Maputo, via Quelimane: Corrida Pela Paz.
Porque Corrida pela Paz em Moçambique sem guerra? Em Morrumbala, na localidade de Sabe, ainda há guerra, ou por lá se instalou uma pequena guerra, envolvendo as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique e homens residuais da Renamo. O conflito terá começado quando a Renamo, na voz do seu líder, deu a conhecer que instalara seu quartel-general naquele distrito da Zambézia.
Já se murmura que já não há combates no Sabe, que nunca tiveram publicidade. Mas o medo de os tiroteios começarem a qualquer altura, de dia ou de noite, prevalece nos que ficaram por lá. Foi no espírito de grito pela Paz que a caminho de Quelimane, para a inauguração da sede da Associação Provincial de Atletismo da Zambézia, Shafee Sidat aceitou a ideia dos seus assessores de a FMA organizar uma corrida que ajudasse a perceber que não é com emboscadas e tiroteios que se garante a paz, nem em Morrumbala nem em Moçambique. Então, se aceitou o nome de Corrida Pela Paz.
Depois de aprovado o nome da prova de atletismo que Morrumbala acolheria em repúdio aos tiroteios do Sabe, restava saber quem nela participariam e como. Participariam todos – mulheres, homens, crianças, adolescentes, adultos e velhos. E como seria possível convencer as pessoas para esse propósito de luta contra guerra usando o desporto? A primeira ideia foi de que devia haver camisetes. Só?!… Foi, então, que o presidente da FMA, depois de avaliar o seu bolso, se predispôs atribuir três mil meticais mais um relógio de parede ao primeiro classificado (em femininos e masculinos), dois mil meticais ao segundo e mil meticais ao terceiro. Estava encontrado o suborno à Corrida Pela Paz.
Já na vila de Morrumbala, com o carro cheio de camisetes, doadas pelo Vilanculos FC, emitiu-se uma comunicação na Rádio Comunitária da realização naquele dia, pelas 14 horas, da Corrida Pela Paz. Uma brigada foi criada para pelos passeios, lojas, barracas e mercados convidar as pessoas a correr para ganhar dinheiro pela paz. A tarefa não foi muito difícil. Cada convidado prometia ganhar para comprar bicicleta, cujo preço correspondia ao de prémio do primeiro lugar, três mil meticais.
As treze horas já era notório o movimento de “atletas” prontos para a Corrida Pela Paz, que também podia ser Corrida Pelo Dinheiro. Iniciaram as inscrições. As catorze horas toda gente só esperava pelo início da prova e já tinham sido inscritos cem corredores. Minutos depois, soava o apito de partida, junto ao restaurante Cocorrico, com meta defronte do Hospital Distrital de Morrumbala. Quem ganhou foi quem liderou a corrida do princípio ao fim, David Viano, em masculinos, e Helena António, em femininos.
Na meta havia água para todos e dinheiro para os três primeiros classificados, em masculinos e femininos. E ficou lançada a primeira pedra de prática de atletismo em Morrumbala. Agora caberá às autoridades governamentais darem continuidade, no âmbito da política de desporto para todos preconizada na Constituição da República e replicada na Lei do Desporto. Mãos à obra, porque, afinal, desporto não é só o futebol!
Manuel Meque