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Esquecer a ´´ferrugem´´ para alegrar Craveirinha

Por admin

Em 1978, Moçambique iria tomar parte nos Jogos Africanos de Argel pela primeira vez como país independente. Havia que formar uma equipa forte e o nome de Cândido Coelho veio à baila. Teve que ser repescado no mato, após mais de quatro anos longe das pistas.

 A sugestão, uma vez mais, veio do poeta Craveirinha.

Era um grande desafio. Foi para um estágio de um mês na Geórgia, ex-União Soviética. A opção foi pelo decatlo, apesar do sacrifício que isso representaria, pois havia a vantagem de não existirem muitos atletas com o seu ecletismo. Apesar dos condicionalismos, não ´´caíu´´ nas eliminatórias, acabando por ser o oitavo melhor de África.

Uns anos se passaram e o atletismo, como praticante, já pertencia à história.

Eis que Craveirinha lhe lança mais um repto inesperado. Pede que lhe dê uma grande alegria: a de ver o seu clube campeão. Foram estas as palavras do poeta: ´´meu filho, dá-me esta alegria. Gostaria que o meu clube fosse pela primeira vez campeão nacional de atletismo no Moçambique recém-independente. Isso fica nas tuas mãos´´.

Cândido ficou uns dias sem sono. Como enfrentar os ´´esquadrões´´ do Ferroviário e do Sporting, qualquer deles com mais de 40 atletas, quando o Desportivo tinha o departamento de atletismo praticante inoperacional? Na altura, só quatro ou cinco atletas, entre eles Eduardo Costa, Domingos Mendes e Stélio Craveirinha, lá treinavam esporadicamente. Da conversa com esses ´´sobreviventes´´ e face à pressão, cada um teria que fazer cinco provas. Para o Cândido, apesar de ´´enferrujado´´, ficava o maior bolo: seis provas, em que teria que obter, no mínimo 30 pontos!

Inicialmente, todos se riram. Mas a aventura começou mesmo com cada um a treinar provas fora da sua especialidade, para a ´´caça ao ponto´´.

A alegria acabou sendo dada ao velho poeta. Cândido, que tinha a responsabilidade dos 30 pontos, fez 42. A prova foi ganha com mais de 80 pontos de vantagem sobre o segundo, o Ferroviário.

A reacção do poeta?

– ´´Fez uma coisa que não esperava. Ele, acérrimo inimigo do álcool, mas que sabia que eu já bebia em dias de festa, convidou-me à sua casa. Estava com lágrimas nos olhos, de felicidade. Foi buscar uma garrafa de whisky de 25 anos, pegou no seu refresco e brindámos´´.

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