Frederico dos Santos, treinador principal do Clube de Natação Tubarões de Maputo, novo campeão da capital do país, considera que a vitória sobre os Golfinhos, cinco anos depois, ainda é pouco para as metas definidas pelo novato emblema.
Passam sensivelmente cinco anos que um grupo reduzido de apaixonados pela natação sonhou e fundou o clube Tubarões de Maputo, tendo à cabeça o economista Jeremias Cardoso da Costa e o técnico Frederico dos Santos, este último depois duma passagem auspiciosa pelos Golfinhos e Ferroviário de Nampula.
Pois que, nesta época 2013/2014, os Tubarões protagonizam a graça de abater o gigante Golfinhos, o papa-títulos da capital do país, e, por tabela, nacional.
Vitória considerada surpresa por muitos, mas que, para o técnico Frederico dos Santos, é um resultado natural justificado pela combinação de competências de gestão e técnica dominante nos campeões em titulo.
O nosso jornal abordou Frederico dos Santos para desvendar os segredos da ascensão dos Tubarões, e apresenta a seguir os extractos principais da conversa.
Faça-nos o favor de explicar como é que os Tubarões destronam os Golfinhos, após cinco anos a sagrarem-se campeões absolutos de natação da Cidade de Maputo?
Ainda não podemos dizer que destronamos os Golfinhos de Maputo por causa duma vitória no Campeonato da Cidade. Somos campeões sim, mas ainda não destronamos os Golfinhos, só com a nossa sagração como campeões nacionais poderemos falar assim. A primeira etapa está dada, sobretudo para quem tinha dúvidas da nossa capacidade. Para nós não foi surpresa, porque vencemos o torneio da Abertura, a Taça Maputo e a única prova internacional em que ambos participamos foi conquistada pelo Mpumalanga. Portanto, já havia aviso à navegação dos Tubarões ascenderem ao topo da cidade e, futuramente, quem sabe, ao topo da natação moçambicana. Nossa meta não é destronar os Golfinhos, queremos formar atletas de referência da natação moçambicana. Atletas formados no nosso clube devem representar Moçambique além-fronteiras, aí sim, ficaremos orgulhosos do nosso trabalho.
Agora que demonstram esta força, pode-nos revelar os segredos desta vitória?
Acima de tudo, está o trabalho. Neste momento os Tubarões são um clube com pessoas capacitadas e experiência comprovadas ao nível do mercado nacional, quer na área de gestão, quer na área técnica. O segundo factor é que a partir do ano passado passamos a ter casa própria para desenvolvermos a nossa captação e formarmos potenciais nadadores.
O SONHO DOS JOGOS OLÍMPICOS
O facto de haverem assumido a gestão da piscina Raimundo Franisse mudou tudo?
Influenciou o nosso trabalho de forma determinante. A partir desse momento passamos a ter as mesmas oportunidades que os Golfinhos, que já trabalham na piscina da Escola Secundária Josina Machel há mais tempo. O nosso campo de recrutamento subiu porque se antes tínhamos apenas duas pistas e poucas horas para treinar, agora temos mais possibilidades. A piscina permite-nos ter uma equipa mais equilibrada nos vários grupos etários e podemos ter essa ambição de ombrearmos sem medo com os nossos principais adversários, e principalmente com os Golfinhos de Maputo.
Haverá outros elementos a considerar? Não será a debilidade do próprio Golfinhos?
Tenho ainda a considerar o apoio abnegado dos nossos patrocinadores, nomeadamente a BKSC e a Ernest Young. Para além disso, temos uma geração de ouro, de atletas empenhados que os considero Tubarões de Ouro.
Que mais-valias a equipa dos Tubarões possui actualmente?
Temos uma equipa em formação, cuja espinha dorsal é constituída pelos escalões de formação. Somos muito fortes em masculinos porque existe um grupo de nadadores que não só fazem parte da selecção nacional mas tem conseguido os melhores tempos de Moçambique nos últimos anos, apesar da sua tenra idade.
Qual e o cenário em femininos?
Em femininos ainda não conseguimos atingir o equilíbrio desejado, mas acreditamos que num futuro próximo podemos conseguir.
Acabaram as saídas de nadadores dos Tubarões para os Golfinhos?
Esta época a margem de transferências foi zero, os atletas sentem-se confortáveis neste balneário, encontram no clube o apoio técnico que os pais e encarregados de educação procuram. Antes todos iam aos Golfinhos porque queriam ser campeões e já sentem que cã também podem ser campeões e integraram-se neste projecto onde a estrutura já estava montada. Durante muito tempo os Golfinhos ganharam com atletas vindos doutros clubes. A partir do momento que conservamos os atletas ficamos fortes e capazes de atacar o topo. Hoje não há necessidade dum atleta sair, temos equipamento, vamos ao exterior competir e temos, se calhar, o melhor balneário da natação moçambicana.
Com quantos atletas contam actualmente?
Temos 38 nadadores femininos e 37 masculinos. A equipa técnica é constituída por um treinador principal e dois adjuntos, que também tem funções de atletas.
Será que os Tubarões tem nadadores capazes de disputar os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016?
Antes desses, este ano estão agendados os Jogos Olímpicos da Juventude, na China. Neste momento temos dois nadadores na primeira fila, o Shakil Fakir Jr. e o Denilson da Costa, para um horizonte imediato. São potenciais candidatos a participar nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, e se calhar com crescimento e evolução poderemos ter mais dois ou três atletas a lutar por um lugar nesta maior competição desportiva do planeta, nomeadamente os irmãos Bique, Ahllan e Jannat. O Ahllan Bique está muito forte e bateu dois recordes nacionais no campeonato da cidade. Castro Jr. e Denisse Mabasso também podem melhorar bastante. Gostaríamos que a participação deles não fosse através da boleia olímpica, mas por via da obtenção dos mínimos para participação na competição, o que seria uma vitória para Moçambique, num trabalho feito em território moçambicano, 100 por cento made in Mozambique.