O Comité Olímpico de Moçambique (COM) retirou sexta-feira passada a bolsa desportiva ao atleta Alberto Mamba por incumprimento do contrato celebrado com a Solidariedade Olímpica Internacional.
Está instalado um ambiente de crispação entre o atleta Alberto Mamba e o Comité Olímpico de Moçambique, órgão responsável pela preparação dos atletas nacionais aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Em coordenação com as federações nacionais, o COM atribuiu em 2014 bolsas olímpicas a um grupo de atletas para se prepararem além-fronteiras.
No atletismo, para além do já qualificado Kurt Couto, foram seleccionados Alberto Mamba e Creve Machava, que deviam intensificar sua preparação na África do Sul e Senegal.
UMA BOLSA PROBLEMÁTICA
Alberto Mamba começou a atacar os mínimos para o Rio de Janeiro em Fevereiro de 2015 no Quénia, com disponibilidade de treinadores, alojamento, alimentação e ainda uma verba de 150 dólares mensais para outras necessidades.
Para garantir a tranquilidade do atleta, o COM entendeu atribuir um suplemento de 350 dólares mensais, concedidos ao atleta no valor de 1400 dólares em cada quatro meses.
No entanto, três meses depois Alberto Mamba regressou a Maputo para surpresa dos dirigentes do COM e da própria federação de atletismo. O atleta argumentou que as condições não eram boas e preferia outro local para prosseguir com a preparação.
Nesse período, o Comité Olímpico solicitou à Solidariedade Olímpica a alteração do tipo de bolsa concedida a Alberto Mamba.
Em Novembro de 2015 o organismo internacional anuiu à proposta do COM; que passou a receber os fundos da bolsa do atleta, fazendo depois as respectivas transferências.
No início de 2016, o atleta indicou um centro da África do Sul para a sua preparação. No novo modelo, passou a receber 500 dólares por mês, cabendo ao Comité Olímpico pagar despesas de técnicos, alimentação e alojamento num custo mensal de 16 mil randes, cerca de 1100 dólares.
Benedito Jonas, director técnico do Comité Olímpico, disse ao domingo que o Comité Olímpico celebrou com o centro um contrato de seis meses para garantir a preparação do atleta na perspectiva de aquele melhorar suas marcas.
MAMBA RECLAMA DINHEIRO
A semana passada foi agitada para o atleta Alberto Mamba, especialista em 800 metros com meta de marcar presença nos Jogos do Rio 2016. Teve vários vaivéns à sede do Comité Olímpico para desbloquear a situação da sua bolsa, que desde a primeira hora foi problemática.
Em Março do presente ano, Mamba seguiu para África do Sul sem visto de permanência. Questionou a situação ao COM e foi respondido que seria resolvida. E não foi.
“Meu visto expirava dia 15 de Abril e devia voltar a Maputo porque no dia 18 tinha uma competição na África do Sul, na qual sem o visto era impossível participar. Falhei essa prova”, relata.
Já em Abril, o COM trocava correspondência com a federação manifestando insatisfação com o atleta, acusando-o, inclusive, de indisciplina e abandono do centro de preparação.
“Mas eu tinha enviado um e-mail ao Comité Olímpico a explicar a situação do visto”, explica-se o atleta. No entender de Mamba, desde a primeira hora que não houve interesse.
– Durante a bolsa não consegui nada, o Comité Olímpico não me deu espaço de nada, contactei-lhes e não me responderam. Diziam que eu é que escolhi o centro e por isso tinha que aguentar com as consequências. Escolhi aquele centro porque é muito bom, tem todas condições que um atleta precisa para se qualificar aos Jogos Olímpicos. O vice-campeão dos 800 metros está lá e também dois sul-africanos que têm melhores marcas que eu.
Antes do anúncio da retirada da bolsa ao atleta, Alberto Mamba viveu momentos interessantes que vale a pena partilhar com o leitor.
“No dia 03 de Maio, na sede do Comité Olímpico, passaram-me um cheque de mil dólares. Eram 15:30 horas, porque não tinha como seguir ao banco naquele dia, preferi deixar o cheque para levantar no dia seguinte. Quando regressei dia seguinte, às 10 horas, conforme me indicaram, só me atenderam às 14 horas, e para minha surpresa me apresentaram um novo cheque no valor de 500 dólares. Neguei levantar o cheque e justifiquei que o valor devia ser mil dólares”.
No COM, o atleta recebe orientação para regressar a África do Sul porque o centro foi pago. O atleta recusa-se e informa que só regressará apenas para levar seus pertences.
– Nunca me deram valor total da bolsa. Em dezembro me fizeram assinar um relatório que fala de quatro mil dólares. O relatório incluía o nome do meu treinador e viagens para África do Sul, Suazilândia, alimentação. São viagens que nunca fiz, eram quase quatro mil dólares que nunca usei, me obrigaram assinar.
Justifica que foi obrigado com a ameaça de que se não o fizesse perdia direito do valor dos meses seguintes. “Assinei. Na sexta-feira, quiseram que eu assinasse um novo relatório referente no valor de quatro mil dólares. Recusei. O senhor Benedito é que diz que devo assinar o relatório”.
Benedito Jonas explica-se:
– O contrato prevê, de quatro em quatro meses, a produção e assinatura dum relatório técnico-financeiro pelo atleta e o próprio Comité Olímpico. Não há como fugir a isso. São fundos da Solidariedade Olímpica. Não é verdade que houve desvio de dinheiro. Só por este atleta já foram investidos na bolsa cerca de 21 mil dólares.
Ajuntou que na conta da bolsa de Alberto Mamba há saldo e o valor não será usado sem autorização da Solidariedade Olímpica que controla os fundos.
“Ele recebe efectivamente 500 dólares mensais, mas há custos do centro que ele deve assinar, como alimentação, alojamento e técnicos. Isso tudo é pago, tem recibos e o atleta deve confirmar, por isso que os valores atingem quatro mil dólares em quatro meses e ele em mão recebeu menos”, explica Jonas.
“É interessante notar que no caso deste atleta a discussão é à volta de dinheiro. O foco do Comité Olímpico é o trabalho desportivo, é a criação de melhores condições para os atletas melhorarem seu desempenho. Nos relatórios de que fala, ninguém pode assinar no lugar doutro. É impossível. Tem de assinar dirigentes da federação, Comité Olímpico e o próprio atleta. É um processo transparente”, anotou Benedito Jonas.
Actualmente, Alberto Mamba treina-se nas pistas do Estádio Nacional do Zimpeto sob o comando técnico de Bento Navese. Tem esperanças de atingir o tempo mínimo exigido para o Rio de Janeiro.
– Na África do Sul tive oportunidade de participar na primeira prova no dia 8 de Março. Fiz 1.48, a minha marca actual é de 1.46. Acreditava que iria ter outras provas e conseguir o mínimo. Com o que aconteceu estou baralhado, mas não posso baixar a cabeça, tenho que continuar a trabalhar, acredito que com o apoio do meu clube e treinador sou capaz de conseguir.
A próxima prova será dia 14 de Maio corrente na Suazilândia, para depois correr no campeonato africano no dia 24 de Junho na África do Sul. “Estou a fazer 1.46.66 e o mínimo exigido é 1.46.00”, refere.
Texto de Custódio Mugabe
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Fotos de Jerónimo Muianga