Já é tempo de prestar maior atenção à especialidade de maratona porque Moçambique tem fundistas que se recomendam. A convicção é do Maulana Hatuibo Abubacar Bin Juma, que completa
amanhã 50 anos de vida.
Popularizou-se a máxima de que “correr é saúde”! E foi este vento que empurrou Bin Juma ao atletismo numa altura que ele próprio não esperava.
Admirador confesso do futebol, Bin Juma aventurou-se para as quatro linhas em tenra idade, tendo escolhido a porta da Académica de Altenor Pereira.
Foi no longínquo ano de 1973 que, acompanhado de mais dois amigos, Bin Juma partiu do populoso bairro do Chamanculo, subúrbio da capital Maputo, para experimentar uma integração no clube estudantil.
Não foi nada fácil, porque, conforme conta, o treinador Altenor Pereira exigia um mínimo de 25 toques de bola sem tocar no chão como passaporte para treinar na equipa de iniciados.
– “Muitos desistiram e eu fui aprovado no terceiro dia. Também era exigida a terceira classe para jogar na Académica”, recorda, reconhecendo que afinal não era craque doutro Mundo.
Mas rapidamente aprendeu e logo depois foi ao Rodoviário, onde partilhou o balneário com talentosos jovens que viriam a servir a selecção nacional, casos de Riquito e Butana, isso antes de encontrar o director Carlos Jeque na Riopele.
Todavia, o percurso do agora maratonista Bin Juma viria a ser marcado por uma fuga precipitada para a vizinha África do Sul, onde se empregou nas minas.
Sucede que, aos 18 anos, o cinquentenário foi surpreendido pela namorada (actual esposa), com a comunicação de que seria pai dentro de nove meses.
Naquele tempo era imperdoável ser mãe aos 16 anos num bairro que o Grupo Dinamizador era forte, daí que a saída foi mesmo ir trabalhar nas minas.
– Mas nem tudo foi mau, porque lá tive oportunidade de jogar futebol, até que me lesionei e regressei para casa em 1987.
NASCE O VETERANO
MARATONISTA BIN JUMA
Sem pernas para o futebol, Bin Juma havia já encarnado o espírito de que correr é saúde, e, por isso, logo que se empregou interessou-se do desporto no trabalho.
E foi numa légua, a primeira que tomou parte, no ano 2000, que Bin Juma surpreendeu alguns federados conquistando a medalha de bronze. Ali nascia um maratonista na categoria de veteranos!
Seguiu-se um convite para aprender os segredos da maratona no Parque dos Continuadores, e, em pouco tempo, abandonava a pista para atacar as estradas de Maputo e Matola.
Para ele, a pista ficou pequena e não dava para fazer ali o tempo mínimo de uma hora que corre regularmente quando prepara uma competição.
Com orientação de especialistas e muita curiosidade, foi com alguma naturalidade que Bin Juma começou a distinguir-se, amealhando medalhas atrás de medalhas em competições nacionais e internacionais.
Recorda-se com inusitado interesse da meia-maratona da Suazilândia, em 2002, na qual, mesmo não tendo conquistado qualquer medalha, ganhou chegar a meta.
Foram 21 quilómetros e 21 montanhas, nunca me imaginei a fazer aquele percurso e a partir dali, acreditei em mim próprio e hoje saio de Khongolote (na Matola) para a Cidade de Maputo ou Marracuene à vontade. Ate sou rápido que o carro por causa do congestionamento– compara.
O desafio de Bin Juma agora é convencer a Federação Moçambicana de Atletismo a ser mais atenciosa com esta especialidade.
– Nós também podemos trazer glórias do estrangeiro e já o provamos. É importante investir no atleta, espero que a nova direcção da federação, que parece sabe ouvir, saiba aproveitar os talentos que despontam nesta especialidade.
Para tal, sustenta, é importante a introdução de calendários de competição, porque agora os atletas são normalmente comunicados através dos órgãos de comunicação social sobre a realização de competições, complicando assim a sua preparação.
– Se os clubes apostam em atletas para 100 e 200 metros, podem também investir em maratonistas. Seria importante a federação informar-se dos torneios nos países vizinhos para podermos participar.