Antiga glória do basquetebol nacional feminino, Afra Ndeve manifesta preocupação com o rumo que a modalidade está a tomar e sugere a reintrodução do desporto nas escolas para a formação de talentos em abundância.
Na década 80 destacou-se nos pavilhões vestindo a camisola do Maxaquene. De estatura média e a velocidade de luz, deixou a sua marca também na selecção nacional, integrando uma geração que marcou indelevelmente a história da modalidade no país.
Por isso e por enormes glórias conquistadas a nível internacional, Afra Ndeve mereceu, recentemente, com outros colegas, reconhecimento da sua trajectória pela Federação Moçambicana de Basquetebol (FMB).
O nosso jornal não perdeu o ensejo para saber de Afra a quantas bate o seu coração nos dias de hoje, tendo, antes de mais, destacado o gesto da federação afirmando que era uma premiação para toda uma geração, para um público maravilhoso daquela época que num período difícil soube acalorar os atletas ajudá-los a vencer.
Nega assumir que tenha joga no melhor período do basquetebol moçambicano. Prefere dizer que as condições e motivações eram diferentes da actualidade.
Jogaram melhor basquetebol.
– Não digo que conseguimos jogar melhor basquetebol que outras gerações, fizemos o que tivemos espaço para fazer porque fazia parte da política, na altura nos anos 80, princípios de 90. Existia uma política em relação ao desporto diferente da actual, foi um pouco fácil, apesar das dificuldades, tínhamos o calor do povo, o calor da nação, e jogamos para defender as cores do país com muito orgulho.
O que mudou afinal, questionamos, tendo respondido de pronto:
– O que mudou tem a ver com formação. Nos outros tempos o desporto era obrigatório nas escolas, tivemos a sorte de crescer num tempo que tivemos desporto nas escolas, hoje isso já não acontece.
Não culpa a juventude pela alteração do xadrez. No seu entender, a raiz da decadência do basquetebol reside na política desportiva do país. “temos que mudar a forma como encaramos o desporto”.
A seguir, Afra Ndeve resume como afinal devemos assumir o desporto:
– Vamos voltar a investir nos nossos miúdos, a praticar o desporto na escola, porque o desporto é muito importante na vida, não só para ser campeão, mas para formar o homem e é fundamental. Se queremos ter uma geração que nos dê continuidade, uma geração do futuro, temos que voltar a admitir o desporto nas escolas, no ensino primário e secundário e por diante.
Advoga uma maior participação do público no desporto porque transporta consigo um apoio indispensável aos atletas. “Sinto-me felizarda por ter pertencido a uma geração que havia calor do público, marcou-me muito porque cresci, casei-me e tive a minha vida como profissional e fui reconhecida e acalorada, o povo estava com o desporto do Rovuma ao Maputo”.
Devido a ocupações profissionais e outras, ela própria reduziu presenças nos pavilhões, mas acompanha o que vai acontecendo. Reforça que as motivações da juventude são actualmente diferentes. “Os campos também andam vazios porque aquela motivação que tínhamos para um jogo é diferente, hoje há outras motivações”.
Advoga que o basquetebol feminino foi sempre forte e é preciso explorar as qualidades natas da mulher moçambicana em produzir resultados, não somente na área desportiva.
“Mais facilmente a mulher conquista lugares e posições ao nível internacional. É uma qualidade que a mulher moçambicana tem”, remata.
Custódio Mugabe
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Fotos de Jerónimo Muianga