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Uma emenda pior que o soneto…

Por admin

A estória do “G-20”, um dia bem distante, ainda nos vai fazer chorar de tanto rirmos. É isso, um homem deve rir-se da sua própria desgraça porque vivemos numa terra onde só se perde

 a esperança depois da morte…

Como todo mundo sabe, apesar da aparente acalmia, as patrulhas nocturnas continuam (não vá o diabo tece-las). Bula Bula, porque parte desta sociedade, também participa desse carnaval que não é mais do que um grito de revolta e indignação pelo curso dos acontecimentos que, não fosse pelas tragédias associadas, daria para uma telenovela.

Mas dizia que Bula Bula acompanhou na sua última jornada nocturna um episódio que, só não se transformou em um festim de selvajaria por mero acaso – aqui é importante abrir um parênteses para dizer que há, entre nós, verdadeiros canibais que só querem ver sangue humano a jorrar para seu gáudio. Sim… as histórias de canibalismo e ou vampirismo podem afinal não ser fruto de imaginação fértil de escritores de ficção…

Mas enfim… numa dessas patrulhas, a brigada onde Bula Bula estava integrado encontrou um rapagão, de porte atlético, barba por fazer, cabelo meio desalinhado, calças meio descaídas e um ar meio-malandro… o jovem em causa foi surpreendido numa ruela sem iluminação. O seu passo estugado e o ar indolente foram o chamariz. Um apito tiniu na noite. Como militares treinados, todos apuramos os ouvidos. O som vinha dali perto. Como accionados por molas hidráulicas, lançamo-nos numa correria louca ruela adentro. Surpreendido, o jovem ficou atrapalhado. Atrapalhadíssimo, diria.

Em menos tempo do que um olho leva para piscar, estava rodeado de gente empunhando paus, barras de ferro e até alicates. Vozes dissonantes apressaram-se em condenar o pobre coitado: é um membro do G-20. Ulularam. Está a espiar-nos, concluíram outros. Na sombra, um grito: pancada nele! No meio da algazarra, o jovem mal conseguia balbuciar o seu próprio nome. Estava aterrado. Um pneu desenhou-se a sua frente. Miraculosamente, no meio da balbúrdia, a voz de Bula Bula soou: calma gente. Vamos ouvir o homem…

Foi santo remédio. Outras vozes concordaram. O jovem lá se explicou: “estou a caminho de casa… tinha ido bater – papo com uns amigos e perdi a hora…”. Alguém perguntou quem eram os tais amigos e se podiam ser chamados para testemunhar a seu favor. Engoliu em seco. Atrapalhou-se ainda mais. Não conseguiu dizer nenhum nome… a situação ficou literalmente preta. O pneu caiu-lhe no pescoço. Gritou em desespero: “Eu não estava com nenhum grupo de amigos… estava com a minha namorada”.

O pobre coitado foi pressionado a revelar o nome e a residência da referida namorada. Resistiu o máximo que pode mas já sem saída lá foi mostrar a casa. Apito tocado, lá saiu o dono da casa. Perguntaram-lhe se conhecia o jovem e ele disse imediatamente que não. Alguém deitou um bocado de petróleo no pneu. Lesto, corrigiu: “ele não me conhece mas a filha sim…”. Chamaram a moça. Quando saiu viu a multidão e o pobre namorado em maus lençóis. O pai perguntou: “Soninha… conhece este senhor aqui?”.

Visivelmente embaraçada, com lágrimas nos olhos, respondeu cabisbaixa: não…

Começaram a cair bordoadas sobre o moço que gritava desesperadamente para a namorada confirmar que o conhecia mas esta, certamente com medo do pai, limitava-se a chorar. Valeu ao pobre jovem o facto de o irmão da Soninha ter acordado – provavelmente pelo barulho da multidão – e reconhecido o condenado. Gritou: “Parem… esse ai não é ninja… é namorado da mana Sónia”.

Moral da história: em tempo de crise, amar pode ser um problema terrível…

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