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Somos o que escolhemos ser

Por admin

Bula-bula está ainda em estado de choque. Há dias – por portas e travessas – esteve numa das esquadras da capital do país. Ia para lá tratar uns assuntos relacionados com um encontro não programado com amigos do alheio. A coisa está feia… rouba-se a torto e a direito!

Pois bem… dizia que estando numa dessas esquadras, entram dois jagunços, mal-encarados, com os rostos debruados de cicatrizes – a fazer lembrar troféus de uma qualquer guerra – roupas mal-amanhadas e algemas. Conclusão óbvia pelo aspecto: malandros!

A acompanhá-los estão dois agentes à paisana. Enquanto estes aguardam pelo comandante que está a terminar de preencher uns papéis, vão conferenciando entre eles. Os dois cidadãos algemados também vão fazendo uma espécie de operação de charme; sorriem para os circunstantes, acenam para quem ouse olhar para eles nos olhos. Estão demasiado tranquilos para homens algemados e em vias de entrar para o “xilindró”.

Depois vem o momento-chave. O comandante, sem mesmo levantar a cabeça, pergunta-lhes assim meio que brincando: “então vocês foram presos porquê? Ou estão sendo acusados de borla?”.

A resposta assustou por ser demasiado tranquila. Não havia sinais de receio nem de remorsos nas vozes dos dois rufias.

– Roubámos! – disse o que trazia um chapéu.

– Mas nem foi numa casa… – disse o outro.

– Então porquê foram detidos? – insistiu o comandante.

– Também não sabemos – disse o do chapéu.

– Só “grampeámos” um gajo e tirámos umas cenas. Não era preciso fazerem isto tudo – disse o segundo mostrando as algemas.

O polícia levantou os olhos e quase deixou cair a caneta que trazia na mão. O seu espanto foi verdadeiro. Gaguejou. Passou a mão pelo rosto para tirar umas gotículas de suor que se formaram instantaneamente, apesar do ar fresco que se fazia sentir. Titubeou qualquer coisa inaudível. Puxou ar bruscamente. Bula-bula pensou que ele fosse ter uma síncope cardíaca. Empertigou-se. Recuperou a tranquilidade.

– Mas você não esteve aqui há pouco tempo? – questionou.

– Sim, camarada chefe – respondeu o segundo rufia, por sinal o que mais cicatrizes tem na cara e nos braços.

– E então?

– Então sai… agora estou a voltar, camarada chefe. Os teus colegas é que me prenderam lá na Catembe – disse.

– Mas, sinceramente… – disse o comandante abandonando a cabeça.

– Fala com os teus colegas, camarada chefe – disse sorrindo o rufia das cicatrizes.

Bula-bulaficou parvo. Perguntado o comandante sobre as entradas e saídas dos malandros, ele foi peremptório: “fazemos o nosso trabalho mas volta e meia – por causa dos aspectos legais – os bandidos depois de uma semana estão na rua a fazer estragos. A maior parte desses criminosos é reincidente”.

Contas feitas, os “bandidos, malandros e preguiçosos” sabem disso. Aproveitam-se disso para praticar as suas acções macabras. Dwight D. Eisenhowedisse uma vez que “se você quer total segurança, vá para a prisão. Lá você terá comida, roupa, médicos e assim por diante. A única coisa que falta é a liberdade.”

Pelo curso dos acontecimentos, os honestos terão de passar as suas vidas na segurança das cadeias!

 

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