“Costumam, o mais das vezes, aqueles que desejam conquistar as graças de um Príncipe, trazer-lhe aquelas coisas que consideram mais caras ou nas quais o vejam encontrar deleite, donde vê amiúde serem a ele oferecidos cavalos, armas, tecidos de ouro, pedras preciosas e outros ornamentos semelhantes, dignos de sua grandeza” – assim começa uma das obras-primas da literatura universal assinada pelo incontornável Niccolo Machiavelli (Maquiavel) intitulada “O Príncipe”.
“O Príncipe” é uma obra que se recomenda. Tem coisas interessantes e bastante actuais. Bula-bula tem estado a descobrir similaridades com algumas coisas que acontecem por aqui. Algumas – diga-se de passagem – completamente dispensáveis. Inúteis mesmo; como por exemplo o comunicado da UE sobre o assassinato de Jeremias Pondeca, militante da Renamo e um dos membros da Comissão Mista.
Importa abrir aqui uns parênteses; a morte ou o assassinato de alguém é de todo condenável. Não é isso que está em causa. O que incomoda a Bula-bula é a rapidez com que alguns videntes vêm à praça pública, antecipando-se a tudo e todos, para condenar vivamente os autores dos referidos crimes. Agora é tudo obra dos “esquadrões da morte do Governo da Frelimo”. Provas? Para quê se já se conhece o mau da fita…
E foi isso que fez a UE. Apontou, ainda que com luva branca, para o Governo como autor moral do sucedido. Curto o comunicado diz a dado momento que “A violência nunca pode ser uma alternativa ao diálogo pacífico quando se tenta chegar a uma solução sustentável num conflito político”. Acrescenta que todas as partes “devem continuar empenhadas nas negociações de paz” em Moçambique “e evitar acções que ponham em perigo um processo apoiado pelo povo moçambicano”.
Quando o poder é grande, parecendo que não, legitima algumas acções. Quem ouviu ou leu aquele comunicado pode tomar tudo aquilo como garantido. Abuso!
Mas como a EU outros tantos moçambicanos apontaram o dedo ao Governo com a mesma velocidade com que piscam os olhos. Bula-bula não põe a mão no fogo nem pelo Governo, nem por outra entidade. O que assusta é a facilidade com que se apontam os dedos a uns e outros. Assume-se imediatamente que a motivação para o crime é de natureza política. E se é política só pode ser por ordem do partido no poder.
A Polícia, entidade responsável pela investigação, ainda nem sequer fez uma simples peritagem e já se apregoa que foi o Governo da Frelimo que mandou executar o finado. Quais as provas? E, sobretudo, qual a motivação ou motivações? O que é que o Governo ganha com a morte, no caso, de Jeremias Pondeca?
São muitas perguntas para nenhuma resposta mas os gaviões de plantão já sabem de tudo; conhecem os assassinos. O que não fazem é apontar os nomes dos mandantes (terminologia que ficou famosa entre nós por causa de um outro crime).
Elísio Macamo chama a isto patriotismo boçal. Bula-bula acha que essa é a expressão certa. A culpa é sempre dos outros. Engraçado que quando a “Perdiz”, assumidamente, ataca e mata civis, já não se ouvem as mesmas vozes “independentes” a apontarem o dedo à malta da democracia.
E essas coisas de procurar a democracia a força de balas não são coisa nova. Nos idos anos 1858, Orsini, então um líder revolucionário italiano do “Carbonari”, tentou assassinar o imperador francês Napoleão III, enquanto ele e a imperatriz Eugénie de Montijo estavam a caminho do teatro, jogando 3 bombas na carruagem real. O incidente resultou na morte de 8 pessoas e feriu outras tantas. Ele também era um conspirador envolvido em destronar o papa e tentou assassinar Napoleão III acreditando que ele era um grande impedimento para a independência italiana (outro parênteses para dizer que qualquer semelhança, entre Orsini e o líder são pura teoria de conspiração).
Há muitas maneiras de começar uma guerra. A história tem vários exemplos. Interessante como todos eles têm em comum a mesma premissa: o poder.
Bonaro Overstreet dizia que “não somos apenas os guardiães dos nossos irmãos. De formas incontáveis, maiores e menores, também contribuímos para que sejam como são”. Nem mais. Os que têm por hábito diabolizar os outros, afinal contribuem para que o análogo seja desta ou daquela maneira.
Está claro que nem sempre a escuridão de uma noite sombria oculta o terror dos seus dias. Ele pode estar ao seu lado nos dias ensolarados e alegres, porque o que irá definir essa companhia é você com a sua própria sintonia… que é o mesmo que dizer que o caju, quando estiver maduro, cairá por si só; tal como a verdade!