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Quando a liberdade é muita a gente abusa

Por admin

Todos sabemos que “quando a esmola é muita, o pobre desconfia”. Aprendemos isso na infância e convivemos com esse ditado até ao fim dos nossos dias. É incontornável. Intrínseco da humanidade. Como o sangue nas veias, como o ar nos pulmões ou um pedaço de pão no estômago.

A liberdade também deve ter os seus limites, porque quando nos chega em excesso, abusamos dela e tornamos a convivência intragável, porque se joga ao lixo o respeito pelos limites e pelo razoável. Quando isso acontece, passa-se para um estágio de libertinagem.

No que diz respeito à Imprensa, a liberdade é balizada por uma Lei que, em condições normais de temperatura e pressão podia ser dispensável, uma vez que a deontologia e a ética falam por si, mas como os ventres que nos oferecem a luz são muito distintos, ela, a Lei, funciona como “guarda-fronteira”.

Bula-bulaentende que o ponto a que se chegou é tão alto que a sociedade moçambicana perdeu a pedalada. Ficou sem o rasto. Até a poeira assentou. É muita liberdade que a gente até abusa. Para ter provas é só apreciar o requinte com que se degolam nomes e figuras. Vejam-se as caricaturas que alguns cartoonistas fazem e publicam, contando que alguém verá piada naquilo. Alguns daqueles bonecos e dizeres deviam ser acompanhados de cócegas para darem algum efeito. E diga-se, um efeito ténue.

Nos dias que correm, e sobretudo na imprensa escrita, não precisamos de provas. Alguém falou? Toca a publicar. O resto se vê mais adiante. Quanto mais graúda for a “vítima”, melhor. Não precisamos confrontá-la com os factos. Fazer o contraditório para quê se podemos dizer que “tentativas de ouvir o visado redundaram em fracasso”.

No auge desta nossa senda, que rotulamos de jornalística, sublinhamos que “se o visado quiser desmentir, que o faça na próxima edição” e, quando o desmentido chega, encaminhamos para o caixote de lixo. Isso acontece e repete-se com tamanha regularidade que se torna norma. “Tanto bate até que fura”.

É interessante que toda esta ausência de regras funciona às barbas de todos nós. Incluindo os vários poderes que a democracia nos trouxe de modo que, nos parece verdade hoje, que no Estado de direito, é isso mesmo, há falta de responsabilidade, há quase desresponsabilização.

A ser assim, traz cá um medo pela democracia e democratização ou os democratas tiveram medo do comunismo. Não sabemos o que dizer aos mais novos, nossos filhos, sobretudo. Dizer o quê? Vamos lá ser indisciplinados? Vamos lá viver como se estivéssemos numa capoeira, onde mesmo assim há galo? Que tamanha maldição!

Pelo andar desta carruagem, Bula-bula entende que a deontologia e a ética precisam imperar e a sociedade deve impor que estas voltem aos seus lugares, porque, de facto, descarrilamos no entendimento sobre a nossa liberdade de expressão, porque o que nos é dado a assistir, roça e sabe a exagero. Ao abuso.

 

 

 

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