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Pior cego é o que nãoolha para dentro de si

Por Idnórcio Muchanga

Uma filosofia que não entristece e não contraria ninguém não é uma filosofia. A filosofia serve para prejudicar a tolice, faz da tolice algo de vergonhoso. Esta é uma das reflexões filosóficas de Nietzsche, que se mostra profícua para dar respaldo a uma necessária exclamação. E Bula-bula, que é chegado a alongar o tecido para manga, dá-se ao luxo de tecer estas linhas com o fim expresso de reflectir em torno da actuação de quem nos seus próprios passos se atrapalha. A fotografia que às nossas linhas funciona para ilustração serve-nos de pilastra para corroborar a ideia segundo a qual apontar o dedo às imperfeições do outro é papinha pura, de tão pouco peso que o exercício demanda.

A verdade é que ver e reconhecer os próprios erros e fracassos não convém a tantos, como se vê pelo retrato em apreço. Agora, debater tamanho disparate só mesmo recorrendo à filosofia que faz da tolice algo de vergonhoso. Tal imagem fala por si e obriga Bula-bula a trazer, para reavivar memórias, o tão conhecido pensamento de Allende segundo o qual “não basta que todos sejam iguais perante a lei. É preciso que a lei seja igual perante todos”. Haja sensatez: vento que venta cá deve ventar lá também, sob risco de transformarmos algumas gestões num autêntico número de circo. Senão vejamos: alguém é capaz de dizer por que degrau se alcançou a tão caçada presa mergulhada em toneladas de detritos? Ah, Bula-bula até prefere dispensar a resposta, afinal de anedotas já nos bastam as do Joãzinho. Mas como apelar não paga imposto, aqui vai mais um: não se criem atalhos patéticos para garantir o cumprimento de normas e posturas. Tal gesto tão pretensioso – colocar a famosa chamuça que estava estacionada num espaço em péssimas condições de higiene – muito diz de quem cobrou. O mais assustador no meio de tudo isto é que tal acto, pelas circunstâncias em que ocorreu, parece ter algum requinte de vingança, tendo em conta que em nenhum momento quem tinha a faca e o queijo na mão pensou naquilo que são as suas próprias falhas. Como pode ser visto, à semelhança do que estacionou em lugar inapropriado, alguém deixou de cumprir a sua parte na limpeza do espaço. Coincidência interessante, que lembra aquela história dos dois macacos…. E, de uma vez por todas, que se acredite: “o pior cego é aquele que não consegue olhar para dentro de si e ver-se”.

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