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Olhar para a dor do outro

Por Idnórcio Muchanga

RICK Ross, um cantor rapper norte-americano, era o cabeça-de-cartaz de um espectáculo musical que estava agendado para a noite de ontem no Campo do Maxaquene. Faziam parte do leque de artistas a cabo-verdiana Soraia Ramos e o DJ Maphorisa (sul-africano).

Se aconteceu mesmo ou não, Bula-bula não sabe e nem é isso que importa neste momento… afinal, o mais importante, às vezes, é que para compreender as pessoas é preciso escutar o que elas não dizem ou que talvez nunca venham a dizer…

E deve ser isso mesmo – que nunca venham a dizer – que importa depois de ver o cartaz sobre o tal concerto de Rick Ross, Soraia Ramos e DJ Maphorisa. O tal cartaz não faz alusão a nenhum artista da casa… mas isso também não é o mais importante, até porque quem paga a orquestra escolhe a música.

Mas, dizia, o que leva Bula-bula a esboçar um gesto de “incredulidade” é o preçário – ou melhor o que devem ter pago os que queriam ver o tal de Rick Ross – que deve ser o mais alto que alguma vez se cobrou para um espectáculo musical entre nós: exemplo, no preço mais camarada, cada pessoa paga 20 mil Meticais.

Gostos, como o povo gosta de dizer, não se discutem, mas vamos lá combinar que é um preço amargo para ver aqueles artistas. Para ver monstros como George Benson, Earl Klugh ou Ricard Bona, noutras ocasiões, pagou-se uma média de 2500 Meticais. Não é preciso ser-se um estudioso musical para saber qual é o peso de um George Benson ou Richard Bona no panorama musical internacional.

Mas antes que digam que pagar 190 mil Meticais (grupo de 10 pessoas) não é por aí grande coisa, vale lembrar que as contas aqui são feitas em função do bolso de Bula-bula que até está acima do salário mínimo nacional… e, nessa perspectiva, cobrar esses números soa à zombaria para aqueles que intercalam as refeições, isto é, se comeu na segunda-feira, só volta a aquecer o estômago na quarta-feira.

Bula-bula não está contra eventos deste tipo, mas vamos lá combinar que qualquer homem de bom senso fica indignado com essa cena… somado ao facto de que o taco todo irá para fora do território moçambicano, já que tanto um como outro dos artistas mal tenha o taco no bolso, vuuuumm, vai embora e nós voltamos ao nosso “modus vivendi” de lágrimas…

Sendo líquido que a verdadeira compaixão não significa apenas sentir a dor de outra pessoa, mas, sobretudo, ser motivado a eliminá-la… e a dor grassa pelo país fora, desde Cabo Delgado até as ruas das nossas cidades!

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