Ouvindo gentes da Renamo e o próprio líder a falarem sobre as motivações da presença de Dhlakama em terras de Sofala, fica-se com a ideia de que nem
eles próprios sabem explicar o real motivo.
Quando se instalou na Serra de Gorongosa, a perdiz-mor falou em querer renegociar o Acordo Geral da Paz. Para isso, o Chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, devia deslocar-se ali, para, à sombra das mangueiras, fazer-se a tal renegociação. Directo de Maputo e a partir duma estação televisiva, Mazanga foi confrontado com esta questão, tendo metido as mãos pelos pés. Dada a insistência do entrevistador, acabou por dizer que Dhlakama está em Gorongosa, “dormindo numa cabana e numa esteira, para o bem do povo moçambicano”, pois reivindica o fim das desigualdades sociais entre moçambicanos. Está, por exemplo, contra a subida da tarifa dos “chapas”. Mazanga apresentou outros argumentos populistas. Issufo Momade, também a partir de Maputo, dizia semana finda, depois de anunciar que existia um alegado plano para “acabar” com o seu líder, que Dhlakama voltou à sua terra natal para se “juntar com as pessoas que o ajudaram a conduzir a guerra”.
Lendo isto, chega-se à conclusão de que parece que cada um diz o que lhe vem a cabeça naquele momento. Mas outros factos indicam outra coisa. Senão vejamos, Bula Bula soube que a 30 de Outubro, através dos delegados políticos distritais da Renamo em Machanga, Chibabava, Búzi, Gorongosa e Marromeu distribuíram-se panfletos de apelo à adesão às manifestações que seriam organizadas, dentro em breve, alegadamente em reivindicação, entre outros, dos seguintes pontos: a) paridade nos órgãos eleitorais; b) enquadramento dos ex-militares da Renamo nas Forças Armadas; c) inclusão dos ex-guerrilheiros na PRM e na FIR; d) a remoção do 85 da Lei Eleitoral.
No mesmo panfleto, se diz que Dhlakama teria ido a Gorongosa para expressar de viva voz a pressão ao Governo da Frelimo para “abandonar a sua arrogância desumana e incumprimento do AGP”. E acrescenta-se: “todavia, apela-se a todos os cidadãos que a violência gera violência, a paz gera paz”.
Os delegados políticos distritais da Renamo, em Chibabava, Noé Macho, e em Marromeu, Fernando Ussene, são citados, em separado, a dizer que eles não sabiam de nada sobre a distribuição destes panfletos e ida de Dhlakama a Gorongosa, mas teriam recebido instruções da delegação da Beira para “preparar o terreno”. Foram informados de que os panfletos provinham do Departamento da Informação da “perdiz”, a partir da capital provincial de Sofala, sob a liderança de Jerónimo Malagueta. E que os mesmos seriam espalhados por todo o país.
Ambos contaram, em separado, que foram contactados por alguns ex-guerrilheiros que ameaçam escrever uma carta reivindicativa a exigir a Dhlakama para lhes pagar o dinheiro que há muito lhes prometeu, pois pensavam que vinha a Gorongosa para fazer esses pagamentos. Por isso ali tinham afluído para receber esse dinheiro e nada disso aconteceu até agora.
Bula Bulasoube também que depois da marcha sobre Matsangaissa realizada no dia 17 de Outubro, reunindo ex-guerrilheiros, agora com mais de 60 anos de idade, de regresso a Maringué, muitos deles tiveram problemas de saúde. Dois deles acabariam mesmo por falecer pelo caminho.