Para o comum dos mortais – incluindo Bula-bula – não importa quais os motivos da guerra, a paz ainda é mais importante que eles. Sim. Paz é tudo o que queremos. Podemos até não ter pão todos os dias mas se soubermos que estamos mesmo em paz, podemos nos contentar com a batata-doce, a mandioca, ou um outro tubérculo. É uma questão simples… ou o homem estabelece o final para a guerra ou a guerra estabelecerá um final para a humanidade!
Vem este intróito por causa de alguns compatriotas que parecem não gostar do clima de paz que se vive presentemente. Estaremos certamente lembrados que – como quem faz um favor – em Dezembro, Afonso Dhlakama, o próprio pai da democracia, ter anunciado, depois de uma conversa telefónica com o Presidente da República, Filipe Nyusi, alguns dias de defeso no “vuku – vuku” das armas que já muitas almas ceifou e muitas infra-estruturas destruiu.
Pois o líder da perdiz dizia, na altura, que a ideia era que todos os moçambicanos passassem as festas do Natal e do Final de Ano na santa paz. A referida trégua tinha então validade de uma semana. Enquanto se aproximava o término da mesma, as aves de mau agoiro não se cansavam de nos lembrar que faltavam apenas 3, 2, 1 dia para o retomar da confusão. Felizmente, mais uma dúzia de chamadas telefónicas, entre Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama, serviram para o alargamento das tréguas para mais dois meses. Alívio próximo do total!
As pessoas voltaram a circular. As escoltas militares entraram de férias. As armas foram recolhidas para os arsenais ou para a manutenção. O uniforme foi para as lavandarias… enfim, voltou-se a comer caril de amendoim – como gosta de dizer a mãe de Bula-bula (nada de espanto que um tipo também tem mãe, bolas)!
O clima de paz e as notícias de que a própria Renamo estava a movimentar os seus quadros seniores para as províncias para dizerem as pessoas que o mais importante era produzir comida, aproveitar o período da segunda época agrícola, respeitarem as autoridades legalmente instituídas “porque os grandes já se entenderam e a paz veio para ficar”.
As mesmas figuras estariam também a fazer um trabalho de base tendo em conta que em 2018 o país terá eleições autárquicas, uma janela que permite avançar-se para as eleições gerais com outra pujança. Notícias boas estas. Bula-bula também ficou satisfeito. Afinal a paz estava ali a frente… quem já viveu uma guerra sabe o que significa uma trégua…
Aliás, é só lembrar a famosa “Trégua de Natal” em 1914 declarada entre soldados alemães e britânicos durante a I Guerra Mundial, não é mesmo? Esse comovente evento, na qual os alemães tiveram a iniciativa de pedir pela trégua, que foi combinada graças à coragem de um dos soldados britânicos que bravamente saiu das trincheiras para selar o acordo de paz temporária. Depois, os inimigos esqueceram suas diferenças e se reuniram na “terra de ninguém” onde se cumprimentaram, compartilharam cigarros, jogaram futebol, cantaram hinos natalinos e inclusive trocaram presentes.
Podíamos ser superiores aos desafios que se nos colocam. Podíamos – até porque conseguimos viver 20 anos em paz – vencer este desafio que resultou da confusão das seis (6) províncias e quejandos. O próprio PR já disse várias vezes que a paz é fundamental… coisa que todos nós sabemos…
Todos, vírgula… porque há moçambicanos (?) que parecem não gostar da paz… senão que interesse teriam em recordar-nos, todos os dias, que faltam apenas tantos dias para terminar o período de tréguas… caramba. Deixem-nos em paz e a curtirmos a paz! Não precisam necessariamente de nos dizer que a guerra segue dentro de momentos. Não precisamos nada disso. Queremos paz, como cantou o saxofonista Chico da Conceição.
“Faltam duas semanas para o fim da trégua militar”. Esse recado assusta mais do que acalma. Estamos a braços com o ciclone Dineo e lá vem alguém nos lembrar que a guerra está a dois passos de acontecer. Bolas. Isso não ajuda em nada. As tantas o próprio Pai da Democracia já nem se lembrava desse prazo… e, para falar a verdade Bula-bulaacredita que esse tipo de notícia mais prejudica do que ajuda. Não há patriotismo nenhum nesse tipo de notícia. Logo agora que os homens estão a pensar nas eleições do próximo ano e concordaram com algumas linhas de orientação que visam garantir a paz definitiva… na prática e no papel!
Sinceramente, como diria um amigo, não da para perceber…
Infelizmente uma pequena agitação pode desencadear uma tempestade e como nem todos nos damos tempo de reflectir, a coisa pode descambar num vuku vuku mesmo. Octávio Paz dizia que se os líderes lessem poesia seriam mais sábios. Bula-bula diria assim: se alguns escribas lessem poesia, seriam mais sábios e saberiam que a paz muitas vezes está no silêncio que não fazem!