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Mau tempo ou má planificação?

Por admin

Noite de terça – feira última. Maputo é fustigada por uma saraivada de granizo associada a chuvas intensas e ventos ciclónicos. Milhares de pessoas são virtualmente apanhadas em contra-pé.

Incluindo Bula bula que, a essa hora, entre apertos e buzinadelas, entre insultos e travagens bruscas, ia na sua modesta viatura, em direcção ao aconchego de Lar, Doce Lar. Aparentemente meio mundo foi apanhado literalmente de surpresa.

A canícula que se fez sentir de durante o dia escondia afinal um verdadeiro pesadelo para muitas almas. A coisa foi tão má que vidas perderam-se. Casas ficaram em fanicos. Gente ferida. Carros esmagados pelas cansadas arvores que pontificam ainda em algumas artérias da Cidade das Acácias. Era a natureza a conclamar o seu poder.

Bula bula havia decidido usar a via da marginal; a chamada via rápida porque parte integrante da famosa “Circular”. Erro fatal. Ficou “trancafiado” horas a fio. Debaixo de chuva intensa. Granizo. Gravetos em voos mais ou menos rasantes ameaçavam a integridade dos ocupantes da viaturas e dos transeuntes que invariavelmente desciam dos “chapas” e optavam por caminhar mesmo debaixo da chuva porque isso afigurava-se mais prático. Os carros estavam literalmente imobilizados. Todos se questionavam: o que se passa lá a frente?

Sem respostas imediatas, os automobilistas enfrentavam outra ameaça; a areia da praia que arrastada pelos ventos fortes abatia-se, em vagas, sobre os carros e pessoas. Ate´ parecia que estávamos no deserto onde o vento uivante muda a configuração das dunas todos os dias. Mas não era nenhum deserto. Estava-se na cidade de Maputo. A capital do país. A coisa despertou-nos para uma situação paradoxal: a falta de vegetação – tipo árvores ou capim – facilitava o festival de areias e, por outro lado, as poucas e ressequidas árvores tombavam.

Bula bula lembrou-se que na sua infância a orla marítima tinha tanto verde. Havia ali até macacos e outros animais por causa das plantas que proliferavam. Hoje contam-se com dos dedos de uma mão as árvores dignas desse nome. E as consequências estão a vista. A marginal ficou um verdadeiro areal.

Não se pode enjeitar o papel da vegetação. As árvores são a primeira barreira, a primeira linha de defesa de que vive na costa. Elas amortecem a força dos ventos para além de segurarem as areias evitando a erosão dos solos.

Não haverá uma forma de construirmos infraestruturas sem danificarmos a natureza? É que ela, a natureza, tem as suas regras; quando se zanga, não há mãe que nos safe da sua fúria. A chuvada da última segunda-feira provou isso!

 

 

 

 

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