Celebrar contractos para o fornecimento de água, electricidade, telefonia móvel ou fixa, acesso a financiamento bancário e até mesmo a compra de bilhetes de avião ou de autocarros pode significar comprar gato por lebre.
Muitas vezes, a pressa de obter o serviço faz com que poucos se preocupem em observar aquelas letrinhas que aparecem no verso do documento que, geralmente levam o título de “Termos e Condições Aplicáveis”, ou simplesmente TCAs.
Vezes sem conta, Bula-bula, que também é um puro mortal, adere a serviços que lhe são sugeridos por spots publicitários, daqueles estrondosos que enchem os ecrãs dos televisores de hora em hora e que grudam no cérebro a ponto de, sem querer, a gente cantarolar mesmo no aperto do “my love”, na fila do hospital ou no escritório. Aquela da “happy hour” é disso um bom exemplo, passe a publicidade.
São sugestões radiofónicas, televisivas e impressas que são feitas por gente que sabe como derreter o coração do séptico que circunvaga na face da terra. O produto pode não ter qualidade mas, o apelo para que seja adquirido entranha-se na mente de todos e, volta e meia, estamos todos irmanados em redor do dito-cujo. Até aí, tudo bem.
Entretanto, há que observar bem o que dizem as letrinhas que aparecem no verso dos contratos que nos permitem ter acesso a tais bens e serviços. Por exemplo, será que o nosso leitor já dispensou algum tempo para ler o que está na parte de trás do seu contrato de fornecimento e energia, ou de água? O que lá vem escrito?
Como bom pai que Bula-bula é (não haja dúvidas, porque até é escolhido como pai-turma em todas as escolas que a sua prole frequenta) foi comprar um desses bilhetes para o ingresso a um programa infantil massivamente disseminado até se tornar viral.
Era impossível dormir sem que os descendentes alertassem que está a chegar o dia. Como fazem aqueles incómodos mosquitos que, antes de darem a picada triunfal, molestam a vítima com passagens rasantes e sucessivas junto aos tímpanos.
Entretanto, e por um lapso qualquer, aquele bilhete entendeu mostrar a sua “contracapa” e lá estavam umas letrinhas escritas em cor tão áspera que mal se viam. Bula-bula que é talhado em curiosidade esfregou os olhos para decifrar o que ali vinha. “TCAs”. Ok, vamos a isso.
Com tremendo esforço percebeu que ali estavam as regras de convivência no recinto para onde levaria os seus sucessores. Até ai tudo bem. Porém, lá mais adiante encontrou uma linha onde conseguiu ler que “caso o estado de tempo mude, o evento pode ser cancelado sem que o valor do ingresso seja restituído”. O quê?
Como é de imaginar, o passo a seguir foi procurar o boletim meteorológico para consultar como se haveria um encontro de massas de ar quentes e frias, formação de sistemas de baixas pressões, entre outras condicionantes climatéricas, daquelas que só bons meteorologistas podem decifrar.
Porque felizmente nada de mau estava previsto nessa componente, voltou ao verso daquele contracto de adesão para se inteirar do que dizias as outras letrinhas e eis que estas revelam que nenhum petiz está autorizado a levar um lanchinho consigo, como quem diz “temos tudo para o seu filho. Deixe-o connosco”.
Ora, será que o autor deste parágrafo se deu conta de que existem pessoas que carecem de cuidados especiais? É que nem todo o sumo, água, salada, pão, biscoito ou rebuçado cai bem a todos. Há crianças alérgicas a isto e a aquilo, assim como há adultos que não podem beber uma cerveja, nem mesmo a pedido do público. Tem moçambicanos que, por crença, não comem carne de animais de duas patas e outros não se dão com animais de quatro. Como ficamos?
Isto serve também para os contratos para o acesso ao financiamento bancário ou para a telefonia móvel, subscrição de redes sociais, entre outros. Onde aparece escrito Termos e Condições Aplicáveis é preciso correr imediatamente para o oftalmologista para endireitar a retina e a iris, depois ir uma loja de venda de lupas e sentar com o documento para lhe ler tim-tim por tim-tim.
De outro modo, aceder a alguns desses serviços é dar um tiro no escuro e correr ao risco de ver uma equipa multidisciplinar, composta por agentes da Polícia, representantes d Tribunal, da Procuradoria e do fornecedor do serviço, chefe do quarteirão e mirones a lhe baterem a porta alegando violação da “cláusula 523 e seguintes”, cuja existência e teor nenhum membro da família sabia da sua existência.
E já agora que Bula-bula está a colocar o guiso ao gato. Não seria altura de alguém mandar aumentar o tamanho daquelas letrinhas? Se Bula-bula usasse letras iguais alguém seria incansável apreciador deste espaço? E mais não disse. Bom Domingo, com letras garrafais, pois claro!