A fotografia mostrando um eurodeputado de calções na Assembleia da República, em linguagem actualizada, “causou”. O tal, em grandes poses, é um senhor chamado Mick Wallace. Dizem que “ele é assim”. Lá pelas bandas onde normalmente actua, fá-lo de bermudas, camisetas e sandálias. Mick deu a cara integrado numa delegação de deputados da subcomissão de Segurança e Defesa do Parlamento Europeu, que vinha, entre outras coisas, avaliar o trabalho da Missão de Formação da União Europeia (EUTM), no âmbito do combate ao terrorismo.
A cena fez lembrar o debate sobre os atavios do pessoal do parlamento moçambicano que fez correr hectolitros de tinta por causa dos números envolvidos. Números mexem sempre com a sensibilidade de quem nada tem. Bula-bula também fez coro às vozes discordantes, mas isso são outras canções… voltemos às bermudas de Wallace…
Então, uns defendiam que Wallace bem podia desfilar de bermudas na audiência com a presidente do Parlamento, desde que isso não ofuscasse a sua “inteligência suprema”, até porque lá do outro lado ele desfila assim mesmo e ninguém diz nada. Ah. Aqui também temos pessoas inteligentes e irreverentes, mas não é de crer que agissem assim… andarem em calças de banho só porque são “cérebros”. Seriam linchadas pelos mesmos que defendem as cuecas de Wallace.
“Mick Wallace não é de vestes formais, mas é bom e grande competente”, disse alguém em defesa do banhista. Bula-bula não tem um aparelho nem dados bastantes para contra-argumentar, mas uma coisa está clara: o nosso parlamento tem regras claras quanto às roupas de quem por lá transita. Também está claro que não são as roupas que definem quem um homem ou mulher é… mas dizem muito do seu Eu.
Não se zangue com o Mick, ele é assim, disse outro.
Ninguém está zangado com Mick. O que Bula-bula questiona é se um moçambicano – de chinelos e camiseta – teria as mesmas facilidades tropicais para entrar na Magna Casa, se até numa simples repartição para aviar documentos os seguranças não permitem que ultrapasse a soleira…
A questão não é se Mick anda de cuecas ou não… o ponto é que regras são regras. Não é por um tipo lá nas “europas” andar em trajes menores que o mesmo deve ser visto como “normal” entre nós, só porque vem do primeiro mundo… seria também interessante saber se a um moçambicano seria permitida tal coisa na terra de Wallace.
Como nos lembra Frederick Douglass, onde a justiça é negada, onde a pobreza é imposta, onde a ignorância prevalece, e onde qualquer classe é feita para sentir que a sociedade é uma conspiração organizada para oprimi-la, roubá-la e degradá-la, nem pessoas nem propriedades estarão seguras… se calhar, por isso mesmo, devemos pensar pelas nossas cabeças… se um tipo anda pelado lá pela casa dele, não significa que deva fazê-lo na do amigo… só porque lá é normal e ele vive numa casa de dois andares!