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Carta aberta aos edis de Maputo e da Matola

Por admin

Excelências,

Bula-Bula está profundamente triste. Zangadíssimo mesmo com os Presidentes dos municípios de Maputo e Matola. O estranho é que também tem consciência de que este gesto, desesperado, pode cair em ouvidos moucos. É que os problemas que aqui irão desfilar são já conhecidos. Mas, como sói dizer-se, bebé que não chora, não mama…

Bula bula mora num bairro, que pertence a Matola, e que dista uns 20 quilómetros do centro da cidade de Maputo. Mora lá e trabalha aqui. A ginástica diária de fazer os tais quilómetros é digna de um romance capaz de ganhar vários prémios nacionais e internacionais pelo seu enredo rocambolesco.

Como dizia, a luta diária é mesmo titânica. Primeiro é preciso acordar bem cedo e, depois de caminhar durante uns 20 minutos, chegar a paragem formar fila – que de vez em quando se desfaz porque há sempre um Chapa que pára do outro lado da rua e faz as famosas “ligações” – e uma vez dentro do mesmo assumir posições acrobáticas (algumas a desafiarem a lógica). Como se isso não bastasse – incluindo as habituais gincanas protagonizadas pelos indómitos motoristas de Chapas – ainda é preciso enfrentar crateras, valas e quejandos nas estradas. Para se ter uma ideia da desgraça, um troço como Zona Verde – Benfica, que normalmente se fazia em 3 minutos, hoje para fazer a mesma distância, leva-se 30 a 40 minutos… é que os buracos (que se vão somando e crescendo a olhos vistos) provocam naturalmente engarrafamentos!

Senhores presidentes,

Se alguma vez viajaram de barco em dia de maré agitada, é assim como viajamos nos Chapas. Como conservas, apertamo-nos e somos chocalhados por causa dos buracos. Alguns desses buracos começaram por ser tão pequenos como uma moeda de 10 meticais e foram crescendo de tal sorte que hoje, pelo tamanho, se tivéssemos moeda correspondente, seria uma equivalente a 1000 meticais. Cresceram com todo mundo a ver…

A crise financeira, apesar de restringir a disponibilidade de capital para investimentos nas mais diversas áreas, não pode continuar a ser a desculpa para todos os nossos problemas. Há coisas que dependem da forma como nos organizamos. Este país já viveu crises maiores do que esta mas, mesmo nessa altura, todos sabíamos a que horas o machimbombo para Costa do Sol passaria pelo Ponto Final; toda gente sabia o horário do autocarro para Patrice Lumumba ou Benfica. Isto só para citar alguns exemplos…

Por isso mete dó ver como as nossas paragens se transformaram em lugares de comícios. São centenas de pessoas com o credo na boca a espera de um possível autocarro que muitas vezes não chega. Agora Bula-Bulaouviu dizer que os autocarros municipais só laboram entre as 7:00 e as 20:00 horas. Se é verdade ou não, isso não interessa porque mesmo nesse intervalo, não se vê machimbombo nenhum.

O problema de transportes nas nossas cidades tem de ser visto com a devida seriedade. Não é desejável que seja analisado em gabinetes fechados, confinados a confraria de assessores e terceiros, sujeitos a inspirações conjunturais que não tem nada de real. Tão pouco é razoável não incluir nesse processo os próprios transportadores, incluindo os My Love.

Considerando-se todos esses pontos, Bula-Bulaaguarda dos Municípios o ensejo de uma análise ampla, franca, aberta, transparente, que envolva os mais diferentes sectores de opinião e conceda aos utilizadores a oportunidade de apresentarem também as suas propostas. As decisões sobre o tratamento que nos está reservado hoje exercerão impacto sobre o futuro do país, nos próximos cinquenta anos, e marcarão sucessivas gerações.

Portanto, Exmos. Presidentes, é com o coração esfrangalhado – para não falar do corpo moído – que me dirijo as excelências – antes claro de escrever para o Presidente da República – apelando para que revejam essas situações. A verdade é que não podemos continuar a viver desta maneira. As vias de acesso estão lastimáveis e complicam a circulação tanto de carros particulares como dos transportes colectivos e semi-colectivos.

Neste momento, eu, Bula-Bula estou a dever ao meu patrão; devia ser ele a dever-me mas como sempre chego atrasado, a lista de descontos no meu salário já é longa e, por estas alturas, serei eu a ter que pagar para continuar a trabalhar. Caricato mas real diante do que está a acontecer!

 

Obrigado.

 

Maputo, 05 de Março de 2017

Atenciosamente (desculpe não era isso que queria dizer)

Zangadíssimo (isso sim!)

 

Bula – Bula

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