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Assim já é demais mas fazer mais como?!

Por Idnórcio Muchanga

Bula-bula tinha a certeza de já ter visto de tudo em Moçambique e, por isso, já estava calejado. Nada mais o surpreenderia. Mas está difícil. É que com cada uma que acontece nesta pérola do Índico se se dissesse que conseguimos fazer acordar um finado só o mais distraído dos seres vivos é que se daria ao luxo de discutir essa possibilidade… é que já nem há espaço para a indignação.

Não é que por estes dias chegaram ao celular do Bula-bula duas fotos curiosas sobre a construção de um posto de cobrança – uma espécie de casa dos pensionistas – que está a ser erguido algures em Marrupa, no Niassa. Na placa, vem que a tal casinha custa 14.753.820,30 Meticais; exactamente catorze milhões, setecentos e cinquenta e três mil, oitocentos e vinte meticais e 30 centavos. O problema é que a tal “obra” parece uma daquelas dependências que a juventude faz provisoriamente no fundo do quinta enquanto não sai da casa dos pais. Nem sequer dá para perceber se tem ou não lavados… se tiver a pessoa certamente que mal conseguirá ficar em pé dentro. Parece exagero, mas é real.

A infra-estrutura até é bonitinha, para dizer que devem ter sido desembolsados outros milhões para se desenhar aquilo e foi aprovado e vai se construir em quatro meses. Sem exagero, se fosse dado a Bula-bula metade deste valor, saía uma mansão, comprava um “dubaizinho” para andar e ainda conseguia ter umas férias condignas, pela primeira vez na vida.

Dizem que meter a colher em seara alheia pode resultar em queimaduras do primeiro e segundo graus, mas não seria de considerar a possibilidade de adjudicarem secretamente essas obras e não colocarem nenhuma placa com aqueles dizeres todos que só deixam o zé-povinho com vontade de fugir a sete pés para outra freguesia? Vamos lá combinar – como diz o outro – 15 quilos de Meticais por uma casota que parece mais um canil é demais. Contas feitas, aquilo não deve ter “mamado” 500 blocos e meia dúzia de sacos de cimento… dói ver aquilo, mas para não sofrer sozinho, Bula-bula partilha a placa e a referida obra.

De qualquer modo, o cérebro já maltratado de Bula-bula não está a processar bem a informação e há uma secreta esperança de que tudo seja um pesadelo bem real… custa aceitar que a mola esteja a ir pelo ralo abaixo à luz do dia.

Acordem-me, por favor, e peço as chaves do país para ir dar uma volta às Caraíbas e já volto!

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