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Antes grosso do que falso

Por admin

Todos nós gostamos da Polícia. Aquela comprometida com o seu trabalho. Que está ao serviço da comunidade. Não interessa a cor da farda, desde que seja uma Polícia séria. E como a polícia é constituída por pessoas, vale dizer que gostamos dos polícias sérios. Daqueles que não brincam em serviço.

A polícia camarária também não brinca em serviço… mas, como usamos dizer, as vezes no melhor pano cai a nódoa. Bula-bulatestemunhou as acções desta força – ou pelo menos de um agente – que amiúde, aos pontapés e azorragues, põem em marcha os seus juramentos, intrujados de preconceito e vícios. Que o digam as crianças despejadas das carrinhas escolares, em plena via pública, há poucos meses na cidade de Maputo.

Tudo indica que é mais fácil sucumbir ao vício que aprimorar a virtude. Deve ser sim, pois a cada dia que passa assiste-se a actos surpreendentes que geram reclamações de todos os tipos e gritos, numa clara demonstração de implacabilidade no cumprimento dos ensinamentos e ordens… a verdade é que todas as mães, sem excepção, deram à luz grandes homens. E se a vida as enganou em seguida, delas não foi a culpa.

Ahhhh… Bula-bula sabe e não se esquece que quem é tolerante com os seus pecadores é Deus, apesar de não tolerar o pecado. É preciso, sim, buscar o conceito de tolerância, uma rara habilidade de conviver com respeito e valores ou situações que nem sempre concordamos. Seria bomvê-la inculcada, ainda que em serviços mínimos, na nossa majestosa polícia camarária. Afinal, é preciso saber lidar com os pecadores sem que isso desagúe em conivência.

E entenda-se que pecados há em todas as sensibilidades e para todos os gostos e bolsos: o povo peca;  Bula-bulafaz parte do povo, também peca. Mas a distribuição dos males não pára por aqui. Estende-se por aqueles que também se colocam acima das imperfeições. Até mesmo a camarária, que se refugia em leis, peca. É que as leis são feitas pelos homens e por eles aplicadas. E nalguns casos as discórdias não provêm só das próprias leis, mas também da forma como são aplicadas às cegase biqueiradas.

Foi o que ocorreu há dias, em plena avenida 24 de Julho, defronte de uma pizzaria localizada na zona do Museu, um local que está a sofrer, por estes dias, algumas obras no separador central desta grande via onde os automobilistas estacionam as suas viaturas.

Na referida pizzaria existe um espaço para os táxis e na circunstância encontrava-se vago. Pretendendo levantar a sua encomenda, Bula-bulaestacionou (pecou!) ali a viatura, ligou a luz que indica emergência e deu um pulo rápido para dentro do estabelecimento.

No mesmo instante, uma viatura da polícia camarária passava pelo local. Ao avistarem a situação, os agentes deram saltos míticos e coléricos, a uma velocidade astronómica e, de peça bloqueadora em mãos, fitaram o olhar na nossa roda frontal direita com a intenção de galardoá-la colocando-a o seu confiado “chamussão”. Aquela flexibilidade fez lembrar o Homem Aranha…!

De pronto Bula-bulapostou-se diante de um implacável agente com a finalidade de explicar a razão do efémero pecado, ao mesmo tempo que despejava desculpas pelo ocorrido, afirmando que não havia espaço nenhum para estacionamento sem pecado, daí o aproveitamento de uma nesga cedida por um taxista.

Desculpas não aceites.

Seguiu-se, então, a atribuição de uma multa de mil meticais, um processo que culminou com a apreensão da carta de condução, uma vez não presente o Bilhete de Identidade na ocasião, que permitiria ao agente recolher dados sobre o nosso domicílio.

Para reaver a carta de condução, Bula-bulatratou de se dirigir à sua base, onde buscou o seu cartão de eleitor, que satisfaria os requisitos necessários. Uma vez no posto do distrito municipal de Ka Mpfumu, local indicado para o pagamento da multa, apresentou o seu problema ao que se seguiu a emissão de chamada telefónica ao agente implacável por parte dos seus colegas ali baseados, com a finalidade de o instruir a atender-nos, do local onde se encontrava: colher os dados necessários do cartão de eleitor e devolver-nos a carta de condução.

Marcha feita até ao local onde estava o agente. Apresentado o cartão de eleitor, se seguiu uma apreciação com olhar de lince da parte do referido agente que culminou com uma resposta surpreendente: “este documento não tem dados da sua residência”. Céus!!! “Como não?”, perguntámos. “Não tem, não tem. Já disse que não tem!”.

Intrigados, pedimos o documento de volta e na nossa forçada miopia vislumbrámos tais dados que o fiel agente fincava o pé para vociferar que não existiam: “chefe”, dirigimo-nos a ele, “a informação de que precisa é esta aqui: bairro…, quarteirão… casa…”.

Inconformado com a nossa estúpida leitura pediu que um dos colegas puxasse pelo seu cartão de eleitor, queria fazer uma comparação. Ao visualizar o documento do seu par virou-se para nós e disse: “aqui no cartão do meu colega existem dados de residência, mas aí no seu não está explícito”.

Platão já dizia que quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz que o injustiçado. Mas certamente aquele agente nunca ouviu falar daquele grego.

Acabados com tamanha aberração questionámos: “chefe, o que é que está a acontecer?”.

Tamanha patetice a que se assistia, fez com que outro agente tomasse as rédeas e pedisse, por seu turno, o nosso documento. Ao apreciá-lo encontrou todos os dados que não apareciam aos olhos do jovem e indomável agente. Não restava mais nada senão ditá-los ao seu companheiro. Mesmo assim, aquele homem atento e inconformado(?) duvidou da atitude do seu par. “Ok! Vou passá-los, mas se alguma coisa não estiver bem aí…”, lá fincava o pé na sua insipiência, intolerância e preconceito. Bula-bulaquestionou no momento: “chefe, está a querer, com isso, dizer que esse cartão de eleitor é falso?”. Não respondeu! Não com palavras. Mas os seus actos o denunciavam, suas atitudes iradas e impacientes levam Bula-bulaa questionar o que é que de facto se pretendia. Algumas pessoas se dispõem em destruir vidas para sentirem-se bem… só pode ser isso!

Já agora, quase plagiando C4 Pedro: “alguém atira água (fria) nas actuações da camarária?”. O povo – e Bula bulafaz parte desta malta –  não aguenta mais…

 

 

 

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