É bíblica a história de um certo Governador da Província Romana de Judeia que, diante de um interessante dilema – a escolha entre Jesus Cristo e Barrabás, este um conhecido criminoso – preferiu atirar a responsabilidade a terceiros. Mais ou menos do tipo quem decidiu são vocês e, por isso, sou inocente…
Mas como a história repete-se, 2000 anos e tal depois desse episódio que culminou com a crucifixação de Jesus Cristo, Bula bula encontra um paralelo bem actual na história do ferry-boat “Bagamoyo” que, diariamente (quando está a funcionar) faz a ligação marítima Maputo-Catembe.
Ao que tudo leva a crer, o “Bagamoyo” andou uns tempos nalgum estaleiro a beneficiar de melhoramentos e, para gáudio da malta que vive – tal como Bula bula – do outro lado da margem, a notícia foi motivo de celebração. Aumentava o leque de possibilidades para a travessia, para além dos barquitos e do ”Mpfumo”. “Bagamoyo” representava uma mais – valia…
Mas como alegria de pobre dura pouco, agora ficamos a saber que o ferry-boat só está a operar com um motor quando devia ser com dois… contas feitas está a andar com uma perna apenas e isso, naturalmente, representa uma grande preocupação. Neste quesito, pelo que se sabe, está meio mundo de acordo. O ferry- boat representa, nessas condições, um perigo para os utentes. Vezes sem conta, reporta-se, o mesmo barco já pifou durante a travessia criando, como se pode imaginar, pânico e incertezas nos viajantes da circunstância.
E o perigo propiciado por embarcações é conhecido. Ainda estão frescas as imagens de desespero de dezenas de pessoas no naufrágio que se deu em Inhambane há pouco tempo ou ainda o que aconteceu aqui na baia de Maputo com um barquito que fazia Maputo-Catembe.
Ora o ping-pong que se instalou a volta do “Bagamoyo” fez Bula bula revisitar a história de Pôncio Pilatos. É que nessa “brincadeira” parece que uns e outros estão a jogar a responsabilidade para seara alheia… O Conselho Municipal alertou. A Transmarítima sabe do assunto. Outros que tais também estão por dentro do assunto…
O que surpreende, nesta salada toda, é que o “Bagamoyo” continua a transportar pessoas e bens. Provavelmente justificações existem às toneladas. Que os outros barcos não são suficientes para fazer o trabalho, entre outras caraminholas. A verdade porém é que há centenas de pessoas que arriscam as suas vidas todos os dias ao entrarem naquele barco que se arrisca a transformar-se num Poseidon.
Verdade mesmo é que – que Deus não o permita – a tragédia espreita.
Bula bularelembrou que Aristóteles disse que "o medo é o médico que aparece quando vemos o mal a chegar". Há, neste caso, muita gente a ver o mal aproximar-se… mas ninguém faz nada. Provavelmente depois, a semelhança de Pôncio Pilatos, dirão que “nós avisamos” ou a “responsabilidade é deles”. Infelizmente, nessa altura, será tarde para remediar-se o mal.