O líder do Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD), Raul Domingos, ex-negociador-chefe do Acordo Geral de Paz (AGP), em representação
da Renamo, descarta qualquer possibilidade de retornar a este partido, mesmo na eventualidade de Afonso Dhlakama vir a tornar-se presidente honorário, conforme profetizam alguns militantes da “perdiz”. Domingos admite apenas uma coligação para fins eleitorais, tendo em vista conquistar maior número de assentos nas assembleias municipais, assim como na Assembleia da República (AR).
Nesta entrevista, Raul Domingos fala das actividades políticas desenvolvidas pela sua formação política durante o ano passado, onde destaca a formação dos quadros do partido a vários níveis, tendo em conta os próximos pleitos eleitorais, nomeadamente, eleições autárquicas deste ano e as gerais de 2014.
Em conversa com o domingo, aquele político fala ainda da sua trajectória e recorda as razões que teriam culminado com a sua expulsão do partido Renamo, no ano de 2000, facto que fez com que partisse para um outro projecto que foi a fundação do PDD. Nas linhas que se seguem acompanhe os extractos da entrevista em discurso directo.
Senhor Raul Domingos, quais as actividades políticas que dominaram a acção partidária do PDD durante o ano de 2012?
O nosso partido dedicou mais tempo na formação dos seus quadros, de modo a reforçar a nossa base social de apoio para podermos enfrentar os desafios eleitorais que se avizinham, com convicção e motivações fortes.
Um ano todo a investir na formação de quadros?
Sim. Uma vez que era preciso reavivar a memória dos nossos militantes sobre a maneira como surgiu o partido. Explicámos as pessoas que nós aparecemos de uma situação de conflito dentro da Renamo, nos anos 2000- 2003. Aliás, que foi a direcção do partido Renamo que expulsou Raul Domingos das suas fileiras por razões pouco claras. Até hoje ainda não conseguimos entender as motivações que estiveram por detrás desta decisão.
Pode nos recordar as razões evocadas?
Se estão recordados, estávamos numa situação em que, por um lado, a Renamo dizia não reconhecer os resultados eleitorais de 1999 e, por outro, tínhamos o partido Frelimo que se proclamava vencedor das eleições. Nesse contexto, houve uma negociação com vista a harmonizar as posições de ambas as partes de forma a permitir que o país caminhasse normalmente, uma vez que a maior força política da oposição, ao declarar que não reconhecia os resultados, criava uma situação de instabilidade política. Entretanto, essa negociação não chegou a terminar, porque a Frelimo pretendia que fosse secreta e o líder da Renamo apareceu publicamente a afirmar que havia conversações secretas, mas que a Frelimo, através do então presidente Joaquim Chissano, viu-se na obrigação de fazer um desmentido.
Um desmentido de Joaquim Chissano?
Sim, houve um desmentido de Chissano que incriminava Raul Domingos e, para o espanto de todos, a Renamo apareceu a distanciar-se de mim apoiando as declarações de Chissano, ou seja, que eu não estava a negociar seriamente, mas sim a resolver os meus interesses pessoais. Esta situação culminou com a minha expulsão, razão pela qual três anos depois surgiu o PDD, um partido cuja base social é praticamente a mesma da Renamo.
Nós perguntávamos sobre as realizações do partido no ano passado…
Não podemos falar disso sem recordar os passos que antecederam a nossa criação. Aliás, gostava de acentuar que tendo sido criado em Dezembro de 2003, com a realização do 1.º congresso, em Julho do ano seguinte, oficializámos o partido e em Outubro concorremos às eleições, sem conseguir nenhum assento, o que afectou negativamente a nossa base social, razão pela qual de 2004 a 2009 estivemos a percorrer o deserto.
Quer dizer que há um quinquénio sem desenvolver nenhuma actividade política de vulto?
O que acontece é que os nossos militantes não têm capacidade para sustentar o partido, por um lado, e, por outro, temos um empresariado viciado. Isto é, que não pode financiar a oposição sob o risco de perder tudo ou ter uma inspecção e tributação que acaba levando as empresas à falência, tal como foi o caso de Rachid Tayob, um dos grandes impulsionadores do PDD, mas que devido às constantes multas e intimidações acabou fechando tudo que era o seu ramo de negócios.
PARTIDARIZAÇÃO DO ESTADO
Depois de atravessar o deserto, o que é que foi feito?
No ano de 2009, houve aquela situação de rejeição da candidatura presidencial do líder do PDD protagonizada pelo Conselho Constitucional (CC), em que os seus juízes agiram politicamente, ao invés de respeitar a Constituição da República. Ao rejeitar as nossas candidaturas, afectaram negativamente a imagem do partido. Ou seja, os nossos membros sentiram-se defraudados e não votaram massivamente, porque o seu candidato foi excluído. Portanto, houve um boicote à nossa participação nas eleições, naquilo que podemos designar de uma fraude técnica. Portanto, ao longo deste percurso, fomos combatidos.
Combatidos por quem?
Ora, quem é que poderia ser? Muito simples, o nosso maior adversário é o partido no poder que manipula o Estado, razão pela qual surgem várias reclamações de que há partidarização do Estado. No meu entender, a Frelimo realizou um péssimo trabalho através dos seus juízes do CC.
Quer nos parecer que os acórdãos dos juízes do CC têm sido adoptados por consenso…
Se se lembram, nesse acórdão que nos excluiu o juiz conselheiro Manuel Frank, que foi proposto a este órgão pela Renamo, votou vencido a dizer que não havia razões para a rejeição da minha candidatura. Portanto, não constitui verdade que as decisões deste órgão são tomadas por consenso.
DESAFIOS PARA 2013
Quais são os desafios que elegeram para o ano de 2013?
Nós constituímo-nos em partido para participar na vida democrática do país e essa participação só pode ser concretizada através das eleições, pelo que vamos concorrer em algumas autarquias e já estamos a trabalhar na identificação dos municípios. Aliás, estamos condicionados naquilo que poderá ser a decisão final a sair brevemente.
Neste momento, já há contactos nesse sentido?
Há um trabalho político que está sendo feito com vários partidos políticos. Se se recordam, aquando da revisão da legislação eleitoral, estive à frente do grupo de partidos designado G-3, é com estes que estamos a trabalhar.