– Elídio Carvalho, 35 anos
Dia de chuva. Fina. Fria. Alheio ao estado do tempo está o jovem Elídio Fernando carvalho. Na garupa da sua motorizada, indolente, cruza as rua de Ulongué, a vila-sede do distrito de Angónia, Tete. Aparentemente não tem nada para fazer. Aceitou trocar dois dedos de conversa…
Elídio Carvalho é pai de 2 criançase residente do Bairro Francisco Manyanga. Diz que trabalha numa empresa que presta serviços à outras instituições que “fornecem” energia e água à cidade. Recusou-se terminantemente em indicar claramente de que empresa se tratava.
“Meu patrão não permite que falemos com estranhos sobre a empresa mas garanto que trabalho e sou electricista e canalizador”, disse.
Insistimos mas mesmo assim Elídio não desfez o nó mas já deu outra resposta: “eu sou um faz tudo pela vida. Tenho mulher e filhos para cuidar e isso obriga-me a fazer vários trabalhos”.
O nosso entrevistado mostrou-se um homem bem informado sobre os acontecimentos em curso no país mas que se reservava o direito de não comentar sobre “assuntos políticos” até porque “Moçambique está a atravessar uma fase muito delicada. Temos o problema de refugiados e da confusão por causa dos homens armados… essa coisa de colunas para nos deslocarmos é um caso sério e devia parar para podermos desenvolver o país”.
para Elídio qualquer comentário nesta altura pode ser entendido de “forma errada” e por isso prefere falar de outros assuntos, como por exemplo “a fraca qualidade da corrente eléctrica e os cortes constantes que acabam por danificar as nossas geleiras e televisores, apesar de a Barragem estar mesmo aqui na nossa província” e “sermos nós que andamos a vender energia para a África do Sul”.
Também não se furtou a falar da sua vida e do bairro onde vive destacando que “infelizmente há pessoas que não aceitam o desenvolvimento. Não querem fazer latrinas apesar das campanhas que já foram feitas e isso é mau para o meio ambiente e para a saúde”.
Ainda na saúde falou da problemática do HIV/Sida “embora eu não tenha nenhum familiar doente, sei que esta é uma doença que está a causar muitos problemas na sociedade. Por vivermos perto de Malawi isso também influencia. Aqui há uma grande circulação de camionistas e isso tem consequências”, disse antes de acrescentar que as “brigadas da saúde fazem o seu trabalho mas nós, como população, temos que ajudar”.
Sobre o programa radiofónico “Ouro Negro”, Elídio afirmou-se um apaixonado pelo teatro de tal sorte que “eu sempre ouvi a rádio… gosto muito de Cena Aberta (programa de teatro da RM) e estou a acompanhar esta radionovela e gosto da história de “Henriques da Cruz”.
Na peça em apreço, Henriques da Cruz um professor, um jovem que teve que reformar alguns paradigmas da sua vida por causa da mudança da cidade para o campo.
O nosso entrevistado diz rever-se nesse personagem porquanto, apesar de ter nascido e vivido sempre em Ulongue, ele sempre se viu como um cidadão do mundo, vivendo numa grande cidade. Refira-se que Ouro Negro é uma radionovela produzida pela Rádio Moçambique, PCI Media Impact, PMA e Unicef e tem como pano de fundo as mudanças sociais resultantes da exploração mineira.
Belmiro Adamugy
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