Cândida Mata, tratada nos meandros artísticos por professora Candinha, já viveu meio século, cinquenta anos. Parte destes anos, concretamente trinta, foram vividos de forma efusiva nas artes,
quer ensinando quer promovendo. Empenhada e desafiadora de causas, cedo se destacou quando aluna e nunca mais parou. Hoje, mãe de dois filhos, ela é igualmente mãe de muitos artistas que vimos brotar, fazendo maravilhas. Muitos deles saíram de suas mãos, da sua paciência e sua abnegada entrega a causas culturais. Foi bailarina, professora, Directora Pedagógica e, hoje é Directora Artística da Companhia Nacional de Canto e Dança. Pretendemos conhecê-la e por tal, convidamos o leitor a seguir-nos na entrevista .
Fale-nos da Cândida Mata cidadã.
Cândida Mata é cidadã moçambicana nascida a 20 de Março de 1963, na cidade de Maputo, bairro do Aeroporto, Ka Tlavana. Professora de dança, psicopedagoga, mãe, cantora e dançarina.
Quando é que abraça a arte?
Não há uma data específica para determinar quando abraço a arte, pois de tenra idade comecei a praticar o canto e declamação de poesia na Igreja Presbiteriana do Chamanculo, onde frequentava Psisontwana (escola dominical) e patrulhas ( catequese).
Sei que fez coros nessa altura….
Em 1973, comecei a fazer coros para o Yana Munguambe juntamente com a minha irmã Helena Mata. Já com os momentos efusivos da revolução, e com a formação da União Moçambicana de Cultura Musical e Teatral, comecei a participar em espectáculos, fora do círculo da Igreja, actuando em palcos como Scala, Gil Vicente e Manuel Rodrigues, ao lado dos músicos Will e Aníbal, Mandrake e outros que não me lembro dos nomes, pois neste período era muito nova.
Fale da proesa dos 400 estudantes…
Em 1974,1975, fiz parte do grande grupo de 400 estudantes oriundos de várias escolas da cidade de Maputo que deveriam fazer a animação cultural das festividades da Independência. Este grupo dividia-se em diferentes manifestações, canção, dança, poesia e teatro.
Constatado o meu talento, acabei fazendo a canção, dança e poesia.
O que significou para si participar no festival da Nigéria, sendo uma das mais novas no grupo?
Participar no festival da Nigéria – Festac 77, foi uma experiência ímpar, ser a mais nova num grupo onde pontificavam nomes já sonantes, como Malangatana Nguenha, Maestro Justino Chemane, Raul Baza, Agostinho Luís, André Muia e dirigidos por Carlos Silia.
Foi fascinante?
Era algo que me ultrapassava, mas o ambiente que os antigos militares e estudantes das escolas da Frelimo nas zonas libertadas proporcionavam, ajudou a ultrapassar o medo que sentia, e passei a encarar o palco como o lugar favorito, admirei-me com a capacidade de programação das actuações e os momentos de confraternização nos locais de acomodação, o que permitiu a troca de experiências com grupos culturais de outros países.
Muita aprendizagem no meio de adultos?
Posso afirmar que foi uma verdadeira escola, pois recebi muitos ensinamentos dos camaradas que vinham das zonas libertadas e foram estes os verdadeiros mestres de maior parte do reportório que hoje sustenta as companhias, associações culturais.
Eles cultivaram e ajudaram na preservação de várias coreografias….
Sim. O exemplo é das danças Konzate, Nganda, Wadjaba, Limbondo, Mapiko.
Como viviam os momentos culturais na época….compara-se ao presente?