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Respiro e vivo teatro

Por admin

Nasceu nos arredores da cidade Maputo, no bairro de Bagamoio. Vem de uma família de 8 irmãos, três são homens e cinco mulheres. Tem 30 anos de idade e é fazedor de teatro.

 Ele é o dono da voz que faz dobragens em changana de figuras mundiais como Charlot, Barack Obama, Hitler, Khadafi, entre outros. Falamos de Horácio Bernardo Guiamba, um jovem sonhador que luta dia pós dia para contribuir no desenvolvimento cultural de Moçambique.

Actor há mais de 15 anos, Horácio Guiamba, descobriu a sua paixão pelo teatro, ainda na década 90. Revelou que tinha o hábito de assistir aos programas de televisão e imitava quase tudo que via: Na novela, “Sassaricando”, e tinha um personagem chamado Bobi Bankar que eu admirava e tentava encarna-lo. De certa forma acho até que ele impulsionou, ainda que de forma indirecta, a minha entrada nas artes e paixão pelo teatro” disse.

Para além de imitar personagens, Guiamba, participava igualmente em programas culturais na escola. Actuávamos sempre nas horas de reunião de turma, e em outros eventos na escola. E assim fui me descobrindo, claro que as pessoas também elogiavam-me e isso me motivou ainda mais.

Em 1998 quando fazia 8ª classe na “Malhazine”, um dos seus professores, incentivou-o a inscrever-se no grupo de teatro Gungu: Segui o conselho e lá fui…

Finalmente teve a oportunidade de participar, pela primeira vez, de um evento com a dimensão do público que desejava. Foi na escola primária de Bagamoyo. O espaço estava lotado, aquilo representou um grande desafio pois nunca tinha enfrentado tanta gente. Acho até que foi a partir dali que senti firmeza, tive a certeza de que realmente nasci para fazer teatro, pois no final as pessoas do meu bairro vieram ter comigo e disseram que tinha talento… e isso me encorajou.

Em 2002, finalmente entrou na companhia teatral Gungu, onde mês depois fez o primeiro espectáculo intitulado “Querido Nossa Filha Está Grávida”, encenado por Beatriz Munguambe. Ele classificou o momento como tendo sido “mágico”. E referiu que apesar de ter entrado no Gungu, continuava a receber convites de outros grupos e aceitava, uma vez que acreditava que aquela era uma maneira de aprender cada vez mais.

MINHA FAMÍLIA

NÃO ACEITAVA

Durante a conversa, nosso interlocutor deixou-nos a saber que sua estrada não foi rectilínea, dado que ainda no começo da carreira teve de fazer “das tripas coração” para não desistir do seu sonho, isto porque a família não aceitava a escolha que fizera na sua vida.

Tive mais apoio de pessoas de fora. Minha família achava que teatro não era uma coisa que pudesse me sustentar. Para eles aquilo não passava de uma loucura minha e só cheguei aqui porque fui duro na minha decisão.

Entretanto, actualmente o cenário mudou, é que a família do actor sente muito orgulho dele e, segundo conta, até a mãe que tinha medo de o ver perdido sente muito orgulho. Não pelo que sou hoje, mas sim por ter sido persistente e lutado pelo meu sonho.

TRABALHOS MARCANTES 

O actor já participou em diversas peças teatrais, mas não se esquece daquela que realmente lhe projectou no mundo do teatro, e a descreve de forma minuciosa: “Os Bastidores da Notícia”.

Ele destacou o papel que fez ao encarnar Obazange, um jornalista de longa data que não queria ir a reforma, pois era um dos funcionários que tinha acompanhado o processo de desenvolvimento da sua empresa. Sempre que se sentisse ameaçado fazia de tudo para tirar quem tentasse cruzar seu caminho.  

Maisadiantedomingoquestionou também ao actor qual a personagem que lhe marcou durante o seu percurso, ao que respondeu é difícil descrever isso. Todos têm uma dimensão importante para mim e foram marcantes porque sempre os encarei com muita seriedade, busquei muita informação antes de as interpretar. Mas “Luísa” tem o seu toque porque interpretei-a durante cinco anos. A peça fora feita no âmbito do projecto italiano de cinema móvel que andava pelo país. A forma como ela interagia com o povo, as coisas que ela dizia, as perguntas que colocavas, as respostas que obtinha, eram fantásticas. Ali não era Horário, era sim a “Luísa” e acredito que ajudou muita gente, porque fazia educação cívica. 

Segundo Horário, “Luísa levava mensagens para as pessoas ganharem consciência. Ela ensinava as comunidades a não julgarem pela aparência, dado que “nem tudo que brilha é outro, e nem tudo que aparentemente ser lamacento é lixo”. E o mais importante, é que ela não “despejava” a mensagem, os assuntos eram discutidos ali com o público, mas tudo com uma carga de humor, pois nosso objectivo era deixar as pessoas a rir, dizendo-lhes as verdades, salientou.

DOBRAGENS E PUBLICIDADES

Para além de actuar, Horácio faz também um trabalho que foi alvo de muita apreciação por parte do público moçambicano. Trata-se das dobragens em changana de “Charlot”, “Adolfo Hitler”, algumas conversas de “Barack Obama”, “khadafi” entre outros. Segundo conta foi um dos maiores desafios que teve na sua vida, e a primeira vez que teve de faze-lo foi também no âmbito do projecto de cinema arena.

Eles queriam inovar e a ideia da dobragem foi mesmo no campo. Disseram para fazermos a dublagem, em changana, do filme de Charlot “A Químera de Ouro”. Não foi fácil, pois tínhamos que fazer aquilo em duas noites e havia barulho de cães, a medida em que eles latissem tínhamos de parar de gravar. Mas foi uma experiência positiva, pois conseguimos obter bons resultados. O nosso principal alvo (comunidade) ficou satisfeito, disse Horácio.

Salientar que Guiamba gosta de fazer dobragens porque dão-me um trabalho enorme, dado que obrigam-me a tentar trazer o espírito original do personagem que está na imagem.

Por outro lado, o actor gosta de fazer publicidades, e conta que tem tido muitas proposta desse trabalho, facto que o deixa alegre, pois isso “valoriza-me como actor”.

A FORMAÇÃO TORNOU-ME “MELHOR”

Actualmente no último ano do curso de teatro, na Escola de Comunicação e Artes (ECA), Guiamba diz que a formação está a fazer dele uma pessoa melhor preparada para o seu trabalho.  

Para ele “é um grande ganho” uma vez que isso dá mais consistência ao trabalho do artista. Antes de estar neste curso achava que sabia tudo, mas não, pois me faltavam as devidas ferramentas que só uma formação académica oferece. E descobri que representar não é estar no palco apenas, é muito mais, é ter as técnicas e saber domina-las. Por isso, sinto que foi muito bom iniciar esta formação, uma vez que tenho a oportunidade de conciliar o saber fazer e a teoria, E acresceu que mesmo depois de terminar o curso quero continuar a estudar, o meu trabalho está em constante evolução.

PERSPECTIVAS 

Para Guiamba o teatro moçambicano está num bom ritmo de crescimento, mas é preciso que se continue a trabalhar para atingirmos outros patamares.

Revelou ainda que sonha em um dia fazer televisão, gostaria de ter um programa de teatro, em que possa falar do meu trabalho (teatro moçambicano), trazer os protagonistas de teatro antes e depois de existir a ECA para que possamos discutir os nossos problemas.

Segundo ele, o Festival de inverno, organizado pela Associação Cultural Girassol, por exemplo, deu para ver que o país tem muitos grupos e bons, mas debatem-se com o mesmo problema: “a falta espaço”.

As poucas que existem têm donos e para um grupo ir lá actuar tem que ser consoante a agenda dos proprietários, e isso é crítico pois pode culminar com a extinção dos mesmos,afiançou.

Guiamba vai mais longe, ao afirmar que, tudo que a classe de teatro precisa é um espaço onde possa ir sem nenhum receio, havendo, claro, uma organização no que concerne as agendas. Quanto a outras dificuldades vamos combatendo com meios próprios, temos consciência de que nem tudo será resolvido pelo Ministério da Cultura, concluiu.

1.     Horácio Guiamba: teatro é sinónimo de vida

2.     Interpretando “Luísa”, personagem especial na sua carreira

Maria de Lurdes Cossa

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