Início » Quando a música é o verbo do futuro

Quando a música é o verbo do futuro

Por admin

Uma vez, do alto da sua significância, Aristóteles disse: “A música é celeste, de natureza divina e de tal beleza que encanta a alma e a eleva acima da sua condição.” Nada podia personificar

 melhor o que há seis edições vem acontecendo em Port Shesptone, à beira do refrescante Umzinkulu River. A azáfama dos dias que precederam a grande noite fazia mesmo prever que o majestoso Marburg Sports Ground iria acolher mais uma vez  uma noite de acordes divinos. O naipe de convidados descerrou a última cortina de dúvidas sobre a garantia de qualidade. Quando se tem os Freshlyground a abrir aquilo que será o desfile de sons enigmáticos, só pode mesmo prefigurar uma noite de sucesso. Ano passado o Inverno estaladiço, com o frio a rondar gélidos 8 graus e a chuva a roçar o dilúvio, pairou o espectro do fracasso. Contudo, os deuses zulu forma convocados  e, extraordinariamente, orientou os mestres Vusi Khumalo, Selaelo Selota e Zahara a espantarem os ventos do diabo. Este ano, a organização precaveu-se e não deixou que o dilúvio satânico tomasse conta do evento. Nem sequer foi preciso convidar os Deuses Zulu, o dia simplesmente abriu com uma brisa e o céu estranhamente límpido. Tão límpido que da praia circundante de Shelly Beach alguns golfinhos ensaiaram algumas notas afinadas para o gáudio de meia dúzia de moçambicanos, de entre centenas de outros estrangeiros. Sem dúvidas um espectáculo à parte, mas que também prenunciava um principio de noite de estrelas.

 

PRE PARTY NO CALÇADÃO

DO MARINE DRIVE AVENUE

A antecâmara do festival é estranhamente feita com Dj´s de nomeada. Este ano não fugiu à regra, não fosse o adágio que sustenta que a música é uma linguagem universal. Sexta-feira, o imponente Marine Drive Avenue viveu uma amálgama de gente vinda dos quatro cantos do mundo. O rígido controlo de consumo de álcool na via pública simplesmente virou excepção. O ambiente estava ao rubro. Centenas de aficcionados de música playback fizeram-se à  imponente BeckLine, uma discoteca de requinte e beleza única. a organização do evento esmerou-se e ampliou o seu apelo para atrair os amantes de música de todas as esferas da vida. O line up deste ano foi sem dúvidas o testemunho vivo da tentativa da organização retrair os pequenos focos das linhas sociais de segregação, alinhando no simpático palco do BeckLine um naipe colorido de músicos. Renomados Djs fizeram a sua aparição e não deixaram créditos por mãos alheias.

XIGUBO XI BA NGOVU

OU A INTROSPECÇÃO DE DJ GANYANI!

Das margens do Limpompo surgiu-nos a fragrância da música do momento na África do Sul: Xigubo de Dj Ganyani, rivalizando com o estrondo do ano dos não menos enigmáticos Mafikizolo a meias com Uhuru. Foi simplesmente o êxtase e a completa loucura quando se fizeram ao palco. Ninguém conseguiu ficar alheio à desenvoltura dos artistas. Para o gáudio das centenas de espectadores Dj Ganyani e Mfikizolo convocaram motivos culturalmente africanos para uma ementa típica zulu, condimentada pelo familiar Xitsonga e de um refrescante isiZulu.  Aliás, nesse quisito os sul-africanos primam por excelência pela cultura que os une. Os últimos anos têm sido seguramente palco de transformações da grande projecção da música sul-africana no mundo. Embora se note ainda alguma polarização entre a música europeia, de um lado, e a música sul-africana, por outro, há claros sinais de alguma aceitação mútua, de compreensão e sobretudo de aceitação.A música que possui uma fusão dos dois estilos também ganhou popularidade. Esta nova e vibrante música é interpretada por grupos, tais como Soweto String Quartet, Ladysmith Black Mambazo, Mango Groove, Mandoza, Hugh Masekela e Mahotella Queens, de entre outros.  Provavelmente a  natureza heterogênea da população da África do Sul explica o crescimento da mistura de culturas, aspecto naturalmente manifestado nas línguas, artes e religiões.

Depois da actuação de Dj Ganyani entermeada por um Big Nuzz rabugento e pela maestria estaladiça de Mafikizolo e Uhuru, ficamos convencidos qua não podia haver melhor. Enganámo-nos redondamente. “Professor” entrou de rompante, esticou a corda e iniciou um dilúvio de emoções. O cenário montado ao longo do Marine Avenue quase desabou quando rasgou acordes conhecidos e aclamados: Jezzebel, Imoto Etshntsha Imali e o convite guerreiro Thula Sizwe Thandazela. A noite do Pré Party foi mesmo de estrelas, ainda que o cinzento anunciador da chuva teimasse em manter a sua mórbida aparição.

 

MARBURG SPORTS GROUND:

O HINO QUE SAI DO MUNDO 

O VI Festival de Jazz de Port Shesptone esteve por um fio. Os ventos de Pretória não nos traziam boas notícias sobre o estado de saúde do ícone da liberdade: Nelson Mandela. Pela televisão percebemos que o sentimento de simpatia e admiração por aquele homem é universal. Diríamos mesmo que a qualidade de herói em Madida recolhe pelos quatro cantos do mundo um inimaginável consenso. Foram convocados os Deuses Zulu e eis que Madiba vai nos deleitando com a sua presença por entre os humanos.

Passava pouco das 10 horas de sábado quando o Marburg Sports Ground, nobilíssimo estádio de futebol, voltou a hospedar um naipe de executantes do AfroJazz ante uma plateia ensurdecedora de perto de 10 mil almas. Ringo, Stimela, Tsepho Sholla, Selaelo Selota, The Soil, Zonke, Mafikizolo, Tsepo Mngoma, Mbuso Khoza, Charles Du Plessis, Naima K, Sisanda Time Factors, derram corpo aos primeiros acordes ao início da tarde. Com uma performance de encher o olho deliciaram os aficionados do afro jazz.  Freshlyground, Lira, Hugo Masekela, Oliver Mtukuzi, espreitaram a sua mestria, contrariando os episódicos momentos de chuviscos que ameaçavam reeditar o dilúvio do ano passado. Ringo nasalisou com investidas importadas do goospel, com que a evocar aos deuses para os deixar fazer a festa dos mulandi do Kwazulu.

Zakes Bantwini, uma espécie de regente da casa, mais uma vez fechou as hostilidades com compassos americanizados num Michael Jackson rejuvenescido. “Wasting my Time” e “ Summer” levaram ao delírio dos seus seguidores. Já o sol espreitava, espantado pelo número de almas ainda ululando acordes de “Shosholoza”, quando o versátil mestre de cerimónias anunciou o “Switch Off” da edição VI da Ugu Jazz Festival em Margate, Port Shesptone. Organização? Honra lhe seja dada.  Ficou o convite para o VII. E diligentemente domingofar-se-á presente.

Você pode também gostar de:

Propriedade da Sociedade do Notícias, SA

Direcção, Redacção e Oficinas Rua Joe Slovo, 55 • C. Postal 327

Capa da semana