O escritor Paulo Borges Coelho lançou recentemente o romance com o título “ Rainhas da noite”. Editada sob chancela da Editorial Ndjira, a obra
A apresentação do livro foi feita pelo escritor Almiro Lobo. “A epígrafe com que João Paulo abre o livro é um alerta importante: Sempre que se tocam, é a ficção que infecta a realidade e não o contrário. Tudo passa a ser ficção. A realidade deixa de existir. A ficção é, assim, totalitária, esmagadora. Não temos escolha perante uma realidade asfixiante, a salvação parece estar em nos alimentarmos da ficção ou em vivermos na ficção. A nossa catárse colectiva far-se-á através da ficção, impossibilitados que estamos de operar todas as desejadas mudanças na realidade que devíamos viver”.
Rebuscando o historial sobre o livro “Rainhas da noite”, Almiro Lobo conta que foi na esquina da Avenida Kim Il Sung que o narrador de Rainhas da Noite afirma ter encontrado o caderno assinado por Maria Eugénia Murilo, o “diário que encerra todos os segredos” desta narrativa.
“O narrador comprou-o a um vendedor de livros nessa esquina. Interessante e sintomática é a lista de obras que o olhar do narrador fixou nessa banca improvisada: a Monumenta, o Mundo Portuguez, obras completas de Marx e Engels, opúsculos do Departamento do Trabalho Ideológico, A Ilha de Próspero de Rui Knopfli, Moçambique de António Enes, Como Age o Inimigo, e, finalmente, a caixa com os dizeres Casa Bulha-Modas e Confecções, que continha o caderno de Maria Eugénia Murilo. Tempos diferentes cruzam-se através daqueles livros. A existência de uns não canibaliza a permanência obstinada dos outros. Há uma convivência pacífica entre os livros, naquelas estantes imaginárias”.
“Uma parte importante do romance é constituída por esse caderno que, ao contrário do que o narrador afirma, não encerra todos os segredos. A outra parte, que contém segredos indispensáveis à compreensão do diário de Maria Eugénia Murilo, é constituída pelo “Prólogo” e pelas “Notas”. O enredo ou o seu conhecimento pelo narrador das “Notas” desenrola-se ao ritmo de um processo de pesquisa de informação e de saber que preencha lacunas deixadas ou sugeridas pelo caderno. Nesta busca, o narrador é co-adjuvado por Travessa Chassafar, o velho empregado de Maria Eugénia Murilo”, afirma Almiro Lobo.
João Paulo Borges, autor do livro é Doutorado em História Económica e Social pela Universidade de Bradford (Reino Unido), escritor e historiador moçambicano, docente de História Contemporânea na Universidade Eduardo Mondlane.
Recebeu em 2004, com o romance “As Visitas do Dr. Valdez”, o Prémio José Craveirinha de Literatura, a maior distinção literária em Moçambique. Com o romance “O Olho de Hertzog” recebeu o Prémio Leya 2009. A sua obra literária inclui ainda outros três romances: “As Duas Sombras do Rio” (2003), “Crónica da Rua 513.2” (2006) e “Campo de Trânsito” (2007), dois volumes da série Índicos Indícios: Setentrião e Meridião, ambos de 2005, e duas novelas – “Hinyambaan” (2008) e “Cidade dos Espelhos” (2011).