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“O Teatro em Nós” na busca da moçambicanidade

Por admin

Estudantes do curso de licenciatura em Teatro da Escola de Comunicação e Artes organizaram, por ocasião das celebrações do Dia Internacional de Teatro (27 de Março), um colóquio subordinado ao tema O Teatro em Nós integrando seminários, oficinas, debates e espectáculos teatrais.

A ideia central dos estudantes era com “O teatro em nós” juntar amantes e fazedores de teatro a dialogarem sobre a sua arte como forma de promover um intercâmbio de experiências entre diferentes agentes sociais, culturais e contribuir na reflexão sobre o teatro na sociedade moçambicana.

Com o lema “Por uma arte em constante recriação” o colóquio de cinco (5) dias contou com a participação massiva dos estudantes do curso de teatro assim como de actores de grupos amadores da cidade de Maputo e público no geral. O debate de abertura, A Construção da Personagem, teve como oradores três figuras que muito têm feito para o desenvolvimento do teatro no nosso país, como é o caso de Lucrécia Paco (actriz profissional com mais de 30 anos de carreira no Mutumbela Gogo), Victor Gonçalves (encenador português e professor de representação do curso de Teatro na ECA) e por último Angelina Chavango (actriz e professora de representação do curso de Teatro na ECA), sob moderação de dois estudantes Eunice Mandlate e Fernando Macamo.

Sobre A Construção da Personagem, os oradores foram unânimes em afirmar que o trabalho do actor visa procurar métodos ou fórmulas que lhe possibilitem a incorporação física e gestual da personagem ou agente da acção dramática. Alguns destes métodos apesar de terem sido sistematizados por autores como Stanislavski e Grotowski, ainda constituem um desafio para o actor, que muitas vezes se depara com o dilema de ter que despir-se de si mesmo e vestir o outro (a personagem).

Outro momento interessante foi o workshop sobre cenografia que durou duas horas e meia e foi orientado pela professora e cenógrafa Sara Machado. Todos presentes ficaram a saber mais sobre está arte de organizar ou ornamentar o espaço cénico, uma área muito importante no teatro. É através da cenografia que o espectáculo situa o espectador no que diz respeito ao espaço em que a cena se dá. Este espaço, naturalista ou onírico, determina a materialização que a representação pressupõe.

A importância da leitura também ocupou os estudantes e participantes no Colóquio, através de um exercício denominado Cadeira Quente. Uma conversa em torno da leitura e do seu impacto na vida dos estudantes e professores ganhou proporções interessantes dado que resultou num compromisso público assumido pelos estudantes de apostarem na leitura como forma de aprimorarem os seus conhecimentos.

Improvisação e Criação Colectiva, dirigida pela actriz Lucrécia Paco foi uma das oficinas mais concorridas. Os estudantes de todos os níveis entregaram-se de corpo e alma no exercício com resultados surpreendentes. O último dia foi dedicado ao debate sobre a Dramaturgia Moçambicana tendo como oradores os professores António Cabrita, Rogério Manjate, Victor Gonçalves e o animador cultural e director do Ntsindya, Eldorado Dabula.

Refira-se que em todas as oficinas e debates público foi convidado a intervir, e este não se fez de rogado. De forma interactiva deixou ficar os seus comentários e questões aos oradores. O que veio sublinhar o objectivo do colóquio, que se pretende regular, que consiste no intercâmbio de conhecimento entre todos intervenientes. Ficou evidente a necessidade deste tipo de espaço de reflexão não só no mês do teatro mas em várias ocasiões de modo a desenvolver e a disseminar a importância desta arte na construção da sociedade moçambicana.       

Colóquio bastante rico

– Josefina Massango, Directora do curso de Teatro da ECA

Estamos satisfeitos com a organização dos estudantes. Foi a primeira vez que dirigiram um evento desta natureza e mesmo assim fizeram-no muito bem. Foi positivo, educativo e rico. Entretanto, ainda não existe um teatro genuinamente moçambicano só há um conjunto de características e modos de faze-lo. Para que tal aconteça há necessidade de se escrever, investigar sobre o assunto, e buscar os elementos que compõe ou concorrem para o nosso teatro e depois criar uma estrutura que nos leve a identificar todas essas coisas como teatro moçambicano.

Para mim foi um renascer

– Lucrécia Paco, actriz e facilitadora

Senti-me uma pessoa renovada. Senti-me uma Fénix ressurgindo das cinzas. Modestamente esta foi uma oportunidade para eu partilhar um pouco da minha experiência de 30 anos no teatro. Foi também uma forma de homenagear aqueles que ao logo desses anos me ensinaram várias coisas. Sinto que também tenho essa missão de transmitir isso aos mais novos. A iniciativa dos estudantes foi fantástica e permitiu-me aprender outras tantas coisas.

Um espaço de libertação

– Venâncio António, estudante

Sentimo-nos orgulhosos por termos materializado esta ideia. E agora gostaríamos de realizar outros colóquios como forma de pôr as pessoas em constante contacto com o teatro e a reflectir sobre ele. Na verdade o evento foi um espaço para falar sobre quase tudo sem nenhuma hesitação. Os oradores trouxeram diversas novidades e isso leva-me a crer que este foi um espaço de libertação.

Discutimos vários aspectos                                          

– Yuki da Silva, estudante

O colóquio foi brilhante. Discutimos assuntos ligados a esta manifestação artística, trocamos experiências com diversos artistas. Não houve distinção entre actores amadores e profissionais afinal, somos todos iguais e abraçamos esta arte, então nada melhor que sentar para discutir teatro. Amo a representação e a construção de personagens. Mas também fiquei fascinado quando falamos sobre o tema “A personagem pode matar o actor”; pois muitas vezes o actor pode ser engolido pela personagem então há que saber como se livrar da personagem.

Unimos a teoria e prática

– Sabina Tembe, Estudante,

Aprendemos muito com este evento. O colóquio trouxe a unificação da terminologia e da prática do teatro. O tema “improvisação” foi muito importante para mim porque mostra como partir de uma simples palavra para uma peça.

Belmiro Adamugy e
Maria de Lurdes Cossa

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