No passado, escrevi um texto, manifestando a minha preocupação com o conteúdo de apelo sexual explícito que caracteriza as letras dos jovens, na actualidade, pese embora se trate de um tema que sempre existiu no cancioneiro moçambicano, com a diferença de que, antes, os temas sensíveis eram tratados com esmero e sem nunca ferir sensibilidades. Como exemplo, fui recuperar a canção do Eusébio Johane Tamele, Zeburani, “Tsunela Seyo/Wadla Bomu Kê”, com o alto sentido erótico e apelo sexual que a mesma carrega. Esta canção, a meu ver, é, talvez, a mais erótica, a mais apelativa sexualmente que já se produziu nos anais da música popular moçambicana, contudo, sem ferir sensibilidades, senão vejamos: A música retrata a história de um casal (dialogando), onde o marido (Zeburani) pretende ter relações sexuais com a sua esposa (Maria), mas esta se recusa porque tem um filho doente. E, é justamente por esta recusa que se desenrola todo o enredo: “Tsunela seyo a nwana a vagwaku, unga ni hulumeteli ninga ku bokola xikwembu, swa ni vavissa, mina…” (chega-te para lá que a criança está doente, não me apalpe senão te insulto, por Deus, me dói…).
Mas quando o libido sobe, não há razão que demova o homem das suas pretensões. E aqui, não se trata de negar a questão da doença do filho menor, senão de resolver a sua aflição, de tal modo que chega a ameaçar a esposa de agressão (bulatiful ningaku bhukuta, utsuka uni tsimbissa kuku pswompswa a kissi).
Quando frustrada a sua tentativa, na zanga, sai à procura de soluções fora de casa, daí que a mulher o adverte da possibilidade de contrair doenças. Na resposta, Zeburani diz, e em meio de chantagem: “mina nifamba ussiku nilava tintombi haiwena unga yala kuni nyika a bomu” (ando à noite, à procura de raparigas, como resultado de não me teres dado o limão) – o limão aqui aparece em referência ao acto sexual. Leia mais…
Metáfora em “Tsunela Seyo…” de Zeburani
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