Galerias, ateliês e salas de visitas são os locais onde normalmente encontramos obras de arte como pinturas, esculturas, xilogravuras, fotografias, entre vários formatos. Mas onde se depositam os trabalhos dos artistas nacionais para servirem a história? É no Museu Nacional de Arte. Ali estão guardadas algumas obras de artistas nacionais de alto gabarito.
O Museu fica na avenida Ho Chi Min, dois estabelecimentos comerciais após o entroncamento entre esta e a Av. Karl Max. Enquanto os carros rufavam lá longe, apresentávamo-nos serenamente para o homem da recepção, que, simplesmente, retorquiu: o Museu está fechado para o público, não recebemos visitas porque estamos sem corrente eléctrica, concluiu, contrariando as nossas expectativas.
Gorados os planos, tivemos de voltar na sexta-feira (13). Rezam as lendas que é dia de azar. Tivemos sorte. A casa estava aberta. O edifício foi pintado de branco. De longe parece uma casa normal. Para quem passa por aquelas bandas é inevitável notar que à sua frente existe o posto policial do município de Maputo.
A porta do museu, de aço e vidro, é o primeiro objecto a receber a visita. Entrámos e logo na sala de recepção uma escultura dá-nos boas-vindas. É da autoria de Samussone Macamo.
A obra, feita de sândalo, anuncia tempos de paz que Moçambique viveu após o Acordo de Roma. Foi criada na década de 1990 com o título “um povo unido”. Mais a fundo da mesma sala, a “união de forças”, do mesmo autor e feita de madeira, apresenta-nos a unidade nacional e o reconhecimento da arte de todos os artistas, com o intuito de cantar a identidade dos moçambicanos, para além dum plasma em que se assiste qualquer coisa que “não tem nada a ver connosco”.
Já nos esquecíamos. À chega fomos recebidos por Cândido Foliche, do departamento de Serviços Educativos ao nível do Museu, que ficou com a responsabilidade de nos apresentar aquele monumento.
Museu para obras nacionais
O projecto da criação de um Museu Nacional de Arte surgiu após a independência do país. A ideia era propiciar um ambiente favorável para os artistas, disponibilizando-lhes um espaço para a apresentação dos seus trabalhos.
O nosso guia, calmo e de fala pausada, contou que o objectivo era também juntar obras de artistas nacionais e não só, que pudessem contar a história do país. Segundo ele, não existia um edifício construído exclusivamente para o efeito e a solução foi indicar a antiga sede da Instituição Goano Indo-Portuguesa como a nova casa de cultura.
Naquele período, Moçambique começou a criar algumas políticas em relação à arte. Como não havia espaço, esta casa foi adaptada para responder à preservação, educação e valorização cultural.
Os critérios em termos de conteúdos que os artistas deviam apresentar tinham a ver com a beleza e a estética. Esta “norma”, prossegue a nossa fonte, criou embaraços para os artistas nacionais, que viamas suas obras colocadas de lado, quer para serem exibidas ou mesmo para conservação. Houve necessidade de se reestruturar os preceitos para se ter acesso ao museu.
“Acabou-se decidindo que deviam ser obras de artistas nacionais e que naquela altura estivessem a viver aqui em Moçambique porque era um país que acabava de alcançar a sua independência e precisava rapidamente de recuperar a sua identidade nacional”.
Esse processo levou vários anos, até que o Museu foi aberto a 18 de Maio de 1989 e, de lá para cá, nunca mais parou de funcionar.
Salas pequenas
O museu conta com três salas para exposições, uma para temporárias e as restantes permanentes. “Às vezes desmontamos uma permanente para temporária”, explica o nosso guia.
A sala de mostras temporárias encontra-se no rés-do-chão. O ambiente é tranquilo, repleta de várias obras criadas com vários formatos, desde a pintura, escultura, acrílico, técnica mista, cimento, entre outras que perfilam nas paredes daquela sala. Neste momento, possui uma expo anual, na qual são notórias obras de artistas nacionais, com destaque para “País de Pandza” de Vasco Manhiça, obra com a qual ganhou o primeiro prémio daquela casa, edição 2016, para além das vastas obras com premiações honrosas.
Outras duas salas encontram-se no segundo piso do edifício. Aqui não existe elevador, galgámos as escadas e fomos encontrar obras de nomes como Makukule,Ndlozi, Samate, Shikani, Malangatana, Chissano, Bertina Lopes entre vários que podíamos mencionar aqui. As obras, nas três salas, estão muito próximas umas das outras e o nosso guia comenta.
“A nossa expectativa é ter um museu um pouco maior em termos de infra-estrutura. Essa não corresponde na totalidade o que devia ser um museu nacional. Tem limitações em termos das dimensões, por isso nem podemos receber todo o tipo de obra. Veja que o nosso limite é quatro metros de altura. Imaginemos uma escultura de sete metros, não entra aqui”.
Em termos de acessibilidade, prossegue Cândido, o museu precisa de equipamentos que possam facilitar a circulação de deficientes físicos, como um dos desafios.
Mas não é tão simples ter acesso àquele espaço para expor trabalhos artísticos. Segundo nos confidenciou, o museu abre concursos públicos para artistas que pretendem colocar os seus trabalhos aos olhos da comunidade. Disse existir um júri que faz a avaliação das obras e seguidamente são aprovadas.
Regra geral, aquela casa de cultura privilegia exposições colectivas em detrimento de individuais, mas há excepções: “Há artistas que têm um percurso digno de ser apresentado aqui. Normalmente somos nós que convidamos a pessoa depois de uma avaliação e reconhecimento do seu percurso”.
Existe também uma sala que contém obras na reserva, que algumas vezes são expostas ao público. Actualmente, o museu conta com pouco mais de 2 mil obras.
É preciso rentabilizar a casa
Depois de apreciar as obras de arte patentes nas três salas, sentámos um pouco para apanhar ar e conversámos sobre os desafios e adesão do público para apreciar os trabalhos dos artistas. O nosso entrevistado contou que o Museu maioritariamente é visitado por estudantes durante o ano lectivo, mas no fim do ano também conta com turistas.
O museu cobra uma taxa a todos os cidadãos, excepto estudantes.“É preciso rentabilizar a casa, há exigências de manutenção do próprio edifício, daí esta necessidade de cobrar uma taxa básica. A nível nacional há alguma padronização e em termos de cobranças por parte dos que visitam. É um valor que esta dentro das normas”, referiu, acrescentando que o Museu Nacional já está a aderir às normas internacionais que regram o funcionamento daquele tipo de monumentos.
Finda a visita, deixamos aquele edifício ali estático, a espera de mais pessoas para as obras de arte que ali se encontram.