Alunos de 30 escolas primárias e secundárias de Marracuene experimentaram a grata sensação de participar de uma série de espectáculos teatrais virados essencialmente para a educação cívica.
Denominado “Quebrados”, o projecto consiste na educação e sensibilização de alunos menores de 18 anos, com o intuito de adiarem ou retardarem a sua apetência pelo álcool.
“Quebrados”, originalmente designada smashed, é um programa educacional que utiliza o teatro enquanto ferramenta de trabalho para alertar os jovens sobre o não consumo de álcool em tenra idade. Teve início no Reino Unido, há 11 anos, e foi implementado em mais de 1300 escolas e já atingiu 250 mil jovens. Ganhou prémios de boas práticas e reconhecido pelo Governo britânico.
Moçambique é o primeiro país africano a ter um projecto similar. Para a sua escolha pesou, segundo a alta comissária do Reino Unido, Joanna Kuennesberg, as tradicionais relações de cooperação existentes entre os dois países, sendo a área da Educação exemplo dessa experiência, sendo um dos exemplos a British Council. O projecto envolve o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, a British Council e DIAGEO, uma empresa que mundialmente lidera o ramo de distribuição de bebidas alcoólicas.
O método de dissuasão escolhido é a exibição de peças teatrais retratando os malefícios e as implicações das bebidas alcoólicas quando o seu consumo é iniciado precocemente, que vão desde o adiamento da formação, com a falta de emprego como consequência directa, danos físicos e de natureza psíquica que poderiam ser evitados se o álcool não tivesse tido prioridade nos jovens.
A escolha de escolas de Marracuene foi justificada pelos promotores da iniciativa como estando aliada à localização do empreendimento que patrocina esta iniciativa. “Preferimos começar por onde estamos para mais tarde abarcarmos outros lugares”, disse aquando do lançamento do projecto, o director-geral da DIAGEO, Miguel Soto.
Com o teatro pretende-se aliar a diversão à reflexão, educando-os ao mesmo tempo a fazer as melhores escolhas. Para além deste meio de comunicação, outra estratégia adoptada pelos promotores do projecto é a distribuição de material desportivo com o qual os jovens irão se ocupar fora das aulas e ficarem cada vez mais distantes dos vícios.
Os trinta espectáculos da fase – piloto do projecto abrangeram um universo de cerca de 45 mil crianças, entre estudantes e outros curiosos.
Importa referenciar que grande parte das escolas são laeadas por barracas que, entre outros produtos, vendem bebidas alcoólicas facto que, sem dúvidas, representa um risco considerável para as crianças e jovens.
“Quebrados” foi visto por alunos de escolas como GwazaMuthini, EPC Nhongonhane, Externato Albert Einstein, EPC Filipe Samuel Magaia, EPC 2 de Fevereiro, EPC 12 de Outubro, EPC Michafutene, EPC Mbalane, EP1 Joaquim Chissano, EPC Centro Educacional, entre muitas, para alegria das crianças. Para além das peças teatrais, havia também espaço para jogos interactivos entre outras actividades lúdicas.
A peça foi dirigida pela encenadora Maria Atália e interpretada pelos actores Dadivo José, Orlando Govo e a própria encenadora, com acompanhamento musical de Samuel Jaime, conta de forma bem-disposta como os meninos podem e devem enfrentar o consumo de álcool, adiando para a idade adulta e responsável o seu consumo; afinal o objectivo central é alertar os jovens(nas idades entre os 12 – 13 anos) sobre os perigos do consumo de bebidas alcoólicas.
Sabe-se que o álcool, avança silenciosamente, atingindo principalmente crianças e adolescentes. A falta de limite dos pais e o fácil acesso, além das tímidas campanhas de prevenção, fazem com que o consumo de cerveja, vinho, uísque e outras bebidas aumente consideravelmente entre os jovens.
“Quebrados” é mais um exemplo de luta que, usando a arte, visa evitar que esse universo de crianças consumidoras de álcool floresça nas escolas. Os perigos do consumo excessivo de bebidas alcoólicas são de domínio público, e vão desde distúrbios psico-motores até as doenças como problemas hepáticos e renais, além de tornarem os adolescentes violentos.
A série de imagens que ilustram esta reportagem mostram parte das actuações dos artistas e da grande adesão das crianças e professores no projecto. Calcula-se que 45 mil pessoas viram os “Quebrados” em Marracuene.
Belmiro Adamugy