Dedicou toda vida ao Ghorwane, banda na qual é guitarrista e vocalista desde 1984. Aqui, ganhou destaque… teve êxitos e fracassos. Trabalhou ao lado de figuras memoráveis como Zeca Alage, no álbum “Majurugenta”, e Pedro Langa, em “Kudumba”.
Após a morte destes artistas assumiu a liderança vocal, trabalhou em “Vana Va Ndota” e vem espalhando o seu talento e magia pelo país e além-fronteiras.
Actualmente, Roberto Chitsondzo decidiu brindar-nos com um álbum a solo, mas apartar-se do grupo está distante dos seus pensamentos.
Em conversa decorrida na sua residência, nos arredores da cidade de Maputo, Chitsondzo revelou aodomingo que pretende partilhar as suas vivências em família e com amigos.
Designado “Kwiri la Mamani” (Ventre da mãe), o álbum versátil é o lado B do badalado músico moçambicano que busca ritmos como tufo, blues, jazz, rap, entre outros, para misturá-los com a sua marrabenta.
O World Music (música do mundo) é o resultado desta miscelânea de ritmos patente no álbum, ainda em produção.
“Quero fazer Música do Mundo, que não tenha características únicas, para que o cidadão universal não se sinta deslocado”, disse.
Durante a conversa, algumas músicas soavam do seu tablet preto(um tipo de computador portátil, de tamanho pequeno e de fina espessura). A primeira “bomba” que ecoou aos nossos ouvidos é “Hafa” (estamos a morrer) resultante da fusão de marrabenta, jazz, tufo e rap. O resultado é excepcional.
A música exala boa qualidade. Nela ouve-se o rouquejar da guitarra do inconfundível Jimmy Dludlu. Também cantam as “Muthianas Oreras”: as donas do tufo. Foi igualmente convidado a passear a sua classe o rapper “Flash”.
O projecto do disco, segundo Chitsondzo, é caseiro, pois surgiu da necessidade de o artista trazer aos outros a sua alegria em família e com amigos. “Decidi gravar aquilo que fazemos e que por vezes achamos que não tem valor. Trago o resultado do acaso. Aquilo que faço em família e com amigos de forma espontânea, sobretudo aos domingos”, chutou.
De seguida chegou-nos o “Waxukuvala” (Tristeza), que resultou da prosa “A solidão do senhor Matias” retirada da obra “A Orgia dos Loucos”, do escritor moçambicano Ungulani Ba ka Khosa.
Ivan, filho de Roberto Chitsondzo, também participou da mesma. Toca viola solo. A música tem ritmos como marrabenta e rock. Anima o ouvido.
Chitsondzo afirmou que no disco, cujo título homenageia a mulher pela sua responsabilidade social, procurou ser diferente, pois “olhei para a minha idade e determinei que não podia só divulgar um álbum. Isso é normal. O mesmo tinha de ter outro tipo de condimentos”.
“Dondza”(Estude) é outro tema que tivemos a oportunidade de ouvir. No mesmo Chitsondzo mostra a sua sensibilidade em relação ao futuro das crianças convidando-as a valorizarem a escola, que é a maior garantia do sucesso na vida. “Há um verso que adaptei só para elas, recorrendo às palavras do Presidente Samora. Convidei os meus netos para o interpretarem. A mensagem é para crianças, as vozes tinham de ser delas”.
Aos 25 minutos da nossa conversa, o artista deu-nos um outro “cheirinho”. Desta vez era um ritmo que remete ao blues. Moreira Chonguiça faz parte. Foi convidado a dar um sopro ao saxofone. Fê-lo com mestria. Intitulado “Muhundze” (Passageiro) o tema visa louvar a Deus e recordar as pessoas sobre a necessidade de serem humildes e honestas.
“Lirandzo” (Amor) é título de uma outra música. Trata-se na verdade de uma jura de amor simples mas que desarma os corações. Tem a participação de Yolanda Chicane, da banda Kakana.
Segundo o nosso entrevistado, buscar uma prosa de Ungulani, ter o seu filho a tocar viola solo, a participação da sua esposa, netos e amigos do Ghorwane no seu álbum são motivos de muita satisfação.
Apesar de já ter cerca de 16 temas gravados, Chitsondzo revelou ao domingo que ainda não tem previsão do lançamento do novo álbum. Mas garante: “as canções deste álbum poderão causar conversas entre amigos, famílias. E acho que as pessoas irão gostar”.
Destacou ainda a participação no álbum de Fadir (viola solo), Nando (viola baixo), Simão (bateria), Samito (percussão), Childo Tomás (viola baixo), Nelton Miranda (teclado e baixos), Capelo (teclados), Ernesto Zevo (o homem do bandolim), Muzila (saxofone barítono), Tina, esposa de Roberto Chitsondzo, e Zinha, cunhada, (vozes), entre outros.
UM LIVRO PARA COMPLETAR
Roberto Chitsondzo não vai cingir-se ao lançamento do álbum a solo. Quer ser inédito. E por isso decidiu igualmente ter um livro. Uma biografia. O mesmo será divulgado aquando do lançamento do disco. Segundo nos segredou, intitula-se “Entre encantos e sortilégios”. Foi escrito por Cremildo Baúle.
Diversas pessoas com quem cruzou ao longo destes anos, nas lides musicais e não só, deixam um parecer sobre o artista na obra. “As pessoas escreveram o que pensam a meu respeito. Isso alegra-me. Sinto-me mais ou menos privilegiado. No entanto, até o momento não sei o que disseram. Irei ver no lançamento”, avançou.
Refira-se que, Chitsondzo fez-se aos grandes palcos pela primeira vez ao lado de Alexandre Mazuze. Era seu corista. Segundo conta, aquele exímio músico também teve uma influência na sua carreira. “Aprendi dele que antes de se fazer ao palco o músico precisa sempre de aprumar-se. Afinal a imagem também conta. Mas muito mais do que isso me revelou que é preciso ser competente. Pois só assim chegaria longe”, rematou.
PÚBLICO ENGANADOR
Actualmente, surgem cada vez mais cantores e, diferente dos anos passados, já há locais para sua formação. Chitsondzo alegra-se com o facto. No entanto, mostra-se preocupado ao ver que alguns dos mais novos não reconhecem a dinâmica que as pessoas da sua época trouxeram à música moçambicana. “O que alguns cantam não é novidade. Já foi antes cantado e dito por outros. Portanto, há necessidade de sermos mais respeitados. Só assim levarão o barco a bom porto”, apontou.
Chitsondzo falou ainda da existência, no país, de um público que aplaude o implausível. O público enganador. Segundo ele “este tipo de público faz com que fiquemos confortáveis. Achando que somos bons, quando ainda precisamos de aprender. Mas só verificamos isso quando há oportunidade de participar em festivais internacionais e não obtemos sucesso. Lá ninguém engana. Impressionam-se só com os bons”, frisou.
Aliás, deixou também alguns apontamentos para todos músicos. Bons e maus. Na sua opinião é importante que se tenha vontade de melhorar sempre e trabalhar-se para tal. Ninguém atinge a perfeição sem trabalho, assim o diz.
“Temos bons escritores que nos podem dar muita literatura. Porque é que não usamos isso? Porquê continuar a fazer músicas com conteúdos não educativos? Precisamos mudar e capitalizar todos recursos existentes ao nosso favor” concluiu.
Texto de Maria de Lurdes Cossa
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