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Celebração da amizade

Por admin

"Quando as teias de aranha se juntam, elas podem amarrar um leão."- Provérbio africano

“Quantomenos comes, bebes, compras livros e vais ao teatro, pensas, amas, teorizas, cantas, sofres, etc., mais economizas e mais cresce o teu capital. És menos, mas tens mais” – esta frase, simples, mas prenhe de significado, é de um pensador insuspeito; Karl Marx. E busco-o tão-somente porque me identifico com este pensamento no que diz respeito ás artes. Afinal, foi mesmo a arte que, no final da década 80, fez com que o meu caminho cruzasse com o do Labing, oficialmente Abdil Juma. Coisas da vida…

Hoje, desafia-me o Labing a apresentar o disco Mahanhela. Como é que se apresenta um disco? Questionei-me. Há minutos acendeu-se uma luz: pega-se o disco e apresenta-se. Assim como estou a fazer. E já está.

Tenho para mim que, mais do que o lançamento de um disco ou uma singela homenagem ao Abdil Juma, este é um momento em que celebramos a amizade porque, por intermédio deste, vamos abraçar todos os que, ao longo desses 25 anos, trabalharam com ele. As peças não as fez sozinho: actores, técnicos, encenadores são, por assim dizer, envolvidos e homenageados nesta festa.

Costumo dizer que a modéstia, quando é excessiva e se aproxima do acanhamento, ao qual no mundo se chama falta de uso – pode ser num homem quase defeito inteiro. Na mulher é sempre virtude, realce de beleza disfarce de fealdade. Nalgum momento – até porque temos idade para isso – pode nos dar ao luxo de dizer algumas coisas; podemos dizer que no nosso tempo é que era bom… que erámos bons actores”.

A nossa imaginação ultrapassa fronteiras. A Cena Aberta, serviu de bálsamo em noites escuras. As peças vão do final da década 80 até ao início dos anos 2000. Pode-se dizer que é a história do país ali plasmada. Fazem parte do Mahanhela as peças: As Terras, Bila O Cego, Abraço ao Seropositivo, A Viagem, Rofina, Os Meninos de Rua eO Sofrimento Triangular. Um aspecto comum atravessa as 9 peças de um universo de perto de uma centena que Abdil escreveu ou dirigiu; a preocupação educativa e social. Mesmo quando a comédia impera, ela visa um bem maior do que a simples gargalhada: visa buscar o que há de melhor no ser humano. Há uma lição que, longe de ser moralista, propõe soluções para problemas do dia-a-dia. Temos neste rol de peças, temas como saúde, acção social, higiene e meio ambiente; as relações interpessoais entre outros aspectos. Há, na obra de Abdil Juma uma pequena parte do nosso vasto Moçambique. Uma parte de nós está lá… cada um com a sua singularidade.

O programa radiofónico “Cena Aberta” já foi líder de audiências no nosso país. Só para terem uma ideia do sucesso que era, eu mesmo já escapei de uma multa policial só porque o agente reconheceu a minha voz. Em Xai-Xai, num evento cultural em que por acaso estávamos juntos, também ganhamos um jantar oferecido por um senhor que reconheceu as nossas vozes. Não há prémio maior do que esse; de as pessoas reconhecerem o trabalho que desenvolves.

Há um provérbio africano que em muito traduz esta cerimónia: As tatuagens nas costas são conhecidas daqueles que as executam (não de quem as traz.). Assim é o trabalho criativo. O juízo final cabe aos receptores.

Obrigado!

P.s. Mensagem apresentada na cerimónia de lançamento

do disco de radiodrama “Mahanhelo”

de Abdil Juma na Mediateca do BCI Joaquim Chissano

Belmiro Adamugy
belmiroa.damugy@snoticias.co.mz

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