O professor e pesquisador António Cipriano Gonçalves lançou, recentemente, um livro que reflete sobre o ensino técnico-profissional e a justiça educacional.
A obra intitulada “A Educação Politécnica e a Escola do Trabalho em Moçambique: Novas e Velhas Falácias Pedagógicas” sai sob chancela da CEC –Centro de Estudos Interdisplinares de Comunicação.
O livro faz uma reflexão sobre a proliferação das escolas técnico-profissonais no país. O autor considera que as escolas “estão apenas a formar indivíduos para se integrarem no sistema capitalista e dentro das relações de exploração. Facto que não está relacionado com o objetivo da técnica, cuja ideia é a introdução do trabalho na escola como princípio pedagógico, organizador das atividades”.
Recorrendo à motivação central para fazer o estudo, a justiça educacional, o pesquisador faz um apelo para que se evite esta forma de pensar a educação no nosso país e mostra que este ensino está “supostamente” voltado a um certo mercado e que resulta nas Falácias pedagógicas.
A obra também explica o que é educação politécnica mostrando as dificuldades de construção de conceitos partilhados sobre as categorias de trabalho, teoria, prática e praxes. E tudo acaba levando a continuidades involuntárias e insuspeitas ao longo da história e do aspecto ideológico da educação politécnica.
“Não é com o ensino de ofício nas escolas e nem são as cadeiras profissionalizantes no ensino médio que ajudarão a resolver o problema de desemprego. Acho que a formação prática deve ser abrangente. Que façamos uma escola onde podemos, de uma forma orgânica, articular de um lado a formação geral (cultura geral) e de outro lado a formação profissional”, refere António Cipriano Gonçalves.
Gonçalves considera ainda que o problema reside também no facto de ter-se o trabalho como prática, quando na sua forma antropológica é uma actividade transformadora. “A educação moçambicana deve possibilitar que cada um compreenda que é pelo seu trabalho que pode transformar a si próprio e a sociedade na qual vive. E não olhar na dimensão material”, frisou.
A apresentação do livro foi feita pelo professor universitário José Macuane. Na ocasião referiu que a obra mostra o paradoxo do crescimento do número de instituições de ensino, principalmente estimuladas na ideia de que precisa-se produzir pessoas para o mercado. Porém, o mesmo mercado não tem a capacidade necessária para absorver os formandos e criticar a sua qualidade.
Macuane acresceu que parece se estar a repetir a ideia de um ensino que está a contribuir para reproduzir as relações de exploração, retirando a essência de ligação entre o pensamento reflexivo e a parte prática que é o elemento importante. “Um indivíduo que apenas faz e não pensa no que faz, não enquadra o que faz dentro do contexto das relações sociais, naturalmente que não pode ser agente de transformação social e muito menos um sujeito da história”.
O livro é resultado de um desafio proposto ao autor pela sua co-orientadora no mestrado. Entender o que é a politécnia em Moçambique, as diferenças entre a proposta nacional dos demais países que se orientaram pelo socialismo. Segundo o autor, o interesse dela era pesquisar a especificidade dos países que adoptaram o socialismo com relação à resposta educacional.
No entanto, António Cipriano só depois do mestrado ganhou mais interesse pelo assunto. Passou a trabalhar mais os conceitos, e aprofundar mais a problemática. Tendo analisado o ensino dos ofícios, e a introdução de cadeiras profissionalizantes no ensino médio.